Vespa asiática: qual seu segredo para resistir ao álcool?
Pesquisadores concluíram que a vespa oriental não sofre os efeitos da ingestão alcoólica porque o etanol é degradado antes de causar efeito tóxico
Por Maria Ligia Pagenotto
Um inseto incólume aos efeitos do álcool em altas dosagens, assim é a vespa oriental ou asiática, presente na África, Ásia e sul da Europa. Elas chamam atenção pelo tamanho (podem chegar a 5 cm), potência do veneno e também por sua atração e resistência ao álcool. Na natureza, são conhecidas por ingerir néctar e frutas maduras, que possuem álcool, sem ficarem embriagadas.
Para entender melhor por que a substância não provoca efeitos nefastos em seu organismo, cientistas da Universidade de Tel Aviv, em Israel, realizaram um estudo a respeito. As conclusões foram publicadas na revista especializada PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences), revisada por integrantes da National Academy of Sciences (NAS), dos EUA. Os autores da pesquisa ofereceram aos insetos, durante uma semana, duas vezes por dia, concentrações crescentes de uma solução de sacarose com cerca de 80% de etanol (o combustível de um carro tem cerca de 90%). Não foi oferecido mais nenhum alimento.
“Os pesquisadores observaram que as vespas conseguiram converter as elevadas concentrações de álcool em energia para as células”, diz o professor Mário Sérgio Palma, coordenador do Laboratório de Biologia Estrutural e Zooquímica da UNESP, em Rio Claro (SP). A tolerância ao álcool, segundo ele, foi explicada pelo fato de que o DNA das vespas contém várias cópias dos genes das enzimas responsáveis pela degradação da substância, transformando-a em metabólitos, e estes, em energia.
“A existência dessas várias cópias é muito incomum no mundo animal”, diz Palma. Além disso, segundo ele, no intestino dessas vespas foi observada a presença de leveduras, que fermentam o alimento e produzem álcool nesse processo. “Creio que isso contribui para a tolerância ao etanol de forma natural.”
Maria Augusta Lima Siqueira, entomologista e bióloga, professora de zoologia da Universidade Federal de Viçosa, afirma que, diferentemente do que ocorre com os humanos e outros animais, o etanol não é prejudicial às vespas porque elas conseguem metabolizá-lo de forma bem rápida e muito mais eficiente quando comparadas a outros organismos. “Dessa forma, o etanol é degradado antes de causar efeitos tóxicos às células”, afirma a bióloga.
A degradação, explica Maria Augusta, ocorre principalmente no corpo gorduroso, que é um tecido dos insetos de certa forma análogo ao fígado humano. “Os cientistas israelenses supõem que essa capacidade é advinda do fato de que essas vespas possuem uma grande quantidade de genes responsáveis pelo metabolismo do etanol”, finaliza.