Coluna

Dança contemporânea do Brasil invade os palcos do mundo

Companhias brasileiras conquistam as plateias internacionais com coreografias inovadoras e se consagram como grandes expoentes do balé contemporâneo

Crédito: Flávio Colker

'Sagração', de Deborah Colker: adaptação surpreendente da obra-prima de Igor Stravinsky (Crédito: Flávio Colker)

Por Felipe Machado

No início do século 20, quando alguém falava de dança brasileira no exterior, a primeira coisa que vinha à cabeça era uma cantora com bananas na cabeça e um passista de sapatos brancos e pandeiro na mão. Pois nas últimas décadas essa percepção mudou, pelo menos para uma boa parcela do público. Com turnês cada vez mais elogiadas, as companhias de dança contemporânea do País conquistaram as exigentes plateias internacionais e transformaram o Brasil em um rico celeiro de espetáculos inovadores e surpreendentes.

Impossível citar esse cenário sem exaltar a trajetória do Grupo Corpo, que comemora meio século em 2025.
Fundada em Belo Horizonte pelo clã Pederneiras — Rodrigo é o coreógrafo, Paulo é o diretor técnico —, a companhia intensificou a agenda internacional nos anos 1990, quando tornou-se residente do Maison de la Danse, tradicional festival em Lyon, na França.
Hoje, após mais de 40 espetáculos, faz turnês anuais pela Europa e pela América do Norte, além de giros pontuais pela América Latina, Ásia e Oriente Médio.
Depois de se apresentar com a Orquestra Filarmônica de Los Angeles, sob regência de Gustavo Dudamel, o Corpo embarca para o festival de Edinburgh, na Escócia.

“Somos muito respeitados no exterior, mas é preciso dançar o Brasil inteiro também”, diz Deborah Colker, coreógrafa (Crédito:Divulgação )

Bailarina do Corpo por doze anos, Cassi Abranches saiu em voo solo e pousou fora do Brasil. Após ser premiada como diretora artística do Balé da Cidade de São Paulo, foi convidada pelo Birmingham Royal Ballet para criar a adaptação da obra da banda de heavy metal Black Sabbath. “Amo rock and roll e espero que o público esteja conosco”, diz.

Outra brasileira de destaque é Deborah Colker, que está há três décadas à frente da companhia que leva seu nome. “Somos respeitados no exterior, mas é preciso dançar o Brasil inteiro também. Cada dança é única, por isso tento traduzir a minha rua, a minha cidade, minhas tragédias e riquezas”.
Em 2001 Deborah recebeu o prêmio Laurence Olivier, um dos mais importantes do gênero.
Após dirigir as coreografias da Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, foi convidada para encenar a ópera Anaidamar, na Escócia.
Rodou o País e a América Latina com Sagração, inspirada em A Sagração da Primavera, de Igor Stravinsky.
Ela embarca para Nova York com o objetivo de reger Anaidamar no Met Opera House. A agenda está cheia até 2026: ela volta ao Metropolitan para encenar Frida, ópera sobre a pintora Frida Kahlo.

Gil: Grupo Corpo usa trilhas sonoras de grandes nomes da MPB (Crédito:Divulgação )

Grupo corpo
Rodrigo Pederneiras

“A dança brasileira tem uma qualidade impressionante”

Por que a dança brasileira vem ganhando destaque no exterior?
Não sei apontar uma única razão. Temos, sim, um jeito diferente. A dança, principalmente a europeia, anda meio carrancuda. É tudo muito dramático, muito cinza. A americana é um pouco mais clássica, mais suave. Mas possuímos um jeito tropical, uma sensualidade que lá fora eles não têm. A verdade é que a dança brasileira tem uma qualidade impressionante.

Como foi a apresentação com a Filarmônica de Los Angeles, regida pelo maestro Gustavo Dudamel?
Trabalhar com Dudamel foi a coisa mais fácil do mundo. Foi ele quem nos convidou para fazer Estancia, de Alberto Ginastera, uma bela parceria.

Como vê o futuro da dança no País?
Crescemos numa velocidade impressionante. E cresce também a repercussão internacional dos nossos espetáculos. As companhias viajam muito, o que só aumenta o interesse. Há mais inovação, frescor. É mais arejado, sem a dureza dos europeus.

Já existe uma dança brasileira?
Existe e o Grupo Corpo é muito isso. Acredito que temos essa identidade. A dança contemporânea feita no Brasil é muito diferente, temos características únicas de composição, na forma de mover. E essas coisas específicas são só nossas.

(Divulgação)