Perspectivas 2025

Especialistas apontam os (inúmeros) desafios da economia brasileira em 2025

Crédito: MATEUS BONOMI

Fernando Haddad enfrenta desafios fiscais e reformas urgentes para 2025 (Crédito: MATEUS BONOMI)

Por Mirela Luiz

RESUMO

● Juros altos, inflação resistente, dólar instável e ambiente fiscal indefinido irão compor cenário delicado em 2025
● Serão necessárias decisões políticas corajosas e articulação eficiente com o Congresso para afastar riscos de crise

O Brasil de 2025 estará sobre um terreno delicado, onde política e economia se entrelaçarão em uma dança de altos riscos e promessas contidas. Será um momento de escolhas estratégicas e urgentes, mas também de oportunidades que não poderão ser desperdiçadas. Mesmo o desempenho positivo das commodities no próximo ano não deverá ser suficiente para reverter o impacto de um choque monetário provocado pelos erros fiscais. Empresários e investidores vão encarar um horizonte de incertezas enquanto o governo, pressionado, precisará adotar medidas corajosas para evitar o agravamento das crises fiscal e econômica. O risco é claro: se as decisões estruturais forem postergadas, o País poderá colher apenas ruínas ao fim deste ciclo de política monetária.

O presidente Luís Inácio Lula da Silva, em seu terceiro ano de mandato, caminhará por um fio de navalha:
● terá de equilibrar as contas públicas sem sufocar o crescimento econômico.
● Além disso, enfrentará um Congresso exigente, disposto a anular limitações recentes e a empilhar novas conquistas,
● e uma sociedade cada vez mais atenta — inclusive ao seu estado de saúde.

Desafios fiscais e reformas em pauta no Congresso (Crédito:LULA MARQUES)

O País está diante da responsabilidade de dar passos decisivos para resolver a crise fiscal. Mas as dificuldades são consideráveis e as reformas necessárias para equilibrar as contas públicas.

● Os analistas esperam um crescimento mais modesto e uma economia que lutará para manter o equilíbrio diante de realidades fiscal e monetária restritivas.

● Segurar a inflação dentro da meta (1,5% a 4,5%), de preferência próxima ao centro (3%), continuará a ser um dos principais desafios do governo.

● Um possível estouro do teto estabelecido pelo Banco Central tornará inevitável a manutenção da tendência de aumento da taxa de juros Selic.

● Some-se a isso a expectativa de que, ao fim do primeiro trimestre do próximo ano, os juros anuais estejam em 14,25%, sem sinalização do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre quando será o final do ciclo de alta.

“A magnitude total do período de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso com a convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica inflacionária”, diz o texto da mais recente ata do Copom.

“A magnitude total do período de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso com a convergência da inflação à meta”
Trecho da ata mais recente do Copom

No comunicado, o colegiado destacou ainda que o “esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento do crédito direcionado e as incertezas em relação à estabilização da dívida pública” têm o potencial de elevar a taxa de juros.

Na avaliação do economista e presidente da Inter.B Consultoria, Cláudio Frischtak, após a recuperação pós-pandemia, em 2021, a economia brasileira vem crescendo acima de seu potencial não inflacionário, estimado em torno de 2,5%. “A rigor, o processo vem se acelerando: 3% em 2022, 3,2% em 2023 e 3,4% projetados para 2024. É uma trajetória insustentável, direcionada por uma combinação de forte impulso fiscal, mercado de trabalho operando praticamente em pleno emprego e forte dinamismo do consumo das famílias.”

Commodities em alta não compensam impacto de choque monetário por erros fiscais (Crédito:YASUYOSHI CHIBA)

“Tempestade perfeita”

Frischtak alerta para uma “tempestade perfeita” em 2025:
● inflação acima do teto da meta,
● juros reais na casa de 7%,
● e câmbio depreciado pressionando custos e preços.

Ele projeta uma desaceleração econômica para cerca de 2% no próximo ano. A situação poderá se deteriorar ainda mais a depender das escolhas de políticas do governo Trump nos EUA e da resposta do Federal Reserve, o BC americano, em relação aos juros do país. Um cenário de guerra comercial global também é uma possibilidade preocupante.

Indústria surpreende em 2024, mas 2025 trará desafios financeiros (Crédito:Divulgação)

No mesmo tom, o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, destaca: “2025 será um ano muito desafiador. A desaceleração da economia ocorrerá por conta de uma mínima retração fiscal e forte retração monetária,” com a Selic projetada entre 15% e 16%, reflexo da necessidade de conter a inflação. “Os juros altos são inevitáveis para segurar a demanda, mas ao custo da redução importante de investimentos e consumo”, complementa.

Em 2024, o índice mostrou resistência, impulsionado pelo mercado de trabalho aquecido e a desvalorização do real, que elevou custos. Para Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, “a inflação continuará pressionada pelo dólar caro e as incertezas fiscais. O PIB, que vai crescer 3% em 2024, deverá recuar.”

Governo caminhará por um fio de navalha: equilibrar as contas sem sufocar o crescimento

Além da inflação persistente e juros elevados, a situação fiscal é a pedra angular do desafio brasileiro. O gestor financeiro José Antônio Curti alerta para o risco de colapso das contas públicas: “Estamos diante de um triângulo perigoso. Inflação elevada, moeda desvalorizada e risco fiscal crescente formam o cenário que poderá comprometer a economia nos próximos anos.” A dívida pública, que deverá atingir 90% do PIB em dois anos, é, segundo analistas, o retrato da fragilidade do arcabouço fiscal.

No centro do desafio está a questão previdenciária, ressalta o especialista em contas públicas Raul Velloso. “O rápido envelhecimento da população torna o sistema previdenciário insustentável.” Entre 1987 e hoje os gastos com a Previdência e o Benefício de Prestação Continuada (BPC), prestado pelo INSS, saltaram de 22,3% para 56,2% do orçamento não-financeiro da União, forçando o País a abrir mão de investimentos essenciais em infraestrutura. “Sem uma reforma que introduza a capitalização gradual do sistema será impossível equilibrar as contas públicas no longo prazo”, adianta Velloso.

CRIS FAGA
Câmbio desvalorizado, pressão inflacionária e crise fiscal: economistas preveem 2025 com crescimento limitado e altos custos, enquanto o Banco Central se prepara para um aperto monetário (Crédito:SUAMY BEYDOUN)

Avanços lentos

A reforma tributária, com foco no Imposto de Valor Agregado (IVA) continua avançando, mas seus benefícios práticos — simplificação e redução de litígios entre eles — só serão sentidos a partir de 2027. Enquanto isso, a atualização do imposto de renda surge como prioridade imediata.

“A tributação de dividendos pode avançar no próximo ano”, prevê uma das autoras da proposta original da reforma tributária, a advogada Vanessa Canado. Ela destaca que medidas pontuais, como as recentes tributações sobre offshores, são apenas paliativas. “A melhoria da desigualdade depende de como os recursos serão aplicados e da eficiência econômica gerada, não de transferências isoladas.”

Elena Landau, economista, advogada e ex-diretora de privatizações do BNDES, defende que o governo encare com seriedade a necessidade de cortes mais profundos e ajustes estruturais, especialmente na qualidade do gasto público. “Quanto mais o tempo passa, mais grave fica a situação.”. Medidas tímidas e atrasadas como o pacote fiscal recém-anunciado, destaca ela, apenas postergam o problema: “A falta de ajuste fiscal sério compromete a confiança dos investidores, enfraquece o real e mantém o País preso em um ciclo de estagnação.”

No cenário externo, a esperada postura protecionista dos EUA, sob liderança de Donald Trump, poderá trazer impactos significativos para a balança comercial brasileira. O fortalecimento do dólar e as possíveis sanções tarifárias contra parceiros comerciais tendem a pressionar ainda mais o câmbio e os custos internos.

No âmbito político, o Brasil enfrenta dificuldades adicionais. A relação entre o governo e o Congresso, marcada por tensões e disputas, limita a capacidade de aprovar reformas estruturais robustas. “O momento para se fazer ajustes é o início do mandato”, lembra Elena. Com o governo Lula entrando na segunda metade de sua gestão, a oportunidade para mudanças profundas se estreita.

Apesar do cenário desafiador, setores como indústria de transformação e construção civil mostraram resiliência em 2024, sustentando o crescimento. Mas o ritmo deverá ser mais moderado em 2025, com juros altos reduzindo investimentos e demanda. O setor de serviços, pilar central da economia brasileira, também precisará se adaptar às novas realidades fiscais e monetárias.

“O Brasil carece de boas notícias e a previsibilidade tributária trará mais confiança aos investidores. Além disso, um monitoramento rigoroso será necessário para mitigar efeitos colaterais, como disputas judiciais”, enfatiza Silvania Tognetti, especialista em Direito Tributário.

O Brasil caminha para um novo ano complexo e pleno de riscos. Sem mudanças estruturais na política fiscal e controle efetivo da inflação, o crescimento continuará limitado e a confiança dos investidores seguirá fragilizada. Para a professora de economia do Insper Juliana Inhasz Kessler, o País tem a responsabilidade de acelerar soluções para a crise fiscal e evitar que a falta de investimentos comprometa o crescimento futuro. “A inflação seguirá elevada, com possibilidade concreta de estouro da meta. O aumento da taxa de juros em 2025 é certo, mas isso traz como consequências redução de investimentos e desestímulo à inovação”, avalia.

Se o governo não adotar uma terapia eficaz — quase uma alopatia fiscal, com doses pesadas de correção —, o País poderá colher revezes ao fim deste ciclo econômico. “O Brasil precisa enfrentar suas fragilidades fiscais de forma definitiva. Adiar reformas estruturais só tornará o ajuste futuro mais doloroso e profundo”, aponta Elena. A chave para o sucesso em 2025 será agir com coragem e decisão, implementando reformas que aumentem a produtividade, estabilizem a dívida pública e recuperem a confiança do mercado. Sem isso, o País seguirá em compasso de espera, enquanto as oportunidades de crescimento sustentável escorrem pelos dedos. Oportuno repetir o destaque: serão necessários — e indispensáveis — coragem e decisão.