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A viagem pop de Lula

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Marcos Strecker: "O presidente quer rejuvenescer sua imagem, deixando para lá o elogio constrangedor a ditadores e sem precisar mostrar simpatia exagerada ao eixo Moscou-Pequim" (Crédito: Divulgação)

Por Marcos Strecker

O novo giro internacional de Lula à França e Itália foi programado para evitar as derrapadas diplomáticas e tentar reconquistar sua imagem de ídolo pop. Um dos pontos altos será a participação em Paris no Power Our Planet, para o qual foi convidado pelo vocalista do Coldplay, Chris Martin. O festival deve contar com a participação de Lenny Kravitz e Billie Eilish.

O convite para esse evento foi um presente conveniente para o petista. Falar de paz para jovens, defender os países pobres e exaltar o meio ambiente é uma oportunidade de ouro para viralizar nas redes sociais e aparecer na mídia global. Isso ajuda a afastar a péssima repercussão de suas declarações sobre a guerra na Ucrânia, quando na prática endossou a invasão sangrenta de Vladimir Putin e se colocou no campo oposto à maior estrela internacional do momento, o ucraniano Volodymyr Zelensky.

Da mesma forma, o encontro com o papa Francisco em Roma vai ter grande impacto sem nenhum risco de constrangimento, além de proporcionar, provavelmente, uma declaração dos dois pedindo mais paz e menos guerra na Ucrânia. Na Itália, Lula também programou se encontrar com o descolado sociólogo Domenico De Masi, o inventor do “ócio criativo”.

Ao comparecer a festival com Chris Martin e visitar o papa, o presidente quer deixar para lá as derrapadas com ditadores

Na Cúpula sobre o Novo Pacto Financeiro Global, patrocinada pelo presidente francês Emmanuel Macron, Lula também poderá pregar a necessidade de os países emergentes receberem mais dinheiro dos ricos. O presidente francês, aliado estratégico do brasileiro, segue a escola gaullista de mostrar independência dos EUA e estimular uma identidade europeia não-alinhada, o que soa como música para a ala mais à esquerda do PT e alguns ideólogos passadistas do Itamaraty. A “photo op” com o mandatário francês vai impulsionar uma imagem do petista mais pró-Sul Global.

Isso foge do gosto amargo deixado pelo G7 no Japão, em maio, quando Lula ficou isolado em sua peculiar visão sobre a invasão da Ucrânia, o tema geopolítico central para os líderes globais. O presidente quer rejuvenescer sua imagem, deixando para lá o elogio constrangedor a ditadores e sem precisar mostrar simpatia exagerada ao eixo Moscou-Pequim. Lula já visitou Argentina, EUA, China, Japão, Reino Unido, Portugal, Espanha, Uruguai e Emirados Árabes Unidos. É um esforço enorme, mas a fama de superstar dos anos 2000 parece não ter o mesmo brilho. O novo palco é uma tentativa de recriar a mágica.