A Semana

França e Alemanha caminham em direção à extrema direita

Crédito: Martin Noda

Franceses vão às ruas: o espírito do Terceiro Estado ainda existe (Crédito: Martin Noda)

Por Antonio Carlos Prado

Emmanuel Macron, presidente da França, está reescrevendo a teoria política clássica do parlamentarismo. Diz ela que o primeiro-ministro tem de ser escolhido dentre os políticos do partido majoritário no Congresso, podendo também ser alguém em outra atividade, mas que integre a legenda. Agora, eis a teoria de Macron, que acaba de dar um largo passo em direção à extrema direita, que a cada dia conquista mais espaço na União Europeia. Ele nomeou como premiê Michel Barnier, ex-negociador do brexit e veterano direitista da sigla Os Republicanos, a quarta classificada em número de representantes no Parlamento — ele entra do lugar de Gabriel Attal. A população francesa, aos milhares, foi imediatamente às ruas. A França é assim: é a história de uma sociedade que se faz presente, se preciso for, até hoje como Terceiro Estado. O partido majoritário é a coalizão de esquerda Nova Frente Popular e dela deveria ter saído o primeiro-ministro, sobretudo nesse momento ideológico no continente. Aproximadamente há três décadas e meia a Alemanha se reunificou. Nas recentes votações estaduais, na Turíngia, por exemplo, a extrema direitacom a sigla Alternativa para a Alemanha foi o partido mais votado — e tudo indica que a tendência ascendente das legendas que defendem o nazismo seguirá nas próximas eleições gerais.

Barnier entra, Gabriel Attal (à esq.) sai: mudança necessária? (Crédito:Andrea Savorani Neri)

EUA
Vacina contra os efeitos do fentanil usado como droga

Vai para a fase de testes clínicos em seres humanos a vacina contra os efeitos colaterais da medicação fentanil, que causam dependência química, quando ela é utilizada como droga e não com a finalidade de simples analgesia. A vacina foi desenvolvida pela Universidade de Houston, nos EUA. O fentanil atinge o sistema nervoso central e desconecta dor e cérebro. A sensação é de grande bem-estar, motivo pelo qual vem sendo largamente usada como substância psicoativa, sobretudo nos EUA. A dependência surge em curto espaço de tempo. “Com a vacina, o indivíduo desenvolve anticorpos que se ligam ao comprimido quando ingerido”, diz Colin Haile, professor associado de pesquisa em psicologia, da Universidade de Houston. “O fentanil se mantém na corrente sanguínea, não chega ao cérebro”. Setenta e quatro mil pessoas morreram em decorrência de overdose desse remédio (que é um opioide) em 2023. O fentanil é cem vezes mais forte que a morfina.

Colin Haile, da Universidade de Houston: conquista contra a adicção (Crédito:Divulgação)

VENEZUELA
Nicolás Maduro cairá. De fora para dentro

Em se tratando de ditadores patrimonialistas como Nicolás Maduro, o autocrata que se fez dono da Venezuela, é grande a possibilidade de erro ao se dizer que a repressão no país chegou ao seu ápice – isso porque sempre pode piorar. É possível afirmar, no entanto, que na semana passada o mundo assistiu a um dos mais críticos pontos do regime de exceções e casuísmos liderado pelo bolivarista. Reeleito presidente, em mais um pleito fraudado, Maduro jogou a nação em convulsão social, em que pelo menos dez manifestantes morreram e centenas foram presos. A oposição, liderada pelo ex-diplomata Edmundo González, organizou a sua posse no palácio presidencial Miraflores, no mesmo dia e hora da posse de Maduro. Por maior que seja a perplexidade mundial, é a resposta política adequada a quem perseguiu e prendeu adversários ao longo da campanha e após a votação. Os oponentes do ditador se refugiaram na embaixada argentina em Caracas, que, por ordem dele, teve a água cortada – ela estava sob proteção brasileira desde que diplomatas de Buenos Aires foram expulsos da capital venezuelana. González conseguiu asilar-se na Espanha, e dessa forma o cerco à embaixada por agentes encapuzados do Serviço de Inteligência Nacional foi desfeito. E agora, o que reserva o futuro? Madurou sedimentou-se em Miraflores? Não. Tomará posse, tem as forças de segurança a lamber-lhe as botas, a população é polarizada, mas pela primeira vez a oposição possui lideranças claras — Gonzáles e Maria Corina Machado. É fora do país e longe dos capangas de Maduro que González conseguirá aglutinar cada vez mais os líderes internacionais contra o regime em seu país. O isolamento e derrubada de tiranos, ensina a história, tem de se dar de fora para dentro.

Manifestação em Madri a favor de González (abaixo): a oposição a maduro se internacionalizou (Crédito:Pablo Blazquez Dominguez)