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Como o Brasil venceu a disputa para sediar a Copa do Mundo Feminina 2027

Crédito: Manan Vatsyayana

A escolha do Brasil como sede da Copa 2027 abre caminho para a confirmação do talento da nova geração de jogadoras, entre elas Bruninha e Lauren Leal (abaixo), as duas com 21 anos (Crédito: Manan Vatsyayana)

Por Denise Mirás

RESUMO

• Cidades com arenas prontas, rede hoteleira e saber técnico acumulado em grandes eventos ajudaram o Brasil na escolha da Fifa
• Torcida é para que a conquista impulsione os investimentos e melhore a estrutura para as meninas
• Desafio é conquistar título inédito, mesmo tendo a melhor jogadora do mundo

 

Com infra-estrutura certificada, profissionais formados desde o Pan do Rio 2007, tradição no futebol e sucesso entre os turistas estrangeiros atraídos pela Copa do Mundo 2014, o Brasil fez valer seu slogan de campanha – Uma Escolha Natural – e venceu o processo de escolha para ser a sede da Copa do Mundo Feminina 2027.

Pela primeira vez, a FIFA abriu a disputa a todas as federações nacionais. Na eleição realizada no congresso final, em Bangkok, na Tailândia, a candidatura sul-americana superou a europeia. O Brasil teve 119 dos 207 votos totais. A poderosa coligação formada por Bélgica, Holanda e Alemanha recebeu 78. Jogadoras, técnicos e dirigentes esperam que a conquista ajude a atrair investimentos, aprimorar a estrutura e elevar as remunerações do futebol feminino no País.

A escolha foi uma vitória de peso para gerações de brasileiras tiveram acesso vetado ao futebol nos últimos 40 anos. A proibição da prática do esporte, imposta às mulheres pelo presidente Getulio Vargas, caiu apenas em 1979, e a regulamentação só saiu quatro anos depois.

Para a ex-jogadora Formiga, que participou de sete Copas do Mundo (foi bronze nos EUA 1999 e prata na China 2007, e conquistou duas pratas olímpicas, em Atenas 2004 e Pequim 2008), presente na cerimônia da FIFA como convidada de honra, a sensação foi de “recompensa” pela luta e o trabalho das antecessoras.

(Divulgação)

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O longo processo

• Ricardo Trade, diretor-executivo na Copa 2014 e chefe de operações na edição do Catar 2022, levou à CBF, no início de 2023, a ideia de trazer ao Brasil a sede da Copa Feminina.
O projeto recebeu apoio do presidente Ednaldo Rodrigues, da então ministra do Esporte, a ex-jogadora de vôlei Ana Moser, e da federação sul-americana de futebol, a Conmenbol.
Após conseguir garantias do governo federal, dos estados e das dez cidades-sede, o Brasil recebeu o aval da FIFA para seguir com a candidatura.
No início, as articulações foram voltadas para a desistência da candidatura coligada EUA e México. Em seguida, a nota quatro da proposta brasileira, contra 3,7 da parceria europeia, ajudou a encaminhar a eleição.

Trade usou o conhecimento acumulado nos eventos anteriores para pavimentar a candidatura brasileira conquistando, na diplomacia, votos decisivos em federações asiáticas e africanas.

“Além do apoio da CBF e dos governos, o Brasil possui estádios e centros de treinamento prontos, aeroportos em boas condições e rede de hotelaria capacitada nas cidades-sede”, enumera o dirigente. “O legado de conhecimento que reunimos em competições anteriores, formando profissionais especializados em grandes eventos esportivos, do Pan 2007 à Copa 2014 e, depois, nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, contribuiu decisivamente para a escolha do Brasil”.

Um exemplo dessa capacidade: nada menos do que 331 dos 1,5 mil funcionários da Copa do Catar 2022 eram brasileiros.


Seleção tentará seu primeiro título mundial feminino em casa. Os Estados Unidos têm quatro conquistas e a Alemanha duas. Japão, Noruega e Espanha venceram uma vez (Crédito:Divulgação )

A logística e o desafio

No Brasil, e pela primeira vez na América do Sul, a Copa Feminina terá 32 seleções disputando jogos em dez das doze cidades do Mundial masculino de 2014 (ficaram de fora apenas Natal e Curitiba).

A abertura e a final estão programadas para o Maracanã.

Como sede, o Brasil tem vaga assegurada na competição.

Os Estados Unidos conquistaram a Copa Feminina quatro vezes, a Alemanha duas, e Japão, Noruega e Espanha, atual campeã, uma vez cada.

A edição mais recente, disputada na Austrália e na Nova Zelândia 2023, gerou, de acordo com a associação australiana de futebol, um impacto econômico de 1,32 bilhão de dólares australianos, algo em torno de R$ 4,5 bilhões.

Setenta por cento da população da Austrália acompanhou os jogos pela tevê e 90 mil turistas internacionais visitaram o país durante a disputa. Foram estimados ainda 324 milhões de dólares australianos (R$ 1,4 bilhão) em ganhos adicionais e redução de custos.

A CBF vai aproveitar a grande oferta de profissionais especializados em eventos esportivos, formados do Pan Rio 2007 aos Jogos de 2016, para realizar a Copa Feminina no País (Crédito:Rafael Ribeiro/CBF)

Os efeitos da escolha do Brasil começam a ser sentidos nas competições internas. Após a final do Campeonato Paulista, que levou 40.235 pessoas à Neoquímica Arena, o estádio do Corinthians, a nova edição do torneio começou na terça- feira 21, com onze times, transmissão de cinco veículos de comunicação e R$ 3,23 milhões distribuídos às equipes participantes.

O Corinthians defende o título conquistado sobre o São Paulo em novembro passado, no mesmo estádio e com público semelhante. As Brabas, como são chamadas as meninas corintianas, conquistaram o quinto título do Brasileiro em setembro passado, contra a Ferroviária, e seguem na liderança da primeira fase do Brasileiro 2024.

A Seleção Brasileira, convocada pelo técnico Arthur Elias, se apresentará no Recife na segunda-feira (27) para amistosos nos dias 1o e 4 de junho, contra a Jamaica, em preparação para a estreia nos Jogos Olímpicos de Paris contra a Nigéria, em 25 de julho. Terá Marta, 38 anos, cinco vezes eleita a melhor do mundo pela FIFA, que pretendia encerrar carreira em Paris. Isso antes do Brasil ganhar a sede da Copa 2027. A conferir as cenas do próximo capítulo protagonizadas pela Rainha.