Ciência e tecnologia terão ano de perigos e promessas
O ano é promissor para muitos avanços na Ciência e Tecnologia, principalmente ligados ao aprimoramento da Inteligência Artificial. Infelizmente existem muitas brechas e também predisposição para o mau uso
Por Luiz Cesar Pimentel
Não é preciso recorrer à futurologia para se cravar que as inovações científicas e tecnológicas para 2025 caminharão lado a lado com o avanço da capacidade da Inteligência Artificial. Mas dá para antecipar que no ano que chega as áreas mais promissoras em avanço são a biotecnologia e a cadeia de saúde, a sustentabilidade, a educação e os negócios.
Em relação a negócios, os principais progressos esperados para 2025 não se restringem aos monetários, mas com um caráter mais abrangente e humano, com a criação de novas oportunidades de emprego em setores como saúde, finanças e manufatura. Pelo lado das empresas, estas tendem a investir nas soluções tecnológicas que promovam tanto eficiência logística e operacional quanto a oferta de experiências personalizadas para clientes.
Como um dos efeitos positivos da pandemia, a biotecnologia se beneficiou dos progressos da IA e abriu um campo de oportunidades promissoras no tratamento preventivo de doenças, especialmente com desenvolvimento de novos medicamentos, terapias e vacinas.
O Brasil abre uma frente com a vacina contra a dengue colocada em prática — notícia importante para o País que bateu recorde de casos em 2024. Para ir além, novas formas de colaboração entre universidades e indústrias estão sendo colocadas em prática.
Sobre outra situação de consternação e consequências globais, as mudanças climáticas, esperam-se inovações na abordagem daquele que passou a ser o tema central de combate à asfixia planetária: a sustentabilidade. Tecnologias verdes e soluções em energia renovável, como solar e eólica, obrigatoriamente se tornarão mais acessíveis para o bem comum. A transição energética demandará novas formas de armazenamento de energia, que criarão maior integração das fontes renováveis à matriz.
Os avanços em todos os setores já citados exigirá reformulação de base, especialmente na formação de profissionais para trabalharem as inovações que se anunciam. Ciência da computação, engenharia de software e cibersegurança não só se tornarão cada vez mais procurados como devem abrir novos campos para habilitação no mercado aquecido.
A especialização também terá papel importante, o que exigirá incremento de orçamento para bolsas de pesquisa e capacitação técnica para qualificação de mais especialistas.
“A segurança baseada no conceito de Zero Trust ou ‘nunca confie, sempre verifique’ será amplamente adotada. Todos os acessos serão autenticados e monitorados continuamente, eliminando a confiança implícita em redes internas”, diz o especialista em cybersegurança e CEO da Diferenciall Tecnologia e Consultoria, Alexandre Pinto. “Já se tornou ponto pacífico que a biometria avançada (reconhecimento facial, impressão digital e voz) e tokens de segurança substituirão as tradicionais senhas.”
Inteligências
Especificamente sobre os avanços esperados em Inteligência Artificial, que se refletirão nos mais diversos campos, um dos focos principais é sobre a capacidade de sistemas atuarem de maneira autônoma, tomando decisões e realizando ações sem intervenção humana constante, conhecida como IA Agentic. Isso fará com que as máquinas gerenciem tarefas complexas em ambientes dinâmicos, como no atendimento ao cliente e logística.
A IA Generativa, que se popularizou a partir do lançamento do Chat GPT, seguirá evoluindo, já que tem como base o machine learning (aprendizado de máquina); ou seja, quanto maior o uso, maior o aprimoramento. O reflexo deverá ser visto na constante melhora em criação de conteúdos como textos, imagens, vídeos e códigos de programação.
Já a hiperautomação, que une IA e processos robóticos, determinará a evolução das operações empresariais, com automatização de processos cada vez mais complexos, livrando tempo humano para desenvolvimento em outras áreas.
“O uso da biometria avançada e tokens substituirá as tradicionais senhas”
Alexandre Pinto, especialista em cybersegurança
“Considero três assuntos muito relevantes: Agentic AI atuando como uma força de trabalho virtual que complementa e amplia as capacidades do ser humano, plataformas de governança que garantam o uso responsável e transparente de Inteligência Artificial, e segurança contra a desinformação para identificar e mitigar narrativas negativas e a disseminação de informações falsas”, projeta o CEO do Grupo de inovação e tecnologia BGB, Ubirajara Padilha.
Um dos pontos mais delicados de todo esse processo evolutivo é a aceleração para devido acompanhamento da cibersegurança, já que uma das regras negativas da tecnologia é que a vulnerabilidade acompanha todas as etapas do curso inovativo da mesma.
É uma lógica simples: se as ferramentas são elaboradas para o bom uso, da mesma forma a má intenção pode se aproveitar delas. Assim, profissionais de TI se debruçam para oferecerem soluções baseadas em Inteligência Artificial que previna e bloqueie, por exemplo, ataques cibernéticos em tempo real. A base dependerá do refinamento de algoritmos de monitoramento de redes e detecção de anomalias.
Outro ponto que diz respeito especificamente ao processamento de dados da IA, que é colossal, é a utilização cada vez mais frequente e avançada de computação híbrida. Nessa, há a combinação de recursos locais com soluções em nuvem. O recurso é fundamental para o acesso a grandes volumes de dados para análise em tempo real.
Ainda mais se considerarmos que a adoção da IA se expandirá nas empresas como nunca visto anteriormente, já que todos os indicativos apontam que os players que não aderirem a esse movimento perderão lugar no mercado que se dinamiza a cada dia.
“A computação quântica, ainda desconhecida para grande parte do público, trará grandes desafios e oportunidades. A altíssima capacidade de processamento quântico poderá quebrar criptografias atuais, exigindo o desenvolvimento de algoritmos pós-quânticos para proteger dados”, diz Alexandre Pinto. “A utilização da IA defensiva ajudará na prevenção e identificação das tentativas sofisticadas antes que danos sejam causados. Soluções especializadas para detectar deepfakes de áudio, vídeo e textos, surgirão, combatendo fraudes e campanhas de desinformação.”
Outra realidade que se desenha no horizonte tecnológico é o da explosão da chamada Internet das Coisas (IoT), com os bilhões de dispositivos conectados à rede, em número crescente, coletando dados em tempo real. A “economia de um trilhão de sensores” trará em troca uma capacidade de monitoramento e análise preditiva que pode significar a transformação (positiva) de setores inteiros, como agricultura, saúde e transporte.
Por falar em saúde, a regeneração de órgãos humanos deve dar passos importantes para que consigamos depender cada vez menos de doações — edição genética e impressão 3D de tecidos tendem a se tornar frequentemente viáveis comercialmente, abrindo um campo promissor para tratamentos e recuperações de pacientes.
Todas essas notícias positivas só acontecerão se cuidarmos de outro movimento da IA, o aprimoramento de plataformas de governança de Inteligência Artificial, já que, como a tecnologia trata dos temas mais delicados da humanidade atualmente, é fundamental que os desenvolvedores sigam protocolo claro sobre ética, segurança, conformidade regulatória e transparência sobre os aparelhos que cada vez mais sustentarão nossas rotinas e vidas.