Editorial

A resposta ambiental

Crédito: Carlos Macedo

Carlos José Marques: "O negacionismo que pauta boa parte dos extremistas ideológicos é um flagelo a mais a castigar os atingidos com fake news e toda sorte de ataques ideológicos" (Crédito: Carlos Macedo)

Por Carlos José Marques

A melhor definição da tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul nos últimos dias veio do vice-presidente do STF, ministro Edson Fachin: “Uma verdadeira bomba atômica da natureza explodiu ali”. De fato, a catástrofe tem proporções dantescas, de forma que quase nada restou. Aeroporto fechado até o mês que vem, rodoviárias idem, deixando uma população inteira ilhada, à mercê da fome e do frio. Mais de 85% dos moradores, além de hospitais, escolas, repartições públicas e todo o sistema de acolhimento dos desabrigados seguem, ainda neste momento, sem água potável — algo capaz de colocar em falência imediata qualquer tipo de estrutura sanitária ali existente. Na prática, o que ocorre na região gaúcha prenuncia uma nova e assustadora dinâmica do clima, demonstrando cabalmente que as transformações ambientais já estão em curso, deixaram de ser mera previsão apocalíptica dos ecologistas. O risco climático vem escalando padrões jamais vistos. É mais do que urgente a formação de um comitê multifuncional permanente, em esfera Legislativa e Federal, para tratar desses fenômenos. O governo fala na criação de um Plano Marshall de socorro financeiro, nos moldes americanos, que levou à reconstrução da Europa. Mas será preciso muito mais do que isso. São quase 300 municípios em estado de calamidade absoluta. O Estado gaúcho vai precisar de um volume colossal de recursos. Não há registro no Brasil de algo dessa dimensão e a solidariedade nacional terá de prevalecer para resgatar e reerguer a região. Tempos difíceis pela frente. O negacionismo que pauta boa parte dos extremistas ideológicos é um flagelo a mais a castigar os atingidos com fake news e toda sorte de ataques ideológicos. O Rio Grande do Sul em especial, mas decerto diversas outras partes do País, também estão expostos a catástrofes devido à falta de prevenção e investimentos para reagir adequadamente a tais situações. Uma sobreposição de fenômenos climáticos está em andamento e deve afetar, indefinidamente, a forma como vivemos neste planeta. Não há mais como não se levar a sério o que se tem pela frente nesse aspecto. Custa bilhões de reais adicionais ignorar o problema. Recuperar o Rio Grande do Sul, por exemplo, deve comprometer significativos valores de recursos e, por tabela, as expectativas de retomada do crescimento do PIB. A Confederação Nacional dos Municípios estima que os prejuízos com desastres naturais e eventos extremos, tempestades, estiagens prolongadas e seca custaram mais de R$ 105 bilhões aos cofres públicos. O Agronegócio, motor da economia brasileira, está irremediavelmente comprometido em seus resultados. Mas são as vítimas, entre mortos, feridos e desamparados que dão a real proporção do caos em curso. Milhões de pessoas não possuem nada para comer, beber ou vestir. Perderam a casa, os sonhos, o rumo. Projetos de reconstrução serão insuficientes no atendimento às necessidades básicas, mais prementes, dessa gente. Episódios extremos viraram rotina e resumem a realidade atual no Sul do País. O anticiclone que causou as chuvas gaúchas criou o que os meteorologistas chamam de um “domo invisível”, que provoca, em decorrência, um calorão no Rio de Janeiro, por exemplo. São fenômenos que transportam a humanidade para uma nova era e forma de viver. A pergunta que não quer calar é até quando o mundo, como um todo, irá correr atrás do prejuízo em meio ao aquecimento global. No Brasil, um dos caminhos para atenuar o drama seria o da integração das pastas de Saneamento e da Defesa Civil. Estava fora da agenda. Um volume de chuvas três vezes maior do que a média histórica tem se tornado padrão e colocado as centrais de monitoramento em alerta permanente. E o que vem depois é ainda pior. Em Porto Alegre, baratas e ratos invadem ruas do centro, após a inundação, gerando doenças e o racionamento de água impõe uma rotina extenuante para os moradores. Nas áreas de risco, o perigo espreita diariamente e as Prefeituras estão precisando retirar habitantes às pressas. Não são devaneios ou coisas de comunista pregar uma relação mais apropriada e profícua do homem com o meio ambiente. É questão de sobrevivência. Caso não seja levada a sério, tamanha ameaça só tende a crescer.