Sustentabilidade: governo quer retomada do protagonismo; entenda
Por Marcelo Moreira
RESUMO
● Mundo precisa acelerar as medidas de contenção dos efeitos das mudanças climáticas
● Especialistas enxergam boas oportunidades em 2025 para mudar paradigmas na busca pelo desenvolvimento sustentável
● 2025 é ano de COP30 no Brasil
Ainda dá tempo? A pergunta é a mesma na primeira semana de cada ano que começa na expectativa de que alguém responda positivamente para aliviar a culpa de todos e renovar as esperanças de salvação em tempos de eventos climáticos extremos e de aproximação de um ponto de não retorno, como gostam de vaticinar os catastrofistas.
Os mais comedidos e realistas adotam uma espécie de otimismo cauteloso e cheio de senões, mas não vacilam ao responder: ainda dá tempo para salvar o planeta, porém fazem o alerta de sempre – o prazo está se esgotando e temos de correr ainda mais rápido para conter a destruição e a devastação em meio a previsões sombrias de agravamento de secas desastrosas e enchentes cada vez mais intensas. Só que diante de tantos desafios para salvar a natureza, surgem grandes oportunidades para, enfim, colocar o combate às mudanças climáticas na ordem do dia, segundo os ambientalistas.
Para os brasileiros, as perspectivas para 2025 são as melhores em quase todos os sentidos, uma oportunidade única para recuperar o protagonismo internacional nos assuntos de meio ambiente graças à COP30, a conferência do clima, que será realizada em Belém (PA) em novembro.
“Foram anos difíceis os anteriores a 2022, quando a prioridade era passar a boiada”, diz o deputado federal Nilto Tatto (PT-SP), coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista na Câmara dos Deputados, referindo-se a uma fala reprovável do ex-ministro do Meio Ambiente e hoje deputado federal Ricardo Salles (PL-SP). “Com a COP30, o Brasil vai mostrar que o tempo de retrocesso passou e que recuperou-se a liderança do País nas questões ambientais.”
Na frente interna, o deputado petista também enxerga boas possibilidades para fazer andar diversas pautas necessárias mesmo com dificuldades políticas e esforços extremos do governo federal para aprovar os projetos da área econômica. “As perspectivas são boas porque haverá mudanças nas presidências das duas Casas Legislativas, possibilitando melhor análise e diálogo a respeito dos principais temas. Estou otimista também quanto às chances de barrar projetos que atentem contra o meio ambiente.”
Os ambientalistas estão menos entusiasmados com as perspectivas no mercado interno, embora também manifestem certo otimismo com a COP30 de Belém, que consideram como uma chance única de debater questões globais e movimentar a sociedade para pressionar em todos os sentidos. De certa forma, acreditam no lema “agir localmente para expandir e crescer globalmente”, surgido na Eco92, realizada no Rio de Janeiro há 32 anos.
“Somos guardiões de recursos naturais essenciais para o equilíbrio planetário.”
Marina Silva, ministra do Meio Ambiente
Parar a devastação
No campo das preocupações, emergem dois pontos que vão ditar os rumos da trajetória brasileira no meio ambiente em 2025.
● O primeiro diz respeito à capacidade brasileira de conter o desmatamento que, apesar de ter o seu ritmo reduzido drasticamente, principalmente nas áreas de Mata Atlântica, ainda contabiliza ocorrências alarmantes.
● O segundo ponto diz respeito ao engajamento da juventude na causa ambiental e a melhora da inclusão da pauta no processo educacional dos estudantes de todos os níveis.
“Esse desafio é histórico no Brasil. É crucial trazer os jovens para lutar pelo futuro do planeta. Sem esse engajamento, as coisas não andam. Vimos essa situação nas últimas eleições municipais, onde os temas ambientais tiveram pouco apelo”, constata Malu Ribeiro, diretora de políticas públicas da Fundação SOS Mata Atlântica.
“A queda no desmatamento é uma boa notícia, dá algum alento, mas isso tem que ocorrer em todos os biomas. Temos de avançar na reparação. Temos de fazer a coisa acontecer, fazer com que os compromissos ambientais internacionais sejam cumpridos”, diz Malu Ribeiro. “A agenda do clima precisa entrar na pauta política, o negacionismo ainda predomina em várias situações.”
O Palácio do Planalto não contém a empolgação com o “ano da retomada”, assim considerado pelo fato de o País ter a oportunidade de recuperar certo protagonismo internacional na área de meio ambiente com a COP30. Durante evento em Brasília, na semana passada, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que a Conferência do Clima será a oportunidade que o Brasil precisa para mostrar o seu potencial.
“A realização da conferência no coração da Amazônia será a oportunidade de transformar discursos em ações concretas. Espero que os brasileiros compreendam que nosso papel vai além das negociações. Somos guardiões de recursos naturais essenciais para o equilíbrio planetário e, ao mesmo tempo, uma nação que precisa resolver desafios internos.”
Órgãos como Ibama, Polícia Federal e Corpo de Bombeiros se preparam para combater a derrubada de garimpo ilegal e queimadas na Amazônia