Comportamento

Cada bebida, um bar: metrópoles brasileiras calibram a oferta de bebidas

Cresce o número de estabelecimentos com foco em produtos alcoólicos específicos. As cartas apresentam modos de preparos originais e conquistam clientes que bebem pelo prazer com responsabilidade e moderação

Crédito: Guilherme Valle

À esquerda, Leonardo Andrade, Priscilla Herrera e Fernando Goldenstein, no Borbú Bar: fermentados de frutas têm sabor além do doce. Abaixo, drinque Caiu Cacau: borbulhante de cacau, vermute de caju, graviola e jambu (Crédito: Guilherme Valle)

Por Ana Mosquera

Depois dos restaurantes de culinárias diversificadas, é a vez de os bares se dedicarem à especialização. Ao apresentarem novas bebidas e as convencionais em outros formatos, os estabelecimentos não só mantêm o público fiel, mas também atraem clientes.

Em Paraty, no Rio de Janeiro, a vermuteria La Finca é focada em composições com o vinho fortificado.

Na capital paulista, o Trinca Bar também tem foco no vermute, sugerindo a experiência de consumo puro, além dos coquetéis.

Ainda em São Paulo, o Dentro Bar e o Varal possuem composições autorais elaboradas com cachaça, o Mule Mule oferece versões sobre o famoso Moscow Mule e o Mega Sake propõe experiências com o fermentado japonês em modo self-service na confeitaria Amay Doces.

Os bares dedicados ao vinho aumentam em número e estilo — desde os que servem vinhos de pequenos produtores brasileiros direto das torneiras, como a Casa Tão Longe, Tão Perto, na capital paulista, aos que possibilitam o compartilhamento de garrafas entre desconhecidos.

No Saída de Emergência, na mesma cidade, são 120 vinhos de 11 países e, caso uma pessoa sozinha queira tomar um rótulo não disponível em taça, a equipe facilita para que ela encontre mais clientes interessados em dividi-lo.

(Divulgação)

Muitos aromas

“Quem trabalha no mercado de alimentos e bebidas está entendendo que o nicho traz mais estabilidade e ajuda na formação de público. Ainda possibilita sair das variações sobre os mesmos ingredientes usados pela maioria dos bares”, diz Leonardo Andrade, sócio da Companhia dos Fermentados.

O Borbú Bar, recém-aberto no interior do restaurante Banana Verde, em São Paulo, utiliza quase 20 fermentados de frutas produzidos por ele e o sócio Fernando Goldenstein – entre vinhos, vermutes e espumantes (os borbulhantes) –, além de conservas e vinagres elaborados na casa para compor os drinques.

“A coquetelaria se baseia em equilíbrio e os fermentados entregam muitos aromas. A matéria-prima fica mais evidente e há maior percepção de acidez, decorrente da própria fermentação. E elas ainda trazem novas camadas quando misturadas”, diz Isadora Bello Fornari, consultora especializada em destilados, que assina a carta 100% brasileira.

“Há o ativismo em prol das frutas nativas, e existe uma possibilidade de evoluir o paladar a partir de experiências e sabores únicos”, diz a sócia do restaurante, a chef Priscilla Herrera.

“Acho que a tendência dos bares especializados está ligada a uma criação de consciência incipiente sobre o que é a bebida e não só o alimento”, diz Goldenstein.

O especialista Maurício Porto: de escoceses a japoneses, há cerca de 260 rótulos de whisky no Caledonia. Abaixo, coquetel New Orleans, 1881: feito com destilado de centeio (Crédito:Maurício Porto)
(Mario Rodrigues)

Introduzir os clientes em um novo universo é um processo desafiador, que envolve tempo, educação e dinheiro — e fazê-los entender que requinte é beber pouco e não até o entorpecimento. Ao lado da vantagem de apresentar um tipo de bebida de maneiras diferentes, estão os percalços de atualizar o bar com rótulos caros e raros. “A identidade do bar é importante, mas ele também precisa ser divertido e inclusivo, para não ficar focado em um único público e desagradar a base. É preciso dosar”, diz Maurício Porto, sócio-fundador do Caledonia, bar paulistano especializado em whisky, que também mantém drinques com outros destilados.

Hoje, 50% do público vai pelo whisky, 40% o degusta puro e os cinco coquetéis mais vendidos são os elaborados com a bebida-inspiração. “É preciso ser criativo para deixar todo o público satisfeito. Até mesmo para quem não é acostumado ao whisky enxergar as possibilidades da bebida e, aí sim, migrar para o universo especializado”, diz o chef de bar Alison Oliveira.