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Conheça a nova estratégia de comunicação do governo. Agora vai?

Conheça a nova estratégia de comunicação do governo. Agora vai?

Marqueteiro Sidônio Palmeira, que entra no lugar de Paulo Pimenta: missão de integrar os vários braços do governo

Por Viviane Monteiro

RESUMO

● Demissão do ministro Paulo Pimenta, esperada desde o final do ano passado, dá início à reforma ministerial
● A articulação de Lula será concluída após às mudanças das lideranças no Congresso
● O presidente já está costurando as alianças para sustentar sua candidatura à reeleição

A conta da baixa popularidade de Lula foi paga pelo ministro da Secretaria da Comunicação Social da Presidência (Secom), Paulo Pimenta, que sai desgastado e com poucas chances de se viabilizar como candidato do PT ao governo do Rio Grande do Sul em 2026. Em seu lugar foi nomeado o marqueteiro Sidônio Palmeira, no primeiro movimento do presidente neste ano para dar curso à reforma ministerial que deve ganhar força a partir de fevereiro. Lula está de olho na recandidatura em 2026, que passa antes pelas sucessões no comando da Câmara e do Senado, no redesenho da Esplanada e nas mudanças em seu modelo de governo, que deve se deslocar mais para o centro-direita para atender um Centrão empanturrado de votos no ano passado e cada vez mais ávido por espaço no Poder.

Apesar de contar com indicadores a seu favor, apontando queda na pobreza extrema, crescimento econômico e aumento do PIB, os resultados não repercutiram de forma positiva na imagem de Lula que, segundo as pesquisas, sofre queda de popularidade desde a posse, especialmente com a volta da inflação dos alimentos.

Lula diz que fez mais nos dois primeiros anos de seu terceiro mandato do que nos oito dos dois primeiros governos, entre 2003 e 2011, mas que os resultados não chegaram à ponta por falhas na comunicação. No congresso do PT, em dezembro, o mandatário colocou Pimenta na frigideira. “Há um erro no governo na questão da comunicação e sou obrigado a fazer as correções necessárias para que não possamos reclamar de que não estamos nos comunicando bem. Não estamos conseguindo colocar as coisas que nós estamos fazendo”. Era o sinal de que Pimenta já estava esturricando na frigideira.

O marqueteiro Sidônio, em suas primeiras conversas com jornalistas, destacou falhas na comunicação do governo e classificou a nova empreitada como “grande desafio”. A prioridade será a atuação em redes sociais do governo, hoje campo dominado pela direita e sob os cuidados da primeira-dama Janja da Silva. “A comunicação não pode ser analógica, as coisas têm que chegar na ponta. Vou fazer o máximo possível para informar e manter a transparência que esse governo tem. Eu faria até um paralelo: estamos começando o segundo tempo.”

O marqueteiro avalia ser necessário integrar comunicação de todos os órgãos do governo para que as ações cheguem ao conhecimento da população. “O que a gente precisa que aconteça? Há uma expectativa grande com o governo, a gestão e a percepção popular. Precisamos alinhar essas três coisas”, observou. “É importante também que a gestão se comunique com as pessoas que estão sendo atendidas.”

Com influência no PT da Bahia, o marqueteiro:
● foi responsável pela campanha presidencial de Lula em 2022,
● trabalhou nas campanhas vitoriosas do ministro da Casa Civil, Rui Costa e do líder do governo, senador Jaques Wagner na Bahia,
● além de ter feito a campanha de Fernando Haddad na corrida presidencial de 2018, quando o ministro perdeu no segundo turno para Jair Bolsonaro (PL).

Formado em engenharia, o marqueteiro entrou para política ainda na Universidade Federal da Bahia (UFBA), quando era líder estudantil. Chegou a vice-presidente do Diretório Central dos Estudantes entre 1981 e 1982, em uma chapa ligada ao PCdoB, junto com a atual deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA). Foi para a comunicação após a faculdade e compôs a equipe de campanha de Lídice, em 1992, pelo PSB, à prefeitura de Salvador. Ela acabou eleita a primeira mulher para o cargo.

Sidônio Palmeira já vinha atuando nos bastidores do governo: dirigiu os vídeos em que o presidente apareceu junto com Haddad e o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo e o anúncio televisivo do pacote de ajuste fiscal. Além disso, o marqueteiro também esteve presente na última reunião ministerial do ano passado, um sinal de que já se colocava para substituir Pimenta.

A influência de Janja

Na semana que vem haverá uma transição, com a equipe do marqueteiro assumindo funções na pasta.

● Ele deve levar para a secretaria-executiva da Secom o publicitário Thiago César, que chefiou a campanha do deputado federal Zé Neto (PT-BA) à prefeitura de Feira de Santana (BA).
Outro que deve acompanhar Sidônio é o publicitário Paulo Brito, que trabalhou com ele na campanha de Lula em 2022.

A pasta da Secom sob a liderança de Paulo Pimenta sofria influência do grupo de Janja e também de Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial de Lula e secretário de Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual na pasta.

Aliados acham que um dos prováveis embates do marqueteiro será fazer a comunicação avançar sem se chocar com a primeira-dama, que divulga postagens nas redes através da Secom. Ela conta com o apoio da cientista social Brunna Rosa Alfaia, que ocupa o cargo de secretária de Estratégia e Redes e tem o papel de identificar “oportunidades de promoção e eventuais riscos de imagem”.

O novo marqueteiro explicou que os problemas são, na verdade, do governo como um todo e se dedica à elaboração de um modelo que integre as diferentes áreas da administração. Haddad parece satisfeito com os ajustes na comunicação, na economia e mais firme na gestão fiscal. “Poderemos chegar bem a 2026, espero, comendo até filé mignon”.