O vórtice da incerteza

Crédito: Divulgação

Laira Vieira: "Trama de 'O Mundo Depois de Nós' é permeada por um colapso de comunicações e um vórtice de incertezas, que ressoa de maneira notável com a era atual" (Crédito: Divulgação)

Por Laira Vieira

O filme O Mundo Depois de Nós (2023) – disponível na Netflix –, uma adaptação literária da obra homônima de Rumaan Alan, publicada em 2020, tem provocado divergências de opiniões. Prepare-se para uma experiência desafiadora.

Estrelado por Julia Roberts, Ethan Hawke, Kevin Bacon, Mahershala Ali – com produção de Michelle e Barack Obama –, a obra emerge como um suspense astuto que mergulha no medo do desconhecido, em um mundo que oscila entre a decadência social e a incerteza inerente do amanhã. Como disse H.P. Lovecraft, “A emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo, e o mais antigo e mais forte dos medos é o medo do desconhecido.”

A trama, que evolui da dinâmica entre as famílias Sanford e Scott, com suspeitas iniciais de golpes e racismo velado para algo mais sinistro – a perplexidade geral diante do desconhecido –, permeada por um colapso de comunicações e um vórtice de incertezas, que ressoa de maneira notável com a era atual, onde a disseminação acelerada de desinformação desafia a confiabilidade das fontes de informação.

Ao imergir nesse enredo intrigante, somos atirados em um cosmos onde a única constante é a incerteza. A genialidade do diretor e roteirista Sam Esmail (Mr. Robot, Risk), reside em desorientar a audiência – fazendo-a se sentir exatamente como os protagonistas –, algo que nem todos conseguiram apreciar, habituados à clareza didática presente em muitas obras.

As teorias fascinantes e aterradoras de G.H. Scott (interpretado por Mahershala Ali) oferece um espetáculo de especulações, deixando à audiência o papel de juíza de sua veracidade. Estaríamos testemunhando uma invasão estrangeira, um ataque orquestrado por hackers ou um golpe de Estado meticulosamente arquitetado? Não espere respostas fáceis na conclusão impactante. A promessa de que “sairíamos melhores após a pandemia do Covid-19” evapora-se diante da narrativa —, e infelizmente não só na ficção.

As suspeitas de golpes e os conflitos entre as famílias Sanford e Scott ecoam simbolicamente as tensões sociopolíticas, enquanto o apagão digital serve como um espelho para a vulnerabilidade da sociedade diante de eventos imprevisíveis. Em um cenário marcado pela fragilidade das estruturas sociais, a película se insere como uma peça reflexiva, incitando o espectador a questionar não apenas a trama fictícia, mas também a sua própria relação com a informação e a capacidade de adaptação em um mundo constantemente em transformação.

Então, ao embarcar em O Mundo Depois de Nós, convide sua mente a refletir com as nuances da obra e relembre o papel – muitas vezes ambíguo – da mídia em sua existência. Em quem e no quê você pode, de fato, confiar?