Economia

Indústria nacional de calçados cresce apesar do dumping internacional

Indústria de calçados se recupera de abalos sofridos nos últimos anos, entre eles concorrências com dumping e efeitos da tragédia no Sul do País. Setor deverá produzir 904 milhões de pares em 2025 e retomar fatia de mercado cedida a importados

Crédito: Divulgação/Indústria Beira Rio

A gaúcha Beira Rio: setor, quinto do mundo, movimenta R$ 33 bilhões por ano no País (Crédito: Divulgação/Indústria Beira Rio)

Por Melina Guterres

A indústria brasileira de calçados sofreu abalos nos últimos anos, entre eles a concorrência estrangeira com dumping e os efeitos das enchentes no Sul. Mas, felizmente, se recupera com a força e a firmeza de maior setor do Ocidente e quinto do mundo, atrás apenas de países asiáticos. Um setor que gera mais de um milhão de empregos diretos e indiretos e movimenta aproximadamente R$ 33 bilhões por ano, pelos cálculos da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) em 2023.

A produção no País em 2024 foi estimada em 890 milhões de pares, aumento de mais de 3% em relação ao ano anterior. “Estimamos para 2025 uma produção de 904 milhões de pares, com 15% destinados à exportação para vários países, entre eles EUA, Argentina e Paraguai”, afirma Haroldo Ferreira, presidente da Abicalçados. O consumo aumentou 9% até setembro de 2023, mas a produção cresceu apenas 4,8%, deixando grande espaço para produtos importados.

O governo brasileiro adotou medidas antidumping e cobrança de impostos em pequenas importações, entre elas a Taxa das Blusinhas. Estabeleceu por lei alíquota de 20% para compras internacionais de até US$ 50 (R$ 304,5) e 60% na faixa entre US$ 50,01 e US$ 3.000 (R$ 18,31 mil). “Aliviou, mas ainda não é suficiente para competirmos em igualdade de condições. Pagamos muito mais impostos e temos custos de produção cerca de 40% maiores que os dos asiáticos”, afirma Ferreira.

As importações de calçados da China estão sujeitas a tarifa antidumping de US$ 10,22 por par. A crescente importação da China, Vietnã e Indonésia ainda preocupa o setor. Ferreira enfatiza que a falta de ratificação de convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) pelos asiáticos coloca a indústria nacional em desvantagem.

Contra o dumping

Quando as medidas antidumping foram aplicadas contra a China, as exportações chinesas praticamente cessaram, mas os produtos continuaram a vir do Vietnã e Indonésia. Agora, com algumas empresas chinesas recebendo isenção de tarifa, a China voltou a exportar grandes quantidades. “Não conseguimos competir com os custos asiáticos. Precisamos de condições justas. Estender as medidas antidumping para Vietnã e Indonésia é fundamental”, reivindica Pedro Bartelle, CEO da Vulcabrás, que emprega mais de 20 mil pessoas.

(Divulgação)

“Estimamos que cerca de 15% da produção total de calçados do País em 2025 serão destinados à exportação para vários países, entre eles EUA, Argentina e Paraguai”
Haroldo Ferreira, presidente da Abicalçados

Há também desafios internos. Roberto Argenta, presidente da gaúcha Calçados Beira Rio, com 25 mil empregados, enumera dificuldades: “Sofremos com aumento de impostos, reoneração da folha de pagamento e juros elevados. Nossas fábricas no Vale do Taquari (RS) tiveram perdas significativas nas enchentes.” Apesar dos desafios, ele espera crescer 5% em 2025.

No varejo, José Carlos Oliveira, gerente de compras das lojas Eny, Santa Maria (RS), identificou impacto positivo da proteção ao setor. “Em outubro de 2023, nossas vendas aumentaram 19,1% em comparação com o mesmo período do ano passado”.

Tadany Cargnin, administrador de empresas e consultor internacional, salienta a importância das tecnologias: “A China detém grande potencial de automatização e robotização. Ferramentas como IA ajudam a produzir calçados de qualidade e competitivos”.

Ricardo Gracia, diretor da Kidy, concorda: “precisamos fortalecer marcas Made in Brazil e ampliar medidas antidumping para outros países”. É a indústria de calçados na luta para tornar cada vez mais firme o solo em que pisa.