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Eleições 2024: radares já começam a captar a preferência dos votantes; confira

Lula e Bolsonaro arregaçam as mangas para turbinar campanhas de aliados pelo País nas eleições municipais como prévia do enfrentamento polarizado previsto para 2026

Crédito: Divulgação

Ricardo Nunes estava reticente, mas aceitou a indicação de Bolsonaro e Tarcísio para ter o coronel Mello (último á dir.) como vice (Crédito: Divulgação )

Por Marcelo Moreira

Com a ajuda do governador Tarcísio de Freitas, o ex-capitão Jair Bolsonaro (PL) emplacou o candidato a vice na chapa do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tentará se reeleger em São Paulo: o coronel da PM Ricardo Mello de Araújo, ex-comandante da Rota (tropa de elite da policia paulista), é um exemplar modelo do bolsonarismo considerado raiz. Essa chapa apoiada pelo ex-presidente vai enfrentar, em outubro, o candidato de Lula, o deputado Guilherme Boulos (PSOL), que terá como vice a petista Marta Suplicy. Eles repetirão o embate entre o lulismo e o bolsonarismo ocorrido em 2022 e que vai se repetir na eleição municipal de outubro.

Enquanto Bolsonaro só agora vai montando as chapas que apoiará nas principais cidades brasileiras, Lula já tem uma grande dianteira ao emprestar seu prestígio para eleger aliados em vários capitais do País, principalmente em São Paulo, que deverá se tornar o principal campo de batalha entre os dois grupos.

A atuação de Lula começou tão cedo que ele acabou sendo condenado pela Justiça Eleitoral a pagar uma multa de R$ 20 mil por ter pedido votos para seu candidato numa festa do Primeiro de Maio, defronte o estádio de futebol do Corinthians, o time do coração do presidente. Por mais que os dois maiores “caciques” da política nacional na atualidade disfarcem e tentem dissimular, eles e seus partidos usam o pleito de 2024 como uma prévia do que eles imaginam enfrentar nas eleições presidenciais de 2026, que têm tudo para continuar polarizada.

Para Lula, a vitória de Boulos sinalizará que ele continua poderoso cabo eleitoral, capaz de eleger qualquer nome que venha a indicar, como aconteceu com Dilma Rousseff em 2010, quando se elegeu e foi tida como um “poste” eleito pelo petista. Com eventual vitória em São Paulo, Lula se fortalecerá para a tentativa de um quarto mandato.

Bolsonaro conta com o triunfo de Nunes para cacifar o PL como um dos partidos mais fortes para enfrentar o petismo daqui a dois anos. Representará para o ex-presidente, de certa forma, uma redenção diante dos vários processos judiciais a que responde, além de consolidar um nome que ele venha a escolher para disputar a presidência contra Lula. Há sinais de que Bolsonaro pode escolher o governador Tarcísio de Freitas como a referência da direita para enfrentar o PT em 2026. Como se sabe, Bolsonaro está inelegível e tem remotas chances de readquirir o direito de ser candidato.

Lula mantém o apoio a Eduardo Paes (dir.), mas quer a vaga de vice na chapa (Crédito:Mauro Pimentel)

Padrinhos cobiçados

Na continuidade da polarização política iniciada em 2018 entre os dois, Lula e Bolsonaro são apoiadores cobiçados nas diversas capitais. Ninguém fica indiferente aos seus posicionamentos e às possibilidades de acenos e apoios nas disputas regionais.

Além de São Paulo, o embate entre eles se acirra no Rio de Janeiro e hoje a disputa está pendendo para Lula, onde ele apoia abertamente a reeleição do prefeito Eduardo Paes (PSD), um aliado antigo, que aparece disparado na frente nas pesquisas com 51% das intenções de voto.

• Alexandre Ramagem (PL), o candidato de Bolsonaro, patina com pouco mais de 15%. Ex-chefe da Abin (Agência Brasileira de Informações) e alvo de investigações por ter supostamente mandado monitorar adversários políticos do ex-presidente, Ramagem é policial federal e foi eleito deputado em 2022 como um dos maiores defensores das ideias retrógradas do bolsonarismo.

• O panorama no restante do Brasil indica um equilíbrio maior entre as influências de Lula e Bolsonaro, ao contrário do que ocorre no Rio de Janeiro.

• O PT lançou candidatos próprios em 15 capitais, embora seus líderes acreditem que, de fato, só tenham chances reais de vitória em Teresina (PI) e Fortaleza (CE). Em dezenas de outras capitais, os petistas vão de vice nas chapas encabeçadas pelos partidos da base aliada no Congresso.

• Já o PL de Bolsonaro terá candidatos em ao menos 14 capitais, com boas chances em Goiânia, João Pessoa e Manaus.

Em outros locais, os dois partidos se digladiam em busca do apoio das siglas gigantes que detêm o maior número de prefeitos, como é o caso do PSD, liderado pelo ex-prefeito Gilberto Kassab, que já tem 1.040 prefeituras, superando o MDB, que, historicamente, possuía em torno de mil prefeitos filiados à legenda.

Neste cabo de guerra, há um certo equilíbrio.

• Em Belo Horizonte, o PT flertou com o prefeito Fuad Noman (PSD), que tem o apoio do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, mas o diretório estadual petista preferiu escolher o nome do deputado federal Rogério Correia como candidato próprio, desarticulando os entendimentos com o partido de Kassab. Na capital mineira, Bolsonaro apoia o deputado estadual Bruno Engler (PL), expoente do conservadorismo mineiro.

•  Em Porto Alegre, a situação se inverte. Bolsonatro e o PL assumiram a campanha do prefeito Sebastião Melo (MDB), candidato à reeleição e que surge como favorito. Já o PT, que há anos vive com disputas internas ferrenhas, terá a candidatura própria da deputada federal Maria do Rosário, que é frequentemente elogiada por Lula, mas que não goza do prestígio da base do petismo gaúcho.

Cleyton Monte, cientista político da Universidade Federal do Ceará (UFC), avalia que o cenário de polarização política que domina o cenário desde 2018 será inevitavelmente repetido neste ano, pois representa um poderoso fator de atração de votos. “Lula sabe que, em ano eleitoral, são necessárias respostas rápidas e que tenham a aprovação do eleitor médio, aquele que não é necessariamente petista. E sabe, também, que seu governo precisa apresentar resultados que o diferenciem da gestão anterior. Bolsonaro vai explorar a polarização porque ela ainda é combustível muito forte para sua base política.”