Coluna

Lula e Bolsonaro, os mitos em perigo

Crédito: Paulo Pinto/Agência Brasil

Depois de correr risco de morte, Lula deixa o Hospital Sírio Libanês no domingo, 15, após de duas cirurgias no crânio (Crédito: Paulo Pinto/Agência Brasil)

Por Germano Oliveira

O Brasil tem dois mitos que se assumem como tal. Lula já chegou a se colocar como uma entidade, acima dos seres humanos normais, na porta do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, no dia em que foi preso por causa do tríplex, em 2018. Bolsonaro é tido como messias, e não apenas no nome, por ele mesmo e por seus fanáticos seguidores na campanha de 2018. De lá pra cá, tiveram essa divindade à prova e correram riscos. Bolsonaro levou uma facada e se elegeu. Lula foi preso e não se candidatou. Em 2022, os dois se cruzaram e Lula ganhou por pouco, mas Bolsonaro não aceitou o resultado e quis dar um golpe de Estado. Agora, poderá ser preso no ano que vem e Lula bateu a cabeça no chão e quase morreu. Como chegarão para 2026? Possivelmente nenhum dos dois possa ser candidato.

Saúde

Lula pode vir a não ser candidato em 2026 não só porque estará com 81 anos, mas porque passará a ser questionado
se aguenta disputar mais uma campanha desgastante. Ao deixar o hospital no domingo, 15, a própria Janja e o médico Roberto Kalil disseram que o presidente correu risco de morte. Se ele quiser se poupar, lançará Haddad
como sucessor.

Cadeia

Já Bolsonaro corre riscos muito maiores. Deverá ser denunciado pelo PGR em fevereiro e começar a ser julgado pelo STF logo em seguida. Alguém tem dúvidas de que será condenado à prisão? Os bolsonaristas que depredaram os Três Poderes foram condenados a penas de 17 anos de prisão. Será que Bolsonaro, acusado de ser o mandante, pegará menos?

Fraudes na compra das vacinas

(Marcos Oliveira)

Ricardo Barros, ex-ministro da Saúde, está sentindo a chapa esquentar. Na época da compra das vacinas contra a Covid, ele foi suspeito de cometer irregularidades relacionadas ao empresário Francisco Maximiano, dono da Precisa Medicamentos, que intermediou a compra do imunizante Covaxin pelo governo Bolsonaro. O caso está no STF, com o ministro Nunes Marques, e pode dar dor de cabeça ao deputado do PP-PR.

Rápidas

O relator da PEC do Corte de Gastos na Câmara, Moses Rodrigues (União Brasil-CE), diz que a tendência no Congresso não é a de endurecer o corte de despesas. Pelo contrário, é afrouxar o impacto fiscal para não prejudicar a imagem dos parlamentares sobre suas bases eleitorais.

O STF condenou o ex-deputado Roberto Jefferson a nove anos e onze meses de prisão, por ter atentado contra os Poderes. Os ministros bolsonaristas (André Mendonça e Kássio Nunes Marques) queriam penas mais brandas.

Os privilégios das Forças Armadas são visíveis. Para passar para a reserva em 2023, o ex-comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, embolsou R$ 1 milhão. Em 2024, a Marinha gastou R$ 5,5 bilhões em pensões para seus membros.

Como um dos maiores partidos, o MDB poderá ser o fiel da balança para Lula montar a campanha pela reeleição. O senador Renan Calheiros adverte que seu partido não tem dono e que a decisão será tomada em convenção.

Retrato falado

“A vida do Galípolo será mais difícil do que foi a minha no BC”, disse Campos Neto (Crédito:Suamy Beydoun)

Roberto Campos Neto, que deixa a presidência do BC nesta virada de ano, se sente aliviado por deixar o banco, depois de apanhar do governo por manter os juros altos. Em um jantar com bolsonaristas na semana passada em Brasília, segundo a coluna do Estadão, disse não ter inveja do atual presidente do órgão, Gabriel Galípolo, indicado por Lula. Para ele, o novo presidente não terá vida fácil. De cara, precisará elevar os juros em 1% em cada uma das duas novas sessões do Copom.

A vez da renda fixa

O último boletim do Banco Central elaborado neste final de dezembro não deixa dúvidas. A taxa de juros da Selic subirá mais 1% em janeiro e outro 1% em março, totalizando 14,25% – o maior juro real do mundo, considerando que a inflação está um pouco acima de 4,5%. Com isso, aplicações em títulos Selic, renda fixa, serão os investimentos mais rentáveis do mercado. Ninguém vai querer aplicar suas economias em atividades produtivas, expansão de seus negócios. O que faz prever, desde já, que a economia vai dar um grande freio em 2025, as empresas vão sofrer muito e os empregos correm riscos. A recepção negativa do pacote fiscal ajudou no quadro adverso para 2025.

Dólar dispara

Enquanto todos os parâmetros da economia estão instáveis, sobretudo por conta das incertezas geradas pelo pacote de corte de gastos no Congresso – há risco de ser desidratado, como diz o próprio Haddad – , o dólar não para de crescer. Na quarta-feira, 18, a cotação chegou a R$ 6,26, um recorde imbatível.

Exército em maus lençóis

A prisão de Braga Netto provocou um grande mal-estar entre o alto comando do Exército, não só porque foi o primeiro general de quatro estrelas a ser encarcerado, mas também porque junto com ele foi para trás das grades
o coronel Flávio Peregrino, seu ex-assessor. Considerando que já estava preso o general Mário Fernandes, o estrago é grande.

(Pablo Porciuncula)

General minimiza

Apesar do constrangimento, Hamilton Mourão (foto acima), que foi vice de Bolsonaro, tenta minimizar o impacto negativo das prisões na caserna. Em entrevista ao Globo, o general, que hoje é senador pelo Republicanos do RS, diz que “houve reuniões, mas não levaram a ação”. Ora, o general desconhece que a lei diz que a tentativa de golpe também é crime.

O pé frio

(Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O ministro Camilo Santana (Educação) não anda numa fase boa. Depois do escândalo em que sua mulher foi aprovada para o cargo de conselheira do TCE do Ceará para ganhar R$ 39,7 mil de forma vitalícia, agora vê o TCU pedir a suspensão de R$ 6 bi do programa Pé-de-Meia por considerar que ele driblou o arcabouço fiscal. A decisão do relator Augusto Nardes pode paralisar o projeto.

Toma lá dá cá: Luis Miraglia, da Seneca Capital

Luis Miraglia, sócio da Seneca Capital (Crédito:Silvia Zamboni)

O que esperar da renda fixa para 2025?
De dezembro de 2023 a outubro de 2024 vimos um incremento em investimentos de renda fixa de aproximadamente R$ 400 bi, ou 3,5% do PIB projetado para 2024. Acreditamos num nível de investimento similar em 2025.

Por que a renda fixa deve continuar em alta?
É bastante provável que o mercado de renda fixa deve concentrar os investimentos dos poupadores, dado que o ciclo de alta de taxas de juros não cria ambiente propício para investimentos em renda variável.

A taxa Selic deve ultrapassar os 14% em 2025?
A pesquisa Focus de 6 de dezembro indica taxa Selic de 13,5% média para 2025. Entretanto, o mercado de taxas de juros futuro aponta para taxas superiores a 14,5%.