O desastre e o PIB

Crédito: Nelson Almeida/AFP

Carlos José Marques: "O roteiro é conhecido, embora tenha assumido ares de drama com o capítulo inesperado da hecatombe gaúcha" (Crédito: Nelson Almeida/AFP)

Por Carlos José Marques

É impossível que o Brasil como um todo saia absolutamente ileso da tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul. No plano econômico, matematicamente elementar, o peso será grande, em um montante, naturalmente, ainda não precificado em seu total. Analistas falam que o impacto no Produto Interno Bruto (PIB) deve girar na casa dos 0,4% a 0,5%. É muita coisa. A praça financeira já reavaliou as estimativas de crescimento, para baixo. Um PIB que não prometia ser grande ao longo do ano pode, e deve, retornar a patamares medíocres de outrora. São meros números, decerto, mas tendem a afetar a vida de muita gente, com reflexos graves, tais como carestia, desemprego e desinvestimento. O chamado ciclo negativo volta a se retroalimentar. O Brasil não vinha bem, dada a impagável conta fiscal herdada do governo anterior, que pedalou adoidado nas despesas, com o beneplácito do Congresso, via orçamento secreto que molhava a mão de parlamentares para que eles emprestassem apoio ao “mito” capitão. Piorou de lá para cá e deve seguir a rota de ladeira abaixo. Restou de saldo bolsonarista, na farra das emendas, mais de R$ 80 bilhões como buraco, e o número foi subindo geometricamente. Veio Lula, e não aliviou. Passou a adotar o mesmo estratagema de agrado a congressistas — até por estar rendido nas mãos deles, refém de chantagem para poder governar e aprovar projetos de interesse nacional. O roteiro é conhecido, embora tenha assumido ares de drama com o capítulo inesperado da hecatombe gaúcha. A previsão conservadora dos economistas referente aos impactos prenuncia, por si só, tempos nebulosos pela frente. A gestão do demiurgo de Garanhuns está usando o dinheiro que não tem para atuar como pode na região afetada. Existe mérito na iniciativa. Ao menos o País possui um mandatário que não resolveu cruzar os braços, ignorar e passear de jet ski durante catástrofes, como fez o antecessor em meio à pandemia. A questão é o preço a pagar. Decorre da crise do momento uma série de vertentes críticas, desproporcionais sob certos aspectos. Não apenas a gestão Lula, como as estaduais e, de maneira rotineira, todas aquelas que a antecedem optaram por remediar, e não prevenir