Eleição é mais que o resultado
Por Marco Antonio Villa
Que Brasil saiu das urnas?
O mesmo Brasil dos últimos anos. Como em todo processo eleitoral temos os ganhadores e perdedores. Mais ainda em um País como o nosso com 5.569 munícipios. O principal não foi discutido: os graves problemas dos munícipios, especialmente das metrópoles. São Paulo, por exemplo, teve 11 debates, o maior número da história das eleições desde 1985.
O resultado? Próximo do nada. Foi o que se denomina de teatrocracia, muito barulho e pouco resultado. É difícil desenhar um quadro ideológico das eleições. Fatores que envolvem a vida urbana muitas vezes são mais determinantes do que cortes ideológicos. A instalação de creches, melhorias na iluminação, o asfaltamento de ruas, um posto de saúde, são muito mais importantes do que questões estruturais. Isto não significa despolitização, mas sim a consequência de um processo eleitoral muito específico que é distinto de uma eleição presidencial. Assim, é necessário cuidado, muito cuidado, ao estabelecer uma correlação entre um processo eleitoral e outro. Cada um tem as suas especificidades.
Porém, alguns traços, mesmo que tímidos, permitem uma reflexão sobre a vontade do eleitor. Deve ser destacado o aumento da abstenção. O caso de São Paulo é preocupante: foi a maior da história (31%). Foram quase 3 milhões de votantes, correspondendo a 80% da população do Uruguai, que também está vivendo um processo eleitoral. Não deve ser imputado aos eleitores de Pablo Marçal ou às condições meteorológicas, que eram boas. Qual a razão de quase 1/3 dos eleitores abdicarem do sagrado direito do voto?
Também deve ser destacado que o discurso extremista não foi bem recebido. Vale destacar o caso de Fortaleza. Apesar de uma vitória apertadíssima, a derrota de André Fernandes – um quadro político novo no Ceará – foi simbólica. Simbólica para os dois espectros políticos: para o extremismo significando que o discurso está próximo da exaustão. A repetição ad nauseam das mesmas acusações à esquerda, do “perigo comunista”, já não obteve a mesma recepção. Para o campo democrático-republicano, no sentido mais amplo, apontou a necessidade de que é preciso urgentemente apresentar resultados concretos na gestão das cidades e renovar o discurso afastando-se da “pauta identitária”, importada dos Estados Unidos. Isto não significa apoiar a pauta reacionária dos costumes. Não, claro que não. Mas também não assumir como seu o “identitarismo” entre suas principais bandeiras, isto quando é rejeitado pela maioria da população, em especial pelos mais pobres.
Uma última consideração: mais uma vez a Justiça Eleitoral está de parabéns. As eleições foram em 5569 municípios! Apuração em tempo recorde e sem nenhum caso de fraude.