A mitomania patogênica do Sr. Musk e dos extremistas simpatizantes do seu estilo

Crédito: Jaap Arriens

Carlos José Marques: "O big shot quer a renúncia ou impeachment de Moraes. Risível, não fosse diabólico" (Crédito: Jaap Arriens)

Por Carlos José Marques

Desinformar no ambiente digital virou esporte e alguns aderem com tamanho entusiasmo à prática que não conseguem (ou não querem) nem mais distinguir fato de narrativa, realidade de fantasia, e partem para o tudo ou nada da lorota, achando que estão cobertos de razão e fabricando uma avalanche de mentirosos argumentos para tal. Eis outro caso típico em andamento por aqui e que vem reacendendo a discussão sobre o controle das redes sociais. A petulância insidiosa do bilionário Elon Musk, dono do “X” (ex-twitter), que resolveu peitar a Justiça brasileira e contrariar determinações legais, despertou em extremistas mais afoitos – a começar pelo ex-mandatário Jair Bolsonaro – o irrefreável impulso por gerar falsas polêmicas sobre liberdade de expressão. O senhor Musk, por deveras contestado nos seus métodos, que sempre desqualificam o debate e estão contaminando a internet com fake news, tem clara e abertamente incorrido em crime, quando desafia a Corte Constitucional, portanto um dos três Poderes da República do País, no afã de abrir o espaço do “X” para retóricas políticas difamatórias, apologia ao nazismo e a golpes de Estado, disseminação de discursos de ódio e infâmias. Chegou a veicular, sem qualquer fundamento ou respeito à verdade factual, que o ministro Alexandre de Moraes – a quem se referia como “Darth Vader” do Brasil – ameaçou os advogados do ex-Twitter de prisão caso não lhe entregassem informações privadas e pessoais. Isso nunca existiu. Tratava-se de um pedido do GAECO (grupo do Ministério Público contra o crime organizado), que queria dados cadastrais do PCC. Mas como na seara do sr. Musk vale o dito pelo não dito, a aleivosia serviu ao propósito e animou a turba dos lunáticos ideológicos que preferem conviver com a desinformação. Aproveitaram o mote. Passaram a martelar que seu novo herói da vez estava sendo alvo de “censura”. Fizeram um grande escarcéu, na esteira da projeção internacional que o caso tomou, para empurrar as recorrentes táticas de deturpação e adulteração de circunstâncias, enquanto hasteavam oportunisticamente a bandeira da injustiça, sob a qual alguns (como o ex-capitão “mito” Bolsonaro) se dizem vítimas. Tentavam, por tabela, reforçar a opacidade e dúvida geral de interlocutores quanto ao episódio, lançando neles o véu da ignorância e do analfabetismo funcional. Aos fatos, para que não restem insinuações indevidas ou versões covardes: o sr. Musk não vem sendo tolhido no direito elementar de opinar, expressar posições ou discordar de decisões. O que está em jogo e que pode encalacrá-lo, tendo de prestar contas nos tribunais daqui e de fora, seriam eventuais transgressões à ordem e deliberações da Corte brasileira, que bloqueou e baniu contas de blogueiros afrontosamente sabotadores da Constituição. Até aí nada de novo no horizonte. Qualquer pessoa física ou jurídica submete-se às leis, regras e ao Poder Judiciário das praças onde atua. Vale, obviamente, para o sr. Musk. Eventuais questionamentos ou discordâncias precisam ser tratados nos tribunais e fóruns adequados. Não é razoável partir para a desobediência e a contravenção. Que história é essa? Posicionar-se deliberadamente contra fundamentos civilizatórios e atingir instituições são atitudes fora do escopo. O sr. Musk extrapolou, não pairam dúvidas. Na fanfarronice congênita que alimenta, quis tratar o Brasil como uma republiqueta das bananas. Desprezou o Estado de Direito, defendeu a rebelião anárquica frente às resoluções do TSE e estabeleceu que iria, daqui por diante, descumprir o determinado. Bilionário ou não, passou do tom. Ainda pouco regulado, quase como uma terra sem lei, o ambiente digital tem, de fato, se prestado a determinadas bandidagens. Oportunistas os mais diversos, foragidos da Justiça, como o bolsonarista Allan dos Santos, aproveitam para delinquir, assediar e veicular mentiras, convertendo o espaço da rede em uma monstruosa esgotosfera, que já vem despertando preocupação mundo afora. O “X”de Musk, cujas receitas despencaram brutalmente (e lances de marketing assim procuram ajudar), está perdendo representatividade e respeito aceleradamente. A plataforma, por permissividade de Musk, vocifera alegações grosseiras, amontoa e embaralha documentos desconexos, e ainda tripudia de autoridades. O big shot quer a renúncia ou impeachment de Moraes. Risível, não fosse diabólico. Não é pouco o barulho que causou, mas ele, assim como seus seguidores, parecem conviver com anomalias incuráveis. Melhor desconsiderar.