Retrospectiva 2024

A prisão de Braga Netto: general pode contar tudo o que sabe

Um fantasma tira o sono do clã Bolsonaro: e se o general detido aderir à delação premiada? Já está claro que o ex-presidente foi figura central na trama do golpe, só falta alguém citar abertamente o seu nome

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O momento da prisão do general: acusado de obstrução da Justiça e arrecadação de verbas para o golpe (Crédito: Divulgação)

Por Vasconcelo Quadros

Ao mandar prender o general Walter Braga Netto, no dia 14 de dezembro, o ministro do STF Alexandre de Moraes tirou da frente qualquer obstáculo às investigações sobre a tentativa de golpe de Estado. E escancarou o caminho que pode esclarecer definitivamente o caso, levando em breve à prisão aquele que seria o principal beneficiário com a ruptura do sistema democrático: Jair Bolsonaro.

Único general quatro estrelas preso por envolvimento em quartelada na história do País, ex-ministro e ex-candidato a vice-presidente, Braga Netto é acusado de obstrução de Justiça ao tentar acessar o conteúdo da delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-Ajudante de Ordens de Bolsonaro. Sobre ele recai ainda a acusação de ter arrecadado dinheiro junto a empresários do agronegócio para bancar as ações de agentes das Forças Especiais do Exército, os Kids Pretos.

O encarceramento do general aproxima da Justiça políticos conspiradores ligados ao agro, que financiaram o plano, e deixa o clã Bolsonaro alarmado com a possibilidade de ser fechado acordo de delação. Ao general será oferecida a redução de pena e o relaxamento da prisão em algum momento, caso ele decida entregar todos os detalhes que envolvem o ex-presidente. O núcleo contrário a eleições limpas visava manter Bolsonaro no poder, inclusive com o assassinato do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e de Alexandre de Moraes.

As investigações da PF resultaram no indiciamento de 40 pessoas ligadas a Bolsonaro, entre as quais 27 são militares – dentre eles, seis generais, inclusive o autor do famigerado plano Punhal Verde Amarelo, general Mário Fernandes. Ele integra a tropa de elite do Exército, os denominados Kids Pretos, e está preso. Embora o inquérito já tenha sido enviado ao STF, que aguarda manifestação do procurador-geral da República, Paulo Gonet, sobre eventual denúncia, a PF ainda fará outras diligências e manterá aberta a possibilidade de uma nova delação.

Motivos o general tem de sobra: para tentar se livrar, o ex-presidente vem jogando sobre ele e outros integrantes da antiga cúpula militar a responsabilidade por tudo que foi tramado.
● O indiciamento de Bolsonaro mostra que ele foi figura de proeminência em tudo isso.
● O número 2 é Braga Neto, em cuja casa, em Brasília, os Kids Pretos se reuniram.
● Mauro Cid era o terceiro e agia em linha com o general Mário Fernandes.