Trumbicou-se

Trumbicou-se

Germano Oliveira: "De forma errática e sem fazer mea-culpa, Lula finalmente autorizou Haddad a liberar o pacote, mas desidratando-o o quanto pode"

Por Germano Oliveira

Como dizia José Abelardo Barbosa, o Chacrinha, um dos gênios da comunicação de massas, “quem não se comunica, se trumbica”. Essa máxima, criada pelo “velho guerreiro” nas décadas de 1960 e 1970, orienta até hoje o marketing de grandes companhias e também dos governos. Lula sempre soube disso, tanto que, nos seus dois primeiros governos, a comunicação funcionou. A economia dava certo até quando o então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, subia os juros para frear a inflação e ninguém reclamava. Nem o presidente. Foi na toada de Meirelles que a economia não saiu dos trilhos e chegou ao final do segundo mandato com um crescimento de tigre asiático, em torno de 10%.

Mas, afinal, o que aconteceu com Lula, que, nestes dois primeiros anos do terceiro mandato, a economia deu um nó, registrando alta inflação, juros nas nuvens, déficit fiscal elevadíssimo e risco de uma grande crise econômica no horizonte? Ele não aprendeu nada nos dois primeiros governos? Por ora, ele culpa a comunicação pelo descontrole da economia e substituiu seu ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, que, para ele, não soube divulgar bem as coisas boas do governo.

Isso não é verdade. A economia não está indo bem porque o presidente resistiu enquanto pode para aprovar um pacote de corte de gastos que era o que estava inviabilizando o ajuste fiscal: não se pode gastar mais do que se ganha, é elementar. Lula, e parte do PT, fizeram de tudo para impedir que Haddad avançasse no corte de gastos. Levaram meses empacando a vida de Haddad, que a cada dia que passava sem enviar o plano ao Congresso, mais se desgastava com o mercado.

De forma errática e sem fazer mea-culpa, Lula finalmente autorizou Haddad a liberar o pacote, mas desidratando-o o quanto pode. Isso arranhou a imagem do governo. E, até aí, Pimenta não teve culpa alguma. Pior. Na véspera de anunciar o plano de corte de gastos, Lula autorizou o secretário da Secom a dizer que o governo estava isentando de Imposto de Renda quem ganhasse até R$ 5 mil, um bálsamo para a classe média, que, no dia seguinte, teria que engolir cortes em aposentadorias e outras vantagens mais, num total de R$ 50 bilhões. Partiu de Lula obrigar Pimenta a fazer esse anúncio.

O problema é que quando o enxuto projeto de redução de despesas foi anunciado, o mercado logo mostrou que o plano era insuficiente e que ele não resolveria o déficit fiscal. Todos passaram a detonar a iniciativa do governo, inclusive petistas ligados a Haddad. O fato é que o mercado deu início um processo de aumento do dólar, alimentado pelo fiasco do plano, pelos resultados da inflação e previsões de alta dos juros.

E a culpa foi jogada em Pimenta, trocado por Sidônio Palmeira. Lula não se comunicou como devia e se trumbicou.