Cultura

Lagerfeld ganha mostra no Louvre, a primeira do museu sobre moda

Crédito: @karllagerfeld

Karl Lagerfeld: diretor criativo da Chanel, Fendi e da própria marca (Crédito: @karllagerfeld)

Por Felipe Machado

O universo fashion sempre foi visto como um ambiente artístico e criativo, mas esse reconhecimento cultural agora ganha chancela oficial: o Museu do Louvre, em Paris, anunciou, pela primeira vez em seus 231 anos de existência, uma mostra totalmente dedicada ao mundo da moda. A figura central da exposição será o estilista Karl Lagerfeld, famoso por revolucionar duas casas, a Fendi e a Chanel, além de administrar sua própria grife. Morto em 2019, sua trajetória fascinante e sua imagem única inspiraram não apenas a mostra na respeitada instituição parisiense, mas uma excelente minissérie recém-lançada pela Disney+.

A obsessão por Lagerfeld nos dias de hoje é compreensível. Nesses tempos de ídolos efêmeros e marcas descartáveis de fast fashion, ele deixa um legado de qualidade que não será esquecido facilmente. Criou ainda um visual único para si mesmo que se tornou símbolo de sofisticação e o transformou num personagem tão icônico como seus vestidos — as luvas de couro sem dedos, os óculos escuros, os cabelos longos e brancos presos no rabo de cavalo com laçarote. Lagerfeld virou um produto tão bem-sucedido que emprestou a fama até para Choupette, sua gata da raça Birman.

Gravata larga, óculos escuros, luvas de couro sem dedos, leque e jóias: peças que viraram sua marca registrada (Crédito:Timothy A. Clary)

O alemão iniciou a carreira nas marcas Balmain e Chloé, assumindo a direção criativa da Fendi em 1965.
Em 1985, foi nomeado diretor criativo da Chanel, passando a conduzir as duas gigantes da moda simultaneamente, algo impensável hoje.
Ele ainda encontrava tempo e inspiração para gerenciar a própria marca, lançada em 1984, além de fotografar suas próprias coleções.
Não era apenas o seu talento que seduzia os grandes empresários que lhe davam carta branca: suas ideias geravam bilhões de dólares e um padrão de negócios lucrativo e raro para os excessos torrados pelos colegas de outras maisons.

Ao longo dos anos, também ficou famoso pelas pérolas que soltava nas entrevistas. “Sou uma caricatura de mim mesmo e gosto disso. É como uma máscara. Para mim o Carnaval de Veneza dura o ano inteiro”, afirmou em uma entrevista. “Senso de humor e falta de respeito: é isso que uma lenda precisa para sobreviver”, disse, em outra ocasião. “Odeio conversar com intelectuais porque a única opinião que me importa é a minha”, concluiu.

Lagerfeld (Daniel Bruhl) e Jacques de Bascher (Théodore Pellerin): relacionamento intenso e problemático (Crédito:Divulgação)

Streaming e cinema

A vida de Lagerfeld não arrebatou apenas os diretores do Louvre. Uma produção que acaba de estrear na plataforma Disney+ retrata a trajetória do estilista a partir do relacionamento com Jacques de Bascher — a minissérie foca no triângulo amoroso entre os dois e outro estilista famoso, Yves Saint-Laurent, que era apaixonado por Bascher.

Dividida em seis episódios, Becoming Karl Lagerfeld traz Daniel Bruhl no papel principal e é inspirada na biografia Kaiser Karl, de Raphaelle Bacqué. O ator Jared Leto, que prestou tributo à gata de estimação do estilista numa noite de gala em sua homenagem, no Metropolitan, em Nova York, também pretende levar a vida do amigo para as telas. “Sinto que este é um momento de círculo completo, e Karl ficaria orgulhoso do que estamos fazendo”, disse Leto à imprensa. “Ele era um designer de moda, um fotógrafo, um artista. Não havia como defini-lo. Ele era uma potência criativa.”


Jared Leto fantasiado como a gata de estimação: ator será o estilista no cinema (Crédito:Dimitrios Kambouris)

Ao inserir a moda no contexto de suas coleções, o Louvre segue uma tendência crescente de grandes museus ao redor do mundo, que começam a ver esse universo não apenas como uma expressão cultural, mas como uma forma de arte que dialoga com diversas linguagens. Amplia sua definição do que é a criação artística ao deixar de lado a arte estática, como pinturas e esculturas, e incorporar algo vivo e dinâmico — roupas, tecidos, acessórios. Obras de arte que podem ser usadas, vestidas, não apenas apreciadas pelo olhar.

A iniciativa do diretor Olivier Gabet ocupará uma área de 9.700 metros quadrados reservada para a coleção de artes decorativas, o que inclui armaduras, tapeçarias, joias e móveis. Lagerfeld não será o único contemplado: haverá um espaço para outros nomes consagrados, como Dolce & Gabbana e Yohji Yamamoto, e até mesmo para as promessas do cenário internacional. “É uma maneira de trazer uma nova perspectiva às coleções históricas do museu e, ao mesmo tempo, demonstrar que a moda está profundamente enraizada nas formas e nas cores do passado”, afirma Gabet.

Estilistas nas telas

Coco Antes de Chanel

(Divulgação)

No longa, Audrey Tautou interpreta a revolucionária que passou a vestir trajes masculinos no dia a dia

Cristóbal Balenciaga

(Divulgação)

Série mostra o espanhol que vestia a elite de Madri antes de fazer seu primeiro desfile na França, em 1937

Yves Saint-Laurent

(Divulgação)

O filme de Jalil Lespert narra a história do argelino que assumiu a Christian Dior com apenas 21 anos