Cultura

A saga Mad Max: entre distopias, a utopia da igualdade de gêneros

Criada pelo australiano George Miller em 1979, a franquia de filmes de ação se reinventa e confirma, com o novo episódio, Furiosa, por que é uma das distopias mais queridas de Hollywood

Crédito: Divulgação

Anya Taylor-Joy como a Imperatriz em Furiosa: protagonista trouxe equilíbrio de gêneros para agradar a plateia feminina (Crédito: Divulgação )

Por Felipe Machado

Tomas More criou o termo “utopia” em 1516, ao batizar seu romance homônimo com uma palavra que representava um “lugar que não existe”. Inspirado pelo otimismo causado pela série de descobrimentos marítimos da sua época, o inglês imaginara uma ilha no hemisfério sul onde a “sociedade era perfeita”. Já o termo oposto, “distopia”, surgiu bem mais tarde, quando o jovem H.G.Wells narrou a vida do garoto que viajava para um futuro sombrio em A Máquina do Tempo, de 1895. Desde então, as distopias conquistaram o público e se tornaram bem mais interessantes que suas concorrentes de final feliz.

No cinema também sempre foram mais queridas: da Metrópolis de Fritz Lang a Jogos Vorazes, tramas distópicas têm garantido boas bilheterias. E, apesar de elas proliferarem, principalmente após a onda de ficção científica que dominou as produções nos anos 1960, poucas sagas se tornaram tão queridas como Mad Max, criada por George Miller em 1979.

Estrelada pelo então jovem ator Mel Gibson, australiano como Miller, o longa de estreia combinava o visual futurista dos figurinos e veículos com um tradicional e típico enredo de vingança. Em um futuro indeterminado, Max Rockatansky é um policial rodoviário em uma pacata cidade no meio do deserto australiano — até que sua família é atacada por uma gangue de perigosos motoqueiros.

Sua mulher e sua filha são mortas, o que deixa Max “Mad” (louco). Ele passa a perseguir os assassinos e se torna um justiceiro que vaga sem destino pelos desertos australianos.

George Miller: cineasta dedicou 45 anos de carreira aos cinco filme da série criada por ele em 1979 (Crédito: Tristan Fewings )

O sucesso de bilheteria levou Miller a lançar a segunda parte dois anos mais tarde, em 1981. Em Mad Max – A Caçada Continua, o protagonista se vê envolvido numa disputa mortal por gasolina, combustível cada vez mais raro e que confere o controle da região a quem a possui.

A parte seguinte, Mad Max e a Cúpula do Trovão, lançada em 1985, trouxe como destaque a cantora Tina Turner como Titia Entity, a vilã do filme. A artista ainda emprestou sua voz para a trilha sonora, cuja canção-tema, “We Don’t Need Another Hero”, venceu o Globo de Ouro. O projeto, no entanto, foi trágico para George Miller: ele ficou traumatizado após seu parceiro e produtor Byron Kennedy morrer em um acidente de helicóptero.

(Divulgação)

Levou quase três décadas para o cineasta voltar à história. Mas valeu a pena: Mad Max — Estrada da Fúria foi o maior sucesso da franquia até então. Ao dividir a ação entre dois protagonistas, Tom Hardy, no papel de Max, e Charlize Theron, como a Imperatriz Furiosa, Miller injetou novo ânimo à série. Apesar de o gênero não ser levado muito a sério pelos críticos, a originalidade nas cenas de ação e a presença magnética de Charlize Theron levou a Academia a indicá-lo a dez Oscars, inclusive melhor filme e diretor. É aí que chegamos a Furiosa, novo episódio que está em cartaz e que já é umas maiores bilheterias do ano no Brasil.

O enredo explica a origem da Imperatriz Furiosa, narrando os traumas que sofreu e toda a tragédia que aconteceu em sua juventude. No lugar de Charlize, Miller escalou Anya Taylor-Joy.

E apostou alto: com um custo de US$ 233 milhões, é o filme mais caro já feito na Austrália. Enquanto as três primeiras partes eram voltadas praticamente apenas para o público masculino, Miller foi um visionário ao equilibrar a história entre um homem e uma mulher, Max e Furiosa. Com a mudança, Miller trouxe o público feminino para os cinemas e transformou sua série em um símbolo da força das mulheres. Aos 79 anos ele equilibrou os gêneros e, com isso, adicionou um pouco de utopia a uma das distopias mais queridas da história do cinema.