Comportamento

Moda: a bolsa rompe com a tradição e se propõe a brincar com o estilo

Da versão micro ao tipo sacola de feira, a bolsa ganha designs mais inovadores, sobretudo nas cidades que ditam tendências mundiais. Somada à função de transportar objetos está a de garantir personalidade a quem as usa

Crédito: Divulgação

Gol fashionista: o adorno aparece nos looks do jogador de futebol Jules Koundé (Crédito: Divulgação )

Por Ana Mosquera

Em diferentes tamanhos, tecidos e formatos, as bolsas estão em maior evidência — e muito além de sua funcionalidade. Modelos com design geométrico, coloridos, imitando sacolas e com penduricalhos de todo o tipo – laços, chaveiros, pingentes – vêm invadindo ruas e passarelas dos principais eventos da moda mundial. A busca estrita por modelos clássicos que combinam com tudo, inclusive com sapatos e cintos, ficou no passado. Um artigo do veículo norte-americano especializado em alimentação Eater recentemente anunciou que as peças que remetem à comida e bebida serão os acessórios do verão. Além do exemplar em formato de sachê de ketchup, criado pela famosa marca de bolsas Kate Spade em parceria com a Heinz, espiga de milho, copo de coquetel, caixa de sucrilhos e vidro de molho shoyu da Kikkoman são algumas das apostas.

Comida e bebida: a versão da marca de moda Kate Spade com a alimentícia Heinz simula um sachê de ketchup e faz parte da onda dos acessórios inspirado na cozinha (Crédito:Divulgação )

No Brasil, a marca Dendezeiro vem mantendo a tradição de criar acessórios bem brasileiros, como o icônico espelhinho retangular laranja e o filtro de barro, e criativos, como um bichinho virtual e até um band-aid. “Apesar de a bolsa ser um item tradicional, ela permite várias brincadeiras”, diz Antonio Rabadan, coordenador do núcleo de Fashion Business e professor do curso de Design da ESPM.

“A bolsa pode harmonizar totalmente, monocromática, ou ser disruptiva e trazer uma expressão diferente ao visual”, diz Meline Moumdjian, coordenadora do curso de Shoes & Bags: Design and Business do Istituto Europeo di Design, o IED.

Vibrante: bolsas de couro acolchoadas dão toque estruturado à Primavera Verão 2025 da Gucci (Crédito:Divulgação )

Na Copenhagen Fashion Week, versões inspiradas em sacolas de compra, em formato de rocha, repletas de enfeites pendurados, à anos 2000, e com a mesma padronagem do restante do look tiveram lugar de destaque. “A cidade abraçou esse entusiasmo de as pessoas se expressarem com modelos mais fashionistas e com uma pitada de humor e irreverência nos acessórios”, diz Rabadan. A apropriação do acessório pelos fashionistas é um movimento natural da área. “As bolsas diferentes estão ligadas à customização, ao pertencimento social e à diferenciação, que são trabalhados na moda.”


A chef e empresária Cafira: gosto por objetos com assinatura, como os da brasileira Ryzí (Crédito:Divulgação )

A atriz Jenna Ortega: o item usado na turnê de divulgação de Beetlejuice 2 imita o livro que aparece no filme de 1988 (Crédito:Divulgação )

Ponto de atenção

“A bolsa tem a capacidade de carregar histórias. Quando a pessoa coloca uma estética diferente naquela peça tão importante da indumentária ela quer se comunicar de outra maneira com o universo”, diz Moumdjian.

A empresária e chef do Grupo Fitó, Cafira, aposta em itens que realçam traços da personalidade, assim como sua visão de mundo. “Ando com mais de uma, a depender da situação. Se é trabalho, costumo levar meus utensílios e instrumentos, mas também gosto de pensá-las a partir dos outros acessórios que uso.”

Além da preocupação estética, ela observa como a peça interage e se integra com o entorno. “Por eu estar em uma cidade com metrô e ônibus, como São Paulo, a bolsa também tem que se encaixar nas questões de mobilidade.”

Com disrupção: combinação de padrões, cores e tecidos em desfile na capital dinamarquesa (Crédito:Divulgação )

Nova Paris?

“Sempre haverá Paris.” A frase do personagem de Humphrey Bogart em Casablanca pode até ser usada para simbolizar a permanência da cidade francesa como a capital da moda, mas o cenário vem mudando.

Nos últimos anos, Milão, Londres e Nova York se tornaram referência no assunto, assim como a capital paulista se destaca com a São Paulo Fashion Week e a Casa de Criadores.

A capital da Dinamarca, por sua vez, é quem ganha mais força internacional. “É a ‘Paris fresh’, que atende perfeitamente a nova geração que tem um olhar apurado para a sustentabilidade e está envolvida em práticas de movimentos ecológicos”, diz o coordenador e professor do IED, Antonio Rabadan. A eliminação de plástico de uso único e a compensação de emissões inevitáveis são algumas das exigências da Copenhagen Fashion Week. Será que Paris pode esperar uma mudança?

Conexão com o ambiente: polo de tendências global, Copenhagen se destaca por ter como referências as ruas e a sustentabilidade (Crédito:Divulgação )