Coluna

O Banco Central sabota o Brasil

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Felipe Machado: "É importante a gente dizer claramente quem está impedindo a economia de melhorar ainda mais" (Crédito: Divulgação)

Por Felipe Machado

O diabo está nos detalhes, como diz o provérbio alemão. Na quarta-feira 21, o Comitê de Política Monetária (Copom) se reuniu e, contrariando o presidente da República, o ministro da Economia e a maioria dos líderes do setor produtivo do País, decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano, a maior do mundo. No dia seguinte, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, viajou para a Suíça.

Desculpe falar de juros. Você não deve mais aguentar esse assunto. Eu também não. Mas é importante a gente dizer claramente quem está impedindo a economia de melhorar ainda mais.

A falta de lógica nas decisões do BC nos leva a desconfiar da imparcialidade das pessoas à frente da instituição, até porque sua autonomia foi assinada em fevereiro de 2021, auge do governo Bolsonaro.

A situação só piora quando lembramos que Campos Neto, além de ter sido flagrado no grupo de Whatsapp do ex-presidente, frequentava churrascos organizados por nomes como Ciro Nogueira e Fábio Farias, chefões do bolsonarismo.

Entre outras funções, a taxa de juros é um instrumento para controlar a inflação. Aí entra um pequeno detalhe: a inflação acumulada no ano é de apenas 2,95%. Ou seja: é mais ou menos como receitar um transplante de coração para um paciente com resfriado.

É surreal constatar que um governo eleito por 60 milhões de brasileiros tenha de se curvar às vontades de meia dúzia de burocratas ligados de forma umbilical ao mercado financeiro.

Com exceção da turma da Faria Lima, que lucra aos borbotões com a situação atual, muita gente séria diz que os juros estão destruindo a economia. Para Campos Neto, todos estão equivocados ­­— e só ele está certo.

Entre os “errados” está Joseph Stiglitz, professor da Universidade de Columbia, em Nova York, e vencedor do prêmio Nobel de Economia em 2001. Talvez o brasileiro entenda mais de economia que Stiglitz. Quem sabe ele ganhe o Nobel em 2023.

Para a Controladoria-Geral da União, o balanço do BC em 2019 teve supostas inconsistências contábeis na ordem de R$ 1 trilhão. O caso está no TCU

A competência do BC, porém, pode ser avaliada pelo processo que corre no Tribunal de Contas da União (TCU).

A Controladoria Geral da União (CGU) aponta supostas inconsistências contábeis na ordem de R$ 1 trilhão no balanço do Banco Central em 2019, primeiro ano de Bolsonaro. O BC divulgou que o caso é uma “mera divergência de interpretação sobre a forma de divulgação das informações financeiras”.

Para a turma de Campos Neto, portanto, R$ 1 trilhão é uma simples diferença ­— apenas um detalhe, como diria o diabo.