Internacional

Conheça a nova face da extrema-direita europeia

Com a força crescente de partidos ultrarradicais em países europeus importantes, as eleições de seu Parlamento podem mudar rumos políticos no continente. Jordan Bardella é o modelo francês do jovem de discurso raso mas eficiente

Crédito: Joel Saget

"Não só seremos vencedores nas eleições europeias, mas também nas eleições presidenciais", diz Jordan Bardella, eurodeputado da extrema-direita francesa, candidato à reeleição (Crédito: Joel Saget)

Por Denise Mirás

Esperado crescimento da extrema-direita nas eleições ao Parlamento Europeu, a serem realizadas em cada um dos 27 países do continente, entre 6 e 9 de junho, preocupa a comunidade política da região, em razão da influência que esse grupo cada vez mais exerce em questões explosivas, como imigração, mudanças climáticas, transição energética, nacionalismo e guerra na Ucrânia. Essa força radical se estende aos países da região, como é o caso da França, com o eurodeputado Jordan Bardella, que se destaca aos 28 anos, com uma estampa bem trabalhada nas redes sociais. É tido como o herdeiro político de Marine Le Pen e visto como uma criação dela própria para “se desdiabolizar”, como os franceses dizem. Como um velho populista, Bardella atrai os jovens com um discurso raso, barulhento e individualista, que entrega “soluções” fáceis e imediatas para problemas complexos.

‘Bom moço’ radical

Eurodeputado candidato à reeleição, Bardella faltou a 70% das reuniões em comissões do Parlamento e nunca entregou um relatório em quatro anos.

Mas abre cada vez mais espaço para o Reunião Nacional em seu país, reinando principalmente no TikTok como “um cara jovial, sem meias palavras e independente de governo”, em contraponto a tradicionais políticos.

Os jovens dizem se identificar com o filho de imigrantes (pai italiano e mãe portuguesa) criado em “situação difícil” e que se diz “contra a burguesia”, mas paradoxalmente defende ideias xenófobas que agradam a uma faixa etária mais velha e mais privilegiada.

Manifestantes do AfD (Alternativa para a Alemanha), partido com membros que usam símbolos nazistas (Crédito:Jens Schlueter)

No Parlamento Europeu, os partidos nacionais de ultradireita estão se agrupando basicamente em torno do CRE (Conservadores e Reformistas Europeus) — como Fratelli d’Italia (Itália), PiS (Polônia) e Vox (Espanha) —, de verniz que se pretende menos autoritário, ou do ID (Identidade e Democracia) — com Reunião Nacional (França); Lega (Itália), VVD (Holanda) e AfD (Alemanha). O Fidesz (Hungria) terá papel importante, porque ainda não se definiu para que lado irá pender, como observa o Vladimir Feijó, especialista em Direito e Relações Internacionais.

“Esses eurodeputados trabalham com duas imagens — uma interna e uma internacional. Ganhando mais cadeiras no Parlamento, os partidos de extrema-direita abrem mais espaço em seus países e conseguem mais influência no Conselho Europeu, com chefes de Estado e diferentes ministros que, por sua vez, dependem de eleições nacionais.”

Para seguir na presidência do Conselho Europeu, Ursula von der Leyen busca apoio de extremistas no Parlamento (Crédito:Michael Kappeler)

São 400 milhões de eleitores em potencial, para escolher 720 eurodeputados com mandato de cinco anos e cadeiras distribuídas por país de acordo com sua população.

“A Alemanha tem 96 vagas, a França 81. Depois vêm Itália com 76, Espanha com 61 e Polônia com 53. São países onde a extrema-direita está muito forte, com propostas antieuropeias, antiimigração e de nacionalismo tacanho. Sempre as mesmas, mas agora buscando eleitores jovens por meio das redes sociais”, diz Roberto Goulart Menezes, do Instituto de Relações Internacionais da UnB.

As últimas eleições para o Parlamento Europeu tinham sido em 2019, ainda antes da pandemia e da guerra na Ucrânia, como lembra o professor Feijó: “Para 2024, o clima está muito pior. As questões mais importantes estão embaixo do pano e a culpa pelas dificuldades econômicas vai para os problemas externos, como a Rússia e a imigração”.

Os ultrarradicais propagam perigo e medo para ganhar mais visibilidade, assinala, mas não resolvem os problemas que existem de fato e ainda procuram frear ou reverter políticas sociais e ambientais.

“A Europa, na média, vive apreensiva, o que impede a leitura real do jogo geopolítico. Comprou uma briga grande demais para ela, com a guerra na Ucrânia. Sem o gás russo, gasta muito mais com energia. E ainda está perdendo um enorme mercado consumidor para suas exportações: a China. O continente empobrece e corre risco de entrar em colapso.”