A Semana

Eleições nos EUA: avanço inédito no “Cinturão do Sol”

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Kamala: ela está conquistando em tempo recorde os decisivos estados do Arizona, da Geórgia e de Nevada (Crédito: Divulgação )

Por Antonio Carlos Prado

A oscilação e a alternância nas declarações de intenção de voto para a Presidência dos EUA são uma tradição no país. Deve-se isso aos sete estados-chave que não se fixam nem no Partido Democrata nem no Republicano, razão pela qual são chamados de “pêndulos”. Dentre eles, decisiva variação envolve o denominado “Cinturão do Sol”, composto pelos estados do Arizona, da Geórgia e de Nevada. Um documento interno circulava entre líderes democratas explicando que seria impossível, quase um milagre, retirar Donald Trump da liderança do “Cinturão”. O documento acaba de ser arquivado com o status de “reservado” porque na mais pragmática das campanhas eleitorais milagres acontecem — o milagre em questão é feminino e tem nome e sobrenome: Kamala Harris. Na semana passada, ela chegou feito relâmpago em empate técnico com o adversário republicano nos três estados que podem ser decisivos na composição do número de delegados que representarão os candidatos: no Arizona, Kamala estava no início da semana passada com 44,4% das intenções de voto, contra 44,8 de Trump; na Geórgia, 45,1% contra 45,8% respectivamente; e em Nevada rigorosa igualdade em 43%. Nesses “pêndulos”, tudo pode se reverter. Mas penda ele para um lado ou outro, um avanço assim, rápido e vigoroso como o de Kamala, é fato inédito no “Cinturão do Sol” em corridas à Casa Branca.

Spencer Platt

LITERATURA
O texto alucinógeno de Leonard Cohen

Acaba de ser lançado no Brasil Belos Fracassados, e é bastante provável que muita gente estranhe a autoria: Leonard Cohen. Isso ocorre porque conhecemos Leonard Cohen enquanto um dos melhores músicos que já passaram pelo planeta (faleceu em 2016), mas poucos sabem que ele também foi poeta e escritor – muitos o colocam, com certo entusiasmo, no mesmo patamar literário de James Joyce, autor de Ulysses, um dos maiores clássicos já escritos na história da humanidade. Leonard Cohen, escritor, não chega a tanto, mas o livro de sua autoria, que agora sai no País (é datado de 1966), mostra a originalidade de pensamento ao tecer quatro histórias simultaneamente. Era a época da contracultura, da anfetamina, do LSD, dos grandes astros norte-americanos no estilo de Ray Charles e tudo isso integra Belos Fracassados. Vale, e muito, conhecer esse lado de Cohen, marcado, assim como ele fez na música, pela genialidade. É um retrato da sociedade global que brotou sessenta anos atrás.

Leonard Cohen: quatro enredos simultâneos (Crédito:Istvan Bajzat)

DIREITOS HUMANOS
Tito, uma prece

É compreensível que a maior parte dos jovens brasileiros não se interesse pela ditadura militar, que se aboletou no poder entre 1964 e 1985, após apear do Planalto um presidente legitimamente eleito – João Belchior Marques Goulart. O sonho da leveza da vida mora no coração juvenil, então por que ele se interessaria por episódios de unhas arrancadas com alicates, cabeças esmigalhadas, choques elétricos e afogamentos? Aos que já se despediram da mocidade há tempos, como eu, fica, no entanto, uma dúvida: deixar de lembrar atrocidades de ditaduras não é aplainar-lhes o caminho de retorno? No impasse, faz-se. Lembro, então, que no último fim de semana completou-se meio século do suicídio, na França, do frei dominicano Tito de Alencar Lima. Preso em São Paulo em 1969 (o presidente do País era o general Emílio Garrastazu Médici), foi criminosamente seviciado no DEOPS e, depois, no presídio Tiradentes. O delegado Sergio Paranhos Fleury o prendeu. Os seus algozes reservaram-lhe cadeira do dragão (choques no corpo inteiro), fio elétrico na uretra (choques com dor dilacerante), espancamento e pau-de-arara. Em 1970, frei Tito integrou a lista de presos políticos que foram trocados pela libertação do embaixador suíço Giovanni Bucher, sequestrado por guerrilheiros. O frei esteve no Chile, na Itália e França. De nada adiantava, aonde Tito ia, ele imaginava ver Fleury. Via-o em sonhos, via-o acordado. Buscou na morte paz e descanso: enforcou-se. O seu crime: participar de congresso clandestino da União Nacional dos Estudantes. Havia a acusação, sem provas, de que mantinha contatos com o grupo guerrilheiro Ação Libertadora Nacional.

Jovens, se lhes furtei uma franja de esperança na humanidade, me perdoem (o autor)

Frei Tito: a morte como descanso aos 27 anos (Crédito:Divulgação )
Delegado Fleury: prisão de Tito no Congresso da UNE (Crédito: José Nascimento)