Chance de vida em Saturno
Estudos mostram fósforo na superfície gelada da lua Enceladus, o que pode apresentar características que sugerem condições ideais para a reprodução de microorganismos
Por Alan Rodrigues
O fósforo, elemento essencial para a vida, pode existir em abundância no oceano gelado de Enceladus, ou Encélado, a sexta maior das 145 luas já descobertas na órbita de Saturno. “O fato de o fósforo ter sido encontrado aumenta as chances de haver vida fora da Terra”, avalia Dimas Zaia, professor sênior do Laboratório de Química Prebiótica da Universidade Estadual de Londrina (UEL), comentando o artigo publicado na revista britânica Nature. “Enceladus pode apresentar as condições ideais de vida para os microrganismos unicelulares”, explica o pesquisador norte-americano Christopher Glein.
Cientista planetário e geoquímico do Southwest Research Institute em San Antonio, Texas (EUA), Glein é um dos autores do estudo.
“Esse ingrediente-chave pode ser abundante o suficiente para potencialmente sustentar a vida no oceano de Enceladus. Essa é uma descoberta impressionante para a astrobiologia.”
Christopher Glein, cientista planetário e geoquímico
A verdade completa é que as descobertas sobre Saturno foram feitas pela missão espacial não tripulada Cassini-Huygens (o orbitador Cassini e o pousador Huygens). A nave ajudou a desvendar os segredos de Saturno como nenhum outro veículo espacial tinha feito antes.
Dois anos em órbita
Maior e mais complexa sonda interplanetária até então construída, ela foi lançada, em 1997, com 5.600 kg, e desintegrada em 2017. A Cassini passou quase duas décadas em missão, orbitando Saturno.
Durante a missão, ela capturou imagens e coletou amostras de partículas geladas lançadas de grandes fissuras presentes na crosta gelada. Os dados apurados pela sonda levaram os pesquisadores a encontrarem outros elementos importantes para o surgimento de vida na lua de Saturno, como:
1) carbono,
2) hidrogênio,
3) oxigênio,
4) nitrogênio,
5) enxofre.
“Faltava somente o fósforo para fechar o quebra-cabeça”, diz Zaia. Não falta mais.
O trabalho dos cientistas surgiu a partir de uma série de modelagens matemáticas que simulou a geoquímica do fósforo com base em dados sobre o sistema oceânico em Enceladus, explica o professor brasileiro.
“A conclusão do estudo foi sustentada em achados científicos extraídos de um vulcão de gelo”, conta Zaia, membro da Sociedade Brasileira de Astrobiologia.
“Encontrar evidências de fosfato é incrivelmente empolgante”, diz o cientista norte-americano. “Pode ser que a humanidade não precise mais olhar para além do nosso Sistema Solar na busca de vida alienígena”, acredita Christopher Glein.