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Clã Sarney pode voltar ao protagonismo no Maranhão. ‘Culpa’ de Flavio Dino?

Alçado ao topo do Poder Judiciário com uma cadeira no STF, Flavio Dino deixa a política e um espaço a ser disputado no Maranhão, estado que ele vinha dominando eleitoralmente nos últimos anos, aumentando as chances de ressurgimento da família Sarney

Crédito:  Governo do Estado do Maranhão

Oito anos como governador foram suficientes para que Dino se tornasse o principal político do estado (Crédito: Governo do Estado do Maranhão)

Por Marcelo Moreira

A ida de Flavio Dino para o Supremo Tribunal Federal (STF) pode fazer ressurgir a força da família Sarney no Maranhão. Por vias tortas, o clã do ex-presidente da República está sendo cortejado por forças políticas antagônicas por conta da disputa pelo espólio político do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública. Por enquanto, o xadrez político indica posições cautelosas de vários atores, especialmente entre aliados e simpatizantes de Dino.

O Maranhão era o estado menos provável de se observar uma ruptura da estrutura vigente em uma eleição, com a perda de espaço político de um clã familiar poderoso e de projeção nacional. Ex-juiz federal e ex-deputado federal, o carismático Flavio Dino se elegeu governador pelo PCdoB em 2014 derrotando Lobão Filho, do grupo de José Sarney e de seu longo arco de aliados.

Como político de esquerda, o ex-ministro da Justiça demonstrou uma habilidade surpreendente para construir alianças e governar o estado mais pobre da União. Isso garantiu-lhe uma posição bem avaliada e rendeu-lhe a reeleição em 2018, enfrentando a onda bolsonarista que emergiu pelo país.

Com o sucesso eleitoral, construiu um grupo político forte, ao ponto de eleger o sucessor, Carlos Brandão, enquanto conquistava a vaga para o Senado, ambos então militando no PSB.

Aliado de primeira hora, Brandão aparece como o herdeiro natural do espólio político de Flavio Dino, que sai definitivamente do mundo político-eleitoral por conta do novo cargo. Conciliador e agregador, Brandão é menos aguerrido do que o padrinho político, o que não chega a ser um problema em uma terra onde José Sarney é a grande figura política – e que também não é muito carismático.

(Divulgação)

O governador Carlos Brandão é o maior candidato a ocupar o lugar de protagonista deixado por Flavio Dino, mas seu partido tem de vencer em 2024

O perfil conciliatório sofreu um contratempo quando decidiu assumir também a presidência do PSB estadual, o que o obrigou a tomar posição por conta da eleição de 2024 na capital, São Luís. Brandão pretendia ficar neutro e definir mais tarde seu apoio no pleito, mas a conjuntura o fez anunciar que vai buscar informações de pesquisas eleitorais antes de definir se vai apoiar a pré-candidatura de Duarte Júnior, deputado federal também do PSB e antigo protegido de Flavio Dino. Essa situação coloca em banho-maria a intenção de enfrentar, mais uma vez, o MDB da família Sarney, que hoje tem como sustentáculo a deputada Roseana Sarney.

Com o enfraquecimento do grupo de Dino, a família Sarney assume uma situação relativamente privilegiada, ao se aproximar do atual prefeito de São Luís, Eduardo Braide (PSD), candidato à reeleição. Aliás, Braide já havia derrotado Duarte Júnior na eleição municipal em 2020, em meio a um apoio vacilante dos Sarney.

A repetição do embate eleitoral deste ano pode voltar a empoderar o MDB, e os Sarney – além do ex-presidente, a ex-governadora Roseana e seus irmãos, Sarney Filho (ex-deputado federal) e Fernando Sarney (empresário de comunicação) – podem ser o fiel da balança na eleição de São Luís, a capital do estado, este ano.

Enquanto isso, outros nomes ligados a Flavio Dino tentam ocupar o espaço deixado por ele. O senador Weverton Rocha (PDT) é um nome de peso na política estadual que deseja ocupar a liderança no campo progressista.

Aliado desde sempre de Dino, o senador rompeu as relações com o ex-ministro da Justiça ao se sentir preterido em 2022 na escolha de Carlos Brandão como candidato do grupo ao governo do estado. Reavaliou seu posicionamento e reatou meses depois a amizade e a aliança, tanto que foi relator da indicação de Dino, no Senado, da apreciação de sua indicação ao STF.

Na sabatina, rasgou elogios ao então candidato a ministro da Suprema Corte. A saída de cena de Flavio Dino mexe também com a senadora Eliziane Gama (PSD). Eram bem próximos e ela contava, em algum momento, com o apoio do amigo para a sua campanha à presidência do Senado em 2025.

Senador Weverton Rocha terá de se esforçar para buscar espaço sem a sombra de Dino (Crédito:Pedro França)

Com o clã Sarney em evidência novamente, a eleição municipal deste ano se torna uma prova de fogo para o grupo político que gravitou em torno de Flavio Dino.

Uma vitória de Duarte Júnior consolidará uma transição que será marcada por rapidez poucas vezes vistas em se tratando de um nome bastante carismático como o do ex- ministro da Justiça.

Marcará ainda a afirmação de Carlos Brandão como a nova grande liderança maranhense. Já a derrota arranhará o prestígio do atual governador e deixará claro que eventuais substitutos no campo da esquerda não têm estofo para assumir a liderança.

Para Eduardo Braide, o atual prefeito, a situação não muda com o fim da influência de Dino na política maranhense. Continua favorito à disputa de outubro pela reeleição e, de certa forma, torce pela indicação de Duarte Júnior como oponente, um nome que já venceu e ainda tem resistências dentro do PSB e do próprio eleitorado.

Baixas na Justiça

A saída de cena de Dino provocou baixas também entre os integrantes do PSB que ocupavam cargos de destaque no Ministério da Justiça, como é o caso de Ricardo Cappelli, que deixou o posto de secretário executivo da nova gestão liderada pelo ministro Ricardo Lewandowski.

Outro pessebista que perdeu o cargo no ministério foi Tadeu Alencar, que deixou o posto de secretário Nacional de Segurança Pública para o chefe do MP-SP, Mário Sarrubbo.