Economia

Classe média abre conta no exterior

A corrida para permitir contas internacionais agita a concorrência entre fintechs e os grandes bancos e abre oportunidade para os correntistas comuns aproveitarem um benefício que era exclusivo dos endinheirados

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Depois das fintechs, grandes bancos como o Bradesco entram na concorrência pelo mercado internacional (Crédito: istockphoto)

Por Mirela Luiz

Brasileiros têm gasto e investido de maneira acelerada nos últimos meses fora do País. Na esteira da retomada gradativa das viagens internacionais e de um cenário mais otimista para o mercado financeiro, os grandes bancos nacionais passaram a oferecer contas globais, mercado que era abocanhado até agora apenas por bancos digitais, que atendiam a essa fatia de consumidores.

Os grandes bancos nacionais estão garantindo a seus correntistas a facilidade de fazerem suas compras internacionais em dólar ou euro e também têm facilitado a vida de investidores, que podem diversificar suas carteiras podendo investir, por exemplo, na NYSE, bolsa de Nova York.

“Decidi abrir conta global para ter uma reserva organizada em dólares americanos sem precisar ter uma quantidade em espécie. A principal vantagem que vejo dessa modalidade é a facilidade no câmbio, ter cartão de débito internacional e poder fazer investimento na bolsa de Nova York, com suporte em português”, declara o professor paulista Guilherme Conde, que é cliente do Inter.

Dados da Abecs mostram que os gastos de brasileiros com cartões no exterior alcançaram US$ 2,72 bilhões no primeiro trimestre do ano

As contas correntes em dólar também são práticas porque funcionam como contas digitais comuns, apenas localizadas no exterior. Assim, elas contam com cartão de débito para fazer saques e compras em lojas físicas e online, permitem fazer transferências e receber pagamentos lá fora e podem até mesmo permitir investimentos no exterior.

Dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) mostram que os gastos de brasileiros com cartões no exterior alcançaram US$ 2,72 bilhões (R$13,47 bilhões) apenas no primeiro trimestre de 2023, alta de 53% na comparação com o mesmo período de 2022.

“Tenho minha conta na Avenue desde o início do ano passado. No Brasil uso para juntar dinheiro em dólar, uma forma de investimento, e fora uso como débito para evitar saques lá fora e as taxas do banco daqui. Já usei na Argentina, Espanha e França, entre outras viagens.”
Alex Ferrer, relações públicas catarinense.

A diferença de cenário não está em o banco oferecer a conta global, e sim para quem está oferecendo o benefício.

A mira agora de bancos como Bradesco, Itaú, Inter e a corretora XP não está somente nos endinheirados, mas também na classe média.

O Bradesco, por exemplo, estima alcançar com sua conta global, que será lançada neste mês de julho, de 1 a 2 milhões de contas, em cinco anos.

Depois da apreensão no mercado com a troca de governo, os bons números recentes na economia e a expectativa de melhora nos indicadores, como a queda do dólar, têm trazido otimismo.

“Em pouco mais de um ano, mais de 1,7 milhão de clientes já possuem uma conta global com o Inter, demonstrando o potencial desse mercado. Entendemos que a operação da conta internacional tem grande potencial para geração de receitas e, consequentemente, para a lucratividade do negócio.”
Aloisio Matos, diretor de serviços globais do Inter

Professor Guilherme Conde diz que usa conta no exterior para reservas em dólar (Crédito:Rogério Cassimiro)

US$ 165 milhões Foi o volume de investimento brasileiro no exterior, no primeiro trimestre de 2023

Dados do Banco Central (BC) mostram um saldo positivo de US$ 165 milhões de investimento brasileiro no exterior, no primeiro trimestre. Em 2022, esse saldo havia ficado negativo em US$ 251 milhões. “Vejo com bons olhos os bancos digitais e corretoras iniciarem um processo de democratização do investimento no exterior, cuja disponibilidade era restrita às famílias com patrimônios elevados”, diz Diego Hernandez, CEO da consultoria Ativo Investimentos.

Diferentes estratégias têm em comum o mesmo alvo: preparar o terreno no exterior, em especial, nos EUA, para receber recursos que podem migrar para fora do País em busca de diversificação da carteira de investimentos.

“Esse é um mercado ainda pouco explorado aqui. Temos uma oportunidade gigante a ser explorada e a forma de se fazer isso é tornando mais fácil e descomplicada a maneira de brasileiros investirem lá fora”, declara Thiago Maffra, CEO da XP Inc.

Para os próximos anos, a expectativa é de que um maior volume de recursos migre para os EUA e Europa em meio à necessidade de diversificação dos investimentos e a queda dos juros no Brasil – e, mais à frente, no mercado americano.

“A segurança que um banco tradicional que une a tecnologia a suas operações, ou a expertise que as Fintechs carregam em seu DNA para trazer soluções inteligentes para o mercado, abrem caminhos significativos para a dolarização de patrimônio dos brasileiros”, defende Djônatan Leão, sócio fundador da plataforma de ensino digital Meta Smart Group LLC nos EUA.

Contas globais: Benefícios

100% digital

Câmbio com cotação comercial

Transferências para outras contas nos EUA

Recebimento de pagamentos em dólar

Realizar investimentos internacionais

Qualquer pessoa maior de idade, com documento de identificação válido