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Perdidos no espaço: quando Suni e Butch vão voltar do cosmos?

Sunita e Barry, dois astronautas americanos que ficariam apenas uma semana na Estação Espacial Internacional em missão pela NASA, já somam seis meses e sua volta segue indefinida, com promessas para março, abril...

Crédito: Divulgação

Sunita Williams, 58 anos, casada: "esquecida no espaço" (Crédito: Divulgação)

Por Denise Mirás

O que esperar de um astronauta que vê sua “semana” de missão se transformar em meses, com possibilidade de se estender a um ano? Sunita Williams e Barry “Butch” Wilmore estão passando por isso e, além das questões físicas, a NASA pode estender seus estudos sobre comportamento humano no espaço, ainda mais agora que já traça metas sobre lançamento de voos tripulados a Marte, com distância a ser percorrida em três anos e riscos de perda na comunicação com a Terra.

Sunita, 58 anos, casada, e Butch, 61, casado e pai de duas filhas, os dois enviados à Estação Espacial Internacional (EEI) em 5 de junho de 2024 pela NASA, continuam sem data de retorno – um teste extremo de estresse, sobretudo para as suas capacidades psicológicas para enfrentamento de adversidades.

A cápsula Starliner em que viajaram apresentou problemas na propulsão e, sem garantia de segurança, foi trazida vazia de volta à Terra. Desde então, os dois seguem no espaço: sua mensagem mais recente, em conjunto com outros nove tripulantes da EEI, americanos e russos, foi um “Feliz Natal” em 25 de dezembro.

● Há uma década, a Boeing e a SpaceX (de Elon Musk) foram contratadas pela NASA para fornecer naves espaciais que levassem astronautas até a EEI.
● Com anos de atraso, finalmente Sunita e Butch seguiram para o primeiro voo tripulado da Starliner, da Boeing.
● Com a pane detectada, a opção da NASA foi por trazer a cápsula vazia em setembro e enviar a missão Crew-9, da SpaceX, com dois astronautas em vez de quatro, com dois lugares para trazer Sunita e Butch depois que a cápsula ficasse acoplada à EEI até fevereiro.
● Mas, agora, a NASA diz que deve aguardar a preparação de uma nova cápsula da SpaceX – e a chegada da Crew-10, ainda sem data a ser lançada -, para só então fazer o resgate dos dois americanos pela cápsula da Crew-9 (o que deve ficar para abril).
● Há ao menos a garantia de que a EEI foi reabastecida em novembro com água, comida e oxigênio.

Problemas à saúde

Na corrida pela exploração interplanetária que já tem japoneses, chineses e indianos, além de russos e americanos (agora em clara disputa entre Boeing e SpaceX), os cientistas procuram formas de proteger ainda mais os astronautas.

Apesar de preparados por equipes multidisciplinares para enfrentar, em média, seis meses de gravidade perto de zero, sofrem perda óssea de até 1,5% a cada mês e alterações em todos os sistemas do corpo, com aceleração no envelhecimento.

A exposição à radiação espacial ainda atinge o DNA, o que leva a risco de câncer e outras doenças como problemas nos rins pela alteração de minerais e na visão, que pode se tornar desfocada pelos fluidos que sobem à cabeça e pressionam os olhos. Essas preocupações fazem parte de estudos publicados pela revista Nature (caso do Twins, comparando dados do americano Scott Kelly, que ficou um ano na EEI, com os de seu irmão gêmeo Mark, que permaneceu na Terra).

Suni (alto) e Butch (acima): sem passagem de volta para a Terra, a expectativa passou para ao menos dez meses no espaço (Crédito:Divulgação)

Mas também a preparação psicológica se torna fundamental, com missões mais extensas em distância e duração. O Johnson Space Center, da NASA, estuda diários de marinheiros esquecidos no Polo Sul nos anos 1900 e usa a Inteligência Artificial para “gerar companhia” em vivências dentro de um laboratório de isolamento com ambiente semelhante ao de Marte por até um ano, testando candidatos que suportem tensão mental extrema.

Para o médico e piloto Rolland Duarte de Souza, coordenador e professor de Pós-Graduação em Medicina e Saúde Aeroespacial da Escola Superior do Ar, um astronauta passa por um processo tão longo e exigente de treinamento, que o torna preparado para “quase” tudo, como a situação inesperada para Sunita e Butch.

“Em solo, no Centro de Controle de Missão da NASA, uma equipe multidisciplinar trabalha de forma uníssona, com apoio médico e psicológico ininterrupto, visando a segurança e o bem estar dos astronautas e o sucesso da missão espacial”, diz o médico. “Mas, por mais que se esteja preparado, será sempre uma surpresa, com um desafio físico, e, principalmente mental.” O que pode ajudar, como destaca o médico, é que os astronautas praticamente não têm “tempo livre” na EEI, com múltiplas tarefas e experimentos científicos para acompanhar, além das atividades físicas diárias e obrigatórias.

Na volta, continua o médico, todo astronauta passa por um período de readaptação ao ambiente gravitacional terrestre, com rigoroso acompanhamento médico e multidisciplinar, para serem minimizados os efeitos do ambiente de microgravidade espacial a que estiveram expostos. “Via de regra, quanto mais tempo permaneceram no espaço, maior será o tempo para se readaptarem.”