Os bons ventos estão de volta

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Carlos José Marques: "Existe quase um consenso de que o PIB deverá superar os 2% de alta, com chances de alcançar 3%" (Crédito: Divulgação)

Por Carlos José Marques

Não é pouca coisa o que vem surgindo de sinais alvissareiros no plano econômico brasileiro. Da inflação ao PIB, passando pelos primeiros resultados da safra agrícola, os números estão surpreendendo.

O ânimo do mercado segue, por tabela, na mesma toada. No câmbio, no movimento da bolsa e até mesmo nos cálculos das agências de risco predomina o otimismo.

A moeda real se valoriza, alcançando a melhor cotação em um ano. Os pregões de ações registram altas consecutivas há quase dez semanas.

É a mais prolongada onda de boas novas em muito tempo. O bicho papão da carestia parece afinal ter aquietado a cara feia. O IPCA registrou o menor índice acumulado dos últimos três anos. Por si só, seria motivo para soltar rojão. É algo que já foi capaz de estimular as apostas sobre a redução dos juros – por demais necessária – no curto prazo.

O Banco Central passou, finalmente, a considerar essa alternativa. O Banco Mundial (BIRD), repetindo um comportamento verificado anteriormente entre agentes da praça privada, recalculou para cima as projeções do Produto Interno Bruto nacional.

Existe quase um consenso de que ele deverá superar os 2% de alta, com chances de alcançar 3%, deixando para trás a longa fase de indicadores medíocres, na casa de 1%, que prevaleceram na última década.

A surpresa do respiro econômico tem causa e efeito conhecidos. As perspectivas de um arcabouço fiscal consistente, de uma reforma tributária – já em andamento – e das medidas anunciadas no campo social, que acabam provocando mais consumo, fazendo a roda girar positivamente, dão respaldo ao quadro atual.

O ambiente externo também está favorável ao comércio brasileiro e ajuda no processo. Com tamanho coquetel de ajustes, o motor da produção ganhou gás novo. Não é para menos que a avaliação do governo Lula 3, nesse primeiro semestre, superou de longe as de Bolsonaro, Temer e Collor, no mesmo período.

O mandatário vive assim, afinal, a sua lua de mel, após semanas consecutivas de bombardeio e de uma queda de braço extenuante com o Congresso. No atual momento, apesar da crise e feridas ainda abertas na política, o País está, sim, avançando.

É de se esperar – e aconselhável – que, para além dos agrados necessários aos parlamentares, ocorra uma reorientação de prioridades de Lula em direção à pauta econômica que tem lhe dado boa sustentação. De vital importância tal guinada.

Não há ainda motivos para euforia generalizada, mas a mudança de clima em uma área tão estratégica como a da economia foi capaz de gerar uma relativa melhora de humor no empresariado.

Para uma gestão que vinha sendo sistematicamente criticada e tratada com má vontade pelos senhores do capital significa um avanço e tanto. Afinal, enquanto a Europa mergulha em um período de recessão temerária, os EUA vivem um outono financeiro com desfecho ainda imprevisível e problemas em série fazem o terror indiscriminado no âmbito do Mercosul – tendo a Argentina como maior vítima, perto da quebra irreversível –, o Brasil vai passando bem.

Em reunião recente com economistas-chefes de grandes bancos, representantes de três das principais agências de classificação de risco do mundo apontaram que o Brasil demonstra ter voltado ao trilho, rumo a um patamar de “investment grade”, perdido anos atrás.

Alguns economistas, mais entusiasmados, chegam a apontar que o Brasil pode se tornar a próxima Suíça. É análise de gente de fora! No rol dos incentivos, a aposta principal, até por orientação direta do mandatário, foi no campo assistencial: Bolsa Família, Farmácia Popular, Merenda Escolar, Minha Casa, Minha Vida têm sido iniciativas a receber atenção prioritária.

Mas até isso acaba por impactar favoravelmente o ciclo virtuoso em andamento. Para a classe média, que mostrava-se mais refratária à volta de Lula ao poder, saiu agora o Desenrola, programa para renegociar pequenas dívidas, e o preço dos combustíveis, mais baixo a partir de uma mudança na política de cálculo, colaboraram da mesma maneira na conquista desse público.

Em Brasília, nas esferas do poder, predomina a impressão de que os bons ventos estão aos poucos, finalmente, voltando e, naturalmente, o governo quer surfar nessa pororoca de dados positivos para lustrar um pouco a imagem.