Comportamento

O templo que resistiu ao radicalismo do Estado Islâmico

Equipe de pesquisadores encontrou em uma cidade do Iraque, destruída pelo Estado Islâmico na invasão de 2014, vestígios da primeira deusa da história

Crédito: Divulgação

Pesquisadores descobriram o prédio em um sítio arqueológico que foi destruído na invasão do Estado Islâmico (Crédito: Divulgação)

Por Mirela Luiz

A vida imitando a arte ou vice-versa é o que parece a descoberta dos especialistas do Museu de Arqueologia e Antropologia da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Juntamente com uma equipe iraquiana, eles encontraram um templo nas ruínas da cidade de Ninrud, no norte do Iraque. Localizada aproximadamente a 30 quilômetros ao sul de Mosul, cidade capturada pelo Estado Islâmico (ISIS) em 2014, Ninrud sofreu com a destruição causada pelo grupo fundamentalista com o objetivo de apagar a cultura não islâmica da região; o sítio arqueológico da cidade começou a ser destruído com marretas, bombas e escavadeiras.

Em 2023, com o término do domínio da região pelo grupo islâmico, os arqueólogos começaram a segunda temporada de escavações em Ninrud, que foi a antiga cidade de Kalhu e serviu como capital do glorioso Império Assírio há quase três mil anos.

Durante a retomada das escavações, os pesquisadores tiveram uma grata surpresa: a descoberta de um monumento de pedra retratando a deusa Ishtar, dentro de um símbolo de estrela. O templo, dedicado à antiga divindade mesopotâmica – associada ao amor e à guerra e considerada a primeira deusa da história- resistiu à destruição por duas vezes.

O assentamento de Nimrud foi construído ao longo do Rio Tigre, e transformou-se em uma cidade assíria próspera entre os anos de 1350 a.C e 610 a.C, com grandes palácios e templos impressionantes, além de lajes de pedra monumentais com inscrições cuneiformes, sistema de escrita utilizado na região do Oriente Médio durante a Idade do Bronze, incluindo os assírios.

Nas escavações anteriores, a mesma equipe de arqueólogos já havia encontrado um palácio pertencente ao rei assírio Adad-Nirari III, que reinou entre 810 a.C. e 783 a.C. Também foram descobertas duas bases de colunas ricamente esculpidas, evidenciando a impressionante decoração do palácio.

Dentro da sala do trono, os pesquisadores recuperaram evidências de uma grande bacia de pedra, possivelmente utilizada para aquecimento. Nela, havia fragmentos de marfim e cascas de ovos de avestruz, indicando uma cultura da elite da época e reforçando o status do rei que habitou o local.

O grupo também descobriu representações detalhadas de soldados, cavalos e pessoas carregando presentes em muitas das faixas de bronze que adornavam o portal de cedro, com quase três metros de largura. Essas descobertas revelam a riqueza e a magnitude que existiam na antiga cidade de Ninrud, antes de sua trágica destruição.