Coluna

A secular disputa entre cães e gatos

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Luiz Cesar Pimentel: "Os cachorros possuem, em média, o dobro de neurônios corticais do que os gatos, o que lhes confere uma capacidade cognitiva bem mais complexa" (Crédito: Divulgação)

Por Luiz Cesar Pimentel

Um dos entretenimentos sociológicos que tenho é pegar réguas diferentes para entender melhor o ser humano. Sei lá por quê, o mais recente parâmetro de que me servi foi o longevo debate sobre a preferência por cães ou gatos no Brasil. Sabia que o País é mais afeito aos cães, mas não tinha conhecimento da vantagem dobrada da predileção – a mais recente pesquisa, de 2022, aponta 48% de cachorreiros versus 23% de gateiros. Em números absolutos, são 60 milhões de cães em casas pelo País contra 30 milhões de gatos.

Em escala, a vantagem é compreensível. Sou tutor de ambos (não se fala mais dono, pois aprendi que é um termo reducionista e que considera o animal como mero objeto de posse) e é covardia comparar a abordagem humana dos dois: o cão lá de casa, o Pereira, me recebe toda vez que abro a porta como se estivesse entrando um beatle no recinto, enquanto o Jurema (o gato, que adotei como fêmea e descobri depois ser macho, daí o nome) no máximo dá uma bocejada e volta a dormir.

Mas saindo mais uma vez da esfera caseira e indo para a abrangência do País, o dado que mais me chamou a atenção pela curiosidade foi a preferência por um ou outro por região. Os gatos são mais queridos pelos nordestinos regionalmente – alcançam 25% na soma – e menos pelos sudestinos – 15%. Se eu fosse adepto das bets (não sou) e se tivesse que apostar, colocaria dinheiro exatamente no oposto. Meu raciocínio levaria a maior sociabilidade, que acredito ter o nordestino, a se afeiçoar pela maior inteligência social dos cães. E vice-versa.

Ampliei a pesquisa para conferir se meu raciocínio estava inteiramente errado e descobri que os gatos levam vantagem principalmente na Europa. Em alguns países, ganham de goleada, como na Suíça e Áustria, que tem proporções de 3 para 1. Na França é 40 a 30; na Alemanha, 30 a 20, e na Rússia, 60 a 30. Já nos mais simpáticos continentes asiático e americano, Sul, Central e Norte, cachorros dominam. Se fosse pela vantagem em simpatia, nordestinos seguiram essa toada. Mas não.

Apelei, então, para inteligência das espécies, crente de que a diferença não era significativa mas que poderia sugerir um caminho. E não é que me surpreendi novamente? Os cachorros possuem, em média, o dobro de neurônios corticais do que os gatos, o que lhes confere uma capacidade cognitiva bem mais complexa. Não significa maior inteligência, mas capacidade maior de treinamento e cumprimento de tarefas.

E o que significa tudo isso, afinal? Nada, na verdade. Só é bom para quebrar mitos de que um ama mais do que o outro, de que um é leal e o outro, traiçoeiro, essas besteiras tanto ditas que ainda restam os que acreditam.

Só que para tudo isso (que realmente importa) você não precisa de estudos nem pesquisas – convivendo com ambos você tem a deliciosa prática afetiva, infinitamente superior às teorias e análises. Seja cachorreiro, gateiro ou ambos.