Brasil

Corrupção, prisão, abandono… Saiba quem são os políticos que estão ‘ressuscitando’

Quatro personagens condenados que cumpriram pena por corrupção reaparecem na política nacional, ainda que de forma discreta. Dois deles, José Dirceu e Sergio Cabral, não descartam uma candidatura a deputado federal em 2026

Crédito: Zanone Fraissat

José Dirceu recupera progressivamente o prestígio dento do PT com o aval do presidente Lula e amplia os contatos políticos que vão além do partido (Crédito: Zanone Fraissat)

Por Marcelo Moreira

Dos salões mais nobres, no topo da vida política nacional, às masmorras por conta de condenações por graves desvios administrativos — e à improvável redenção após o cumprimento das penas. Quatro nomes importantes do cenário nacional se articulam para voltar, direta ou indiretamente, à arena política para oferecer “experiência” às suas causas e aliados de ontem e de hoje, como mencionou aquele que talvez tenha sido o mais poderoso de todos — José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil no primeiro governo de Lula, entre 2003 e 2006.

Três deles são petistas e mantêm o ardor e a paixão pelo partido e pela “missão de melhorar o Brasil” — conforme Dirceu disse a correligionários. Ele e os ex-deputados federais João Paulo Cunha e José Genoino, além do ex-governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, estão de volta.

Condenado por conta do escândalo do Mensalão — o esquema de compra de votos de parlamentares —, José Dirceu cumpriu pena no presídio da Papuda, em Brasília. Foi deputado federal, presidente do PT e o mais poderoso ministro do governo petista. Era tido como nome certo para concorrer à sucessão de Lula em 2010, mas foi abatido pelas denúncias de corrupção.

Livre após cumprir a pena, manteve uma fidelidade canina a Lula e ao PT. Nunca pensou em reclamar de suposto abandono enquanto esteve na prisão ou fazer qualquer tipo de delação premiada. Aos poucos refez a rede de contatos e voltou a ser influente na política nacional. Com vasta quilometragem política, tornou-se um dos mais requisitados consultores político-econômicos do País.

Fora da cadeia, João Paulo Cunha se tornou um advogado bem-sucedido e se reaproximou de Lula e PT (Crédito:Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Discretamente, voltou a frequentar reuniões do PT em 2022, a participar de conversas com membros da cúpula partidária e a dar palpites na gestão do terceiro mandato de Lula.

Segundo interlocutores nos círculos petistas, a volta José Dirceu teve o aval de Lula. Tem sido assíduo em debates partidários e se colocou à disposição para trabalhar nos bastidores nas eleições de 2024. Tem dito a amigos que não descarta uma candidatura a deputado federal em 2026.

A discrição também é a marca de João Paulo Cunha, outro petista enrolado nas denúncias de corrupção do Mensalão. Ex-deputado federal e ex-presidente da Câmara dos Deputados, caiu em desgraça e passou por tempos complicados até ser condenado definitivamente por participar do esquema de compra de votos e ir para a cadeia.

Formou-se em Direito enquanto esteve preso e conseguiu boa carteira de clientes ao se associar a escritórios importantes de advocacia em Osasco, cidade onde mora. Com bons contatos, recuperou a confiança de líderes petistas e de Lula, a ponto de acompanhar o então candidato a presidente na campanha de 2022. Avesso a entrevistas, comentou com amigos que não pretende disputar cargos políticos, mas que se sente satisfeito sendo consultado pelo partido e voltando a participar da vida do PT.

Ex-governador, Sergio Cabral terá de ter autorização da Justiça para se candidatar a deputado federal em 2026 (Crédito:Eduardo Anizelli/Folhapress)

Quem também foge das entrevistas é José Genoino, ex-presidente do PT, que também foi condenado no escândalo do Mensalão. Com menos ênfase, aos poucos foi recuperando a vontade de participar da vida petista a partir de 2022.

Amigos de longa data contam que ele está gostando de participar das reuniões do PT, sobretudo das que tratam da formação de novos quadros.

Costuma, inclusive, participar de “lives” transmitidas pelas redes sociais sobre assuntos ligados ao partido. Em uma delas, no ano passado, festejou a volta do PT ao poder, criticou a política econômica de Fernando Haddad e a manutenção do ministro da Defesa, José Múcio, após os atos de vandalismo em 8 de janeiro de 2023.

De olho na câmara

Outro que promete voltar é o ex-governador Sergio Cabral, condenado por corrupção durante o mandato no Estado do Rio de Janeiro, mas posto em liberdade por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

Ficou na cadeia por seis anos após ser processado e condenado em 2016 no âmbito da Operação Lava Jato. Deixou a prisão em dezembro de 2022. Menos discreto, acredita que poderá concorrer a deputado federal em 2026, segundo declarou ao podcast do jornalista Eduardo Tchao.

Para que isso ocorra, teria de obter permissão da Justiça, pois está impedido de exercer cargo público por conta da Lei da Ficha Limpa — foi condenado em segunda instância.

A questão é que está totalmente afastado da vida partidária. Compreensivelmente, amigos e aliados sumiram e o seu ex-partido, o MDB, quer vê-lo distante.

Atualmente, ele cumpre medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica. Foi alvo de 24 condenações, a maior parte por corrupção, e acabou submetido a penas que somam mais de 400 anos de prisão. Embora nenhum dos “ressuscitados” dê a certeza de que estarão na urna eletrônica em 2026, o certo é que hoje já não têm qualquer impacto na vida política nacional.