Humor e crítica social

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Laira Vieira: "Em um mundo cheio de injustiças e desigualdades, o riso pode ser uma forma de resistência" (Crédito: Divulgação)

Por Laira Vieira

No reino da Bretanha medieval, surge uma jornada épica e hilariante: Monty Python em Busca do Cálice Sagrado (1975) — disponível na Netflix.

Esta obra-prima do humor britânico, a trupe de comediantes do Monty Python nos presenteia com uma experiência cinematográfica única, que transcende o tempo e as fronteiras, e mergulha nas profundezas do absurdo e do sublime.

A trama nos conduz pelas agruras do Rei Arthur que está buscando fiéis e honrados cavaleiros – todos peculiares – para sua nobre missão de encontrar o lendário Santo Graal. Porém, ao invés de uma jornada heróica repleta de bravura, vemos uma sucessão de situações completamente hilariantes, onde o humor nonsense e o sarcasmo se entrelaçam de uma forma genial. Os “bravos” cavaleiros de Arthur enfrentam desafios que vão desde debates de como identificar uma bruxa, até um confronto com um adorável coelho assassino.

Em meio a essa loucura desenfreada, o longa-metragem não se contenta em ser apenas uma comédia. Por trás de cada piada, esconde-se uma crítica afiada à sociedade e à política — que continua atual, pois a maioria das pessoas é incapaz de aprender com a história e seus próprios erros. Fique atento às nuances.

Os temas políticos são abordados de maneira mordaz e inteligente, revelando os absurdos do poder, da autoridade, e de crenças. A obra expõe a fragilidade das instituições, a hipocrisia da nobreza e a loucura do fanatismo.

O Rei Arthur e seus cavaleiros não são retratados como heróis intocáveis, mas como tolos, ingênuos e alienados. Um dos pontos altos – entre muitos – é a cena na qual o Rei Arthur encontra camponeses e diz ser o rei deles. A resposta imediata é “eu não votei em você!”

Mesmo a jornada do herói é subvertida de forma brilhante ao mostrar o Rei Arthur e seus cavaleiros enfrentando desafios ridículos e fúteis. Isso nos faz refletir sobre a própria natureza do herói e questionar se a verdadeira coragem não está na capacidade de rir diante das adversidades.

Assim como os personagens da película, muitas vezes nos vemos perdidos em um mundo absurdo e desconcertante, buscando desesperadamente por algo que dê sentido à nossa existência. Como afirmou o filósofo Albert Camus, “A política e os destinos da humanidade são forjados por homens sem ideais nem grandeza. Aqueles que têm grandeza interior não se encaminham para a política.”

Em um mundo cheio de injustiças e desigualdades, o riso pode ser uma forma de resistência. Além de nos fazer rir até chorar, o filme nos convida a refletir sobre o mundo ao nosso redor e a questioná-lo. Não é uma comédia qualquer, ela resistiu ao tempo. Monty Python ensinou muita gente a fazer comédia de qualidade, e temos muito que aprender com eles.