Coluna

Maternidade aterrorizante

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Laira Vieira: "Como disse o escritor brasileiro Aluísio Azevedo 'A maternidade, só por si, não constitui, ou não deve constituir, a felicidade completa de uma mulher'.” (Crédito: Divulgação)

Por Laira Vieira

Em um mundo onde a perfeição é exaltada nas redes sociais, Baby Ruby (2022) mergulha nas profundezas da maternidade contemporânea, destacando a discrepância entre a imagem idealizada e a realidade crua do pós-parto.

O filme, que marca a estreia na direção da atriz Bess Wohl, abre as cortinas para a vida de uma influenciadora digital que parece ter tudo sob controle, mas vê sua vida cuidadosamente planejada desmoronar após o nascimento de sua filha Ruby — ela estaria vivenciando acontecimentos inexplicáveis, conspirações sombrias ou enlouquecendo?

À medida que a narrativa se desenrola, somos levados a um jogo de sombras e reflexos, onde cada detalhe é meticulosamente construído para manter o suspense e a tensão. Wohl não apenas utiliza os estereótipos do gênero do suspense psicológico com maestria, mas também tece uma metáfora impressionante da jornada da maternidade contemporânea, na qual a pressão por uma vida perfeita é mais sufocante, por tudo ser exposto online.

Jo (Noémie Merlant) encarna essa busca incessante pela perfeição, enquanto sua mente se torna o campo de batalha entre a realidade e a paranoia, para a agonia de seu marido Spencer (Kit Harington). Cada choro de Ruby, a interpretação de cada olhar, os comentários de outras mães ressoam como um eco do terror que se instala na mente de Jo. A película desafia o espectador a questionar o que é real e o que é fruto da imaginação distorcida da influencer, e é mais aterrorizante que O Bebê de Rosemary.

Como disse o escritor brasileiro Aluísio Azevedo “A maternidade, só por si, não constitui, ou não deve constituir, a felicidade completa de uma mulher.”

E apesar de ele nunca ter passado pela experiência da maternidade, por motivos óbvios, ele está correto — apesar de algumas mulheres discordarem e acharem que a chave para a felicidade é parir filhos. Essa dualidade é explorada enquanto vemos a protagonista presa em um pesadelo que ameaça consumir sua própria essência.

Vale a pena ressaltar o quão peculiar é o fato que bebês de influenciadores se tornem instantaneamente celebridades milionárias, alguns têm centenas de milhares de seguidores nas redes sociais, antes mesmo de nascer. A pressão para ter a aparência da família perfeita nem sempre vem da sociedade sobre a mãe, mas eventualmente vem das próprias mães que, às vezes, parecem ter filhos apenas para lucrar com eles.

Ao final da inovadora obra, somos deixados com uma sensação de desconforto e inquietação, lembrando-nos de que, por trás das imagens perfeitas nas mídias sociais, existe uma realidade muito mais complexa e assustadora. Baby Ruby é uma refrescante surpresa e deveria ser assistido por todos, independentemente de querer – ou ter – filhos ou não.