A era da Estupidez Artificial generativa

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Luiz Cesar Pimentel: "Aos 18 anos, a pessoa passou o equivalente a 30 anos letivos diante de monitores" (Crédito: Divulgação)

Por Luiz Cesar Pimentel

Recebo, contrariado, a informação de que sou um influenciador. O desgosto diminui ao saber que a nota de corte para a condição é baixa: 1000 seguidores, perfil público e ativo lhe tornam um dos 13,5 milhões no País. A quase totalidade, inapta ao posto.

Pense na semântica do termo: você é qualificado a influir e modificar a opinião, o gosto, a crença de outros. Não compreendo por que ou para que alguém almeja esse poder. Mas 75% da geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) têm essa ambição. E eu a respeito.

O que não respeito são os rumos que a situação está tomando, ameaçando transformar adolescentes em diante em um exército de Brancaleone intelectual.

Não é segredo que a atual geração de jovens é a primeira a apresentar QI mais baixo do que a de seus pais. Tampouco é preciso ser gênio para saber que o tempo de tela é grande culpado pela prole que quebrou o “efeito Flynn” (a constatação de que o QI médio subiu 3 pontos por década desde 1932). Pudera. Aos 18 anos, a pessoa passou o equivalente a 30 anos letivos diante de monitores.

Fiz uma pesquisa rápida sobre os principais influenciadores e os únicos pontos em comum foram a pele branca e a boa aparência física. Não encontrei destaque real que os fizesse merecedores da atenção que têm. A não ser o Felipe Neto, que faz bom uso do palanque. Nada de esportista ou especialista no que quer que seja, a não ser que se considere maquiagem ou videogame uma especialidade.

Dobrei a aposta e fui checar como esses professores virtuais vêm se refinando para lecionarem. Descobri que o Ministério da Educação reconheceu no final do ano passado o curso de influenciador digital. A primeira instituição qualificada na pesquisa, que agora pode emitir certificados, é a Academia de TikTokers, criadora de autodeclarado “método que permite que pessoas sem criatividade consigam produzir conteúdo”. A FAAP criou a eufêmica cadeira “Formação de produtores de conteúdo”, com grade de quatro anos de produção de vídeos curtos, tratamento de imagem, videocasts, por R$ 5 mil mensais.

Sou favorável à graduação superior dos influencers. Até e principalmente pela responsabilidade que possuem. Desde que lhes seja explicitamente alertada a nociva capacidade de formação de bolhas de isolamento intelectual, onde só circulam assuntos e notícias que confirmam crenças do grupo. Barack Obama resumiu bem estas quando disse que passou um tempo assistindo ao canal Fox News até que começou a considerar não votar em sí próprio.

Os alicerces da inteligência são linguagem, concentração, memória e cultura; da estupidez, ausência de atividades enriquecedoras, sub estimulação intelectual, preconceito e falta de exposição a ideias diferentes. Nem é preciso recorrer à escolha da pílula azul ou vermelha.