A Semana

Paris larga na frente na questão climática

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Cazuza: irreverência e talento excepcionais (Crédito: Divulgação)

Por Antonio Carlos Prado

Mudam-se os tempos, Paris não muda. Que bom! É sempre ela que está na vanguarda dos movimentos políticos e sociais, e também agora, quando a palavra de ordem global é cuidar urgente do meio ambiente. Paris larga na frente. Das Olimpíadas ela herdou os filtros eletrostáticos “capazes de aspirarem até 95%” das denominadas “partículas finas de poluição suspensas no ar”, altamente nocivas aos pulmões. Segundo o monitoramento da qualidade do ar, realizado constantemente pelo órgão Airparif, sem vínculos com o governo, a concentração dessas partículas caiu aproximadamente 40% em toda a região parisiense. E há a tomada de providências oficiais, a exemplo da criação das “zonas de baixa emissão” — nelas, somente podem circular “veículos limpos”: carros elétricos ou movidos a hidrogênio. Mais espetacular, ainda, é que a população mudou de hábito, está abandonando e deixando em casa os carros, e já prioriza o andar de bicicleta. Responde, assim, positivamente aos esforços de diversas administrações municipais que conseguiram chegar a mil e noventa e quatro quilômetros de ciclovias — em 2001 eram somente duzentos. Para afastar os carros, o preço de estacionamentos, na região central, passará de seis euros (cerca de R$ 37) para dezoito euros (R$ 110). Os franceses aceitaram a majoração. Eles querem respirar.

LITERATURA
Poemas inéditos e histórias de Cazuza em dois novos livros

Cazuza, um dos principais e mais completos artistas que o Brasil já teve, levado cedo demais aos 32 anos de idade, em 1990, pelo então inevitavelmente fatal HIV, recebe em dois livros mais uma homenagem póstuma — e, também novamente, graças à iniciativa de sua mãe, Lucinha Araújo, de ir atrás de tudo aquilo que o filho produziu. Duzentos e trinta e oito poemas, dentre eles vinte e sete inéditos, estão no primeiro livro — os textos são datadas de 1975 a 1989. Eles foram localizados no acervo do produtor musical Ezequiel Neves, falecido em 2010. O livro se intitula Meu lance é poesia. Destaque para as versões iniciais da música Exagerado. O segundo volume, intitulado Protegi teu nome por amor, contém setecentos trabalhos que traduzem a formação de Cazuza: fotos, artes visuais, poesia, música e escritos para teatro. Há uma raridade: registros do começo do relacionamento de seus pais, Lucinha e João Araújo, fundador da gravadora Som Livre. A obra apresenta estudos realizados nos EUA sobre artes visuais.

“Há quase duas décadas lancei as letras e as canções de Cazuza, mas queria algo mais completo: um testamento para o Brasil.”
Lucinha Araújo, mãe de Cazuza

PERSONALIDADE
Jimmy Carter faz cem anos

Carter: reserva moral e referência ética (Crédito:Alex Brandon)

Completou um século de vida na última terça-feira, dia 1 de outubro, o ex-presidente norte-americano Jimmy Carter – sua escalada política foi rápida demais, de senador estadual na década de 1960 a ocupante da Casa Branca entre 1977 e 1981. Poucos democratas são tão firmes em sua ideologia quanto ele. Rugas e machas de idade no rosto e nas mãos geralmente relativizam posicionamentos. Em Carter, não. Um parente lhe perguntou: está tentando chegar ao centenário? A resposta excelente: sim; quero votar em Kamala Harris.

Como presidente dos EUA, Carter foi um ótimo ministro das Relações Exteriores. Sua política interna para o país era tão medíocre a ponto de não se reeleger — o primeiro desde Herbert Hoover, em 1933. Carter, no entanto, pressionou em sua gestão os ditadores da América Latina e brilhou enquanto mediador do acordo de Camp David. Naquilo que parecia impensável, ele pensou: restituiu aos panamenhos o Canal do Panamá.

Em 1978, Carter esteve no Brasil, presidido pelo ditador Ernesto Geisel. Fez-se de tudo para que ele não se reunisse com o cardeal arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, outro campeão dos direitos humanos. Driblaram o cerco e ouçamos, agora, um trecho da conversa entre ambos. Dom Paulo perguntou: é verdade que a CIA deu aulas de tortura para a ditadura brasileira? Carter respondeu: pode ser que sim. Dom Paulo prosseguiu: o sr. deve nos ajudar na luta contra a tortura. O arremate de Carter fez-se arrebatador: para isso eu estou visitando o Brasil.

1978 Persona non grata: Geisel não queria Carter por aqui (Crédito:Divulgação)