Comportamento

A covid não morreu: aumento de casos assusta cientistas e governo

O Estado de São Paulo tem aumento de 85% nos casos de infecção pelo coronavírus e o Governo Federal admite que o Brasil não superou a doença como um grave problema público. Cenário é de retrocesso

Crédito: Ato Press

Pessoas lotam Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em Salvador, na Bahia: alerta epidemiológico (Crédito: Ato Press)

Por Elba Kriss

A explosão de casos de Covid-19 voltou a assustar a ala médica e é realidade nos postos e hospitais brasileiros. Apenas no Estado de São Paulo um aumento de 85% foi notificado, com informações de que o total de internados saltou de sete mil para 13 mil em 15 dias. As mortes, igualmente, tiveram alta: 54%.

As informações são do Info Tracker, ferramenta que monitora os índices do coronavírus. Quatro anos após o início da pandemia, decretada oficialmente em 11 de março de 2020, a situação ainda requer atenção.

No Brasil, o Ministério da Saúde admitiu que o olhar da pasta segue com temor. “Não superamos a Covid-19 como problema de saúde pública. Em função dos últimos números, permanece como uma doença de preocupação”, disse a ministra Nísia Trindade. Os dados recentes: 381.446 episódios em 2024, com 1.789 óbitos até 2 de março.

Há mais apurações que norteiam as autoridades. Segundo o recente boletim InfoGripe divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o número de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) aumentou 75% nas últimas quatro semanas em todas as regiões do País.

O coronavírus está entre os principais causadores desse disparo —uma prova de que o mal circula com sustentabilidade.

O cenário apreensivo foi desenhado, coincidentemente, no momento em que a gestão atual se reuniu no Seminário para Criação do Memorial da Pandemia de Covid-19, em Brasília. Em reunião com gestores durante a semana, a ministra relembrou – e culpou – o dramático negacionismo. “Foi uma ação contrária ao cuidado, quando o ex-presidente [Jair Bolsonaro] fez o gesto, em rede nacional, ridicularizando aqueles que perderam o ar durante a pandemia. Nada pode ser mais forte do que essa imagem”, disse Nísia. Mais de 700 mil vidas foram perdidas nesse período no Brasil.

(Divulgação)

“É um vírus bastante transmissível uma vez que vemos muitos casos dentro da própria família e do ambiente de trabalho.”
Celso Granato, infectologista

Por isso, ver os índices subirem é, de fato, motivo de retrocesso. “A evolução desses casos tem que ser avaliada com cuidado. É uma doença de transmissão respiratória com flutuação rápida. Nos últimos dias, tivemos diminuição da taxa de positividade de 30% para 24%. Mas ainda é muito alta. Precisamos acompanhar como será daqui para frente”, avalia Celso Granato, infectologista e diretor Clínico do Grupo Fleury. “Esse é um vírus bastante transmissível, uma vez que vemos muitos dentro da própria família e do ambiente de trabalho. Estamos todos preocupados.”

Combate às fake news e à desinformação: programa Saúde com Ciência em defesa da vacinação (Crédito:Rovena Rosa/Agência Brasil)

Cuidados

A ordem dos médicos diante do surto é retomar os cuidados preventivos, como uso de máscara e isolamento quando o contágio ocorre. “Não estávamos esperando, mas a doença realmente recrudesceu. Então, quem precisa revacinar ou atualizar a vacinação deve fazê-lo. Quem estiver doente deve permanecer isolado por, pelo menos, cinco a sete dias. Se o indivíduo necessita se expor, é preciso usar a máscara. Ela é necessária, especialmente, em ambientes com grande concentração de pessoas. Exemplo: transporte coletivo e ambientes de trabalho”, detalha Granato.

Imunização em dia é a prioridade. Mas a campanha ainda enfrenta embates. Pouco mais de três anos após o início da vacinação em solo nacional, a cobertura em crianças e adolescentes segue baixa.

• Em estudo divulgado pela Fiocruz, a informação é de que a cobertura em crianças de 3 a 4 anos está em 23% para duas doses e apenas 7% para o esquema completo com três doses.

• Na faixa de 5 a 11 anos, sobe para 55,9% com duas doses e 12,8% completando o esquema com três doses.

“Quando uma parcela significativa da população é vacinada, ocorre o que chamamos de imunidade de rebanho. Isso protege até mesmo aqueles que não podem ser vacinados — bebês, jovens ou pessoas com alergias graves”, explica Simone Fernandes, infectologista da rede de saúde dr.consulta. “É comprovado que a imunização reduz significativamente o risco de hospitalização e morte. Esse resultado é o mesmo esperado para a vacinação contra a dengue.”

Memorial da Covid-19: ministra da Saúde, Nísia Trindade, anuncia criação de museu em homenagem às vítimas da pandemia (Crédito:Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)

Mobilizar a sociedade sobre a questão é o ponto em São Paulo, segundo nota da Secretaria de Estado da Saúde (SES) à ISTOÉ: “A SES mantém o monitoramento constante do cenário epidemiológico – inclusive de variantes – em todo o território estadual e reforça a importância da vacinação, em especial as doses de reforço e a Bivalente”.

Condições pós-covid

O Ministério da Saúde, por sua vez, detalha que segue no mesmo ritmo com os esforços em todo o território. Neste ano, o Programa Nacional de Imunizações incluiu a vacina da Covid pediátrica no Calendário Nacional de Vacinação.

Para cidadãos com mais de 65 anos diagnosticados com o vírus, o órgão incluiu tratamento com o antiviral nirmatrelvir/ritonavir — medicamento que reduz o risco de complicações e mortes pela enfermidade.

Além disso, desde o dia 11 acontece a Epicovid 2.0: Inquérito Nacional para Avaliação da Real Dimensão da Pandemia de Covid-19. Uma ação para esmiuçar o avanço da infecção respiratória aguda.

“Durante o mês de março, serão realizadas visitas domiciliares a 33.250 indivíduos que tiveram Covid-19 em 133 municípios brasileiros que já fizeram parte de rodadas anteriores do trabalho, realizadas em 2020 e 2021. Todos os participantes serão selecionados de forma aleatória, por sorteio. Somente uma pessoa por residência responderá ao questionário. O objetivo é levantar dados para subsidiar a criação de políticas públicas direcionadas ao tratamento das chamadas condições pós-covid (covid longa), que são as sequelas”, adianta o órgão à reportagem.