Brasil

Eleições 2024/26: foco de Lula está todo no Nordeste

Repleto de simbologia, o giro de Lula pelo Nordeste inaugura a agenda eleitoral positiva do governo para tentar neutralizar o bolsonarismo

Crédito: Ricardo Stuckert

Governo federal aposta na “recuperação” do país para impulsionar candidaturas (Crédito: Ricardo Stuckert)

Por Marcelo Moreira

A linguagem bélica é recorrente nas análises políticas brasileiras recentes e se adequa bem à disputa que envolve uma região importante: o Nordeste é o principal campo de batalha por votos depois de mais uma vitória de Lula em eleição presidencial, com desempenho bastante favorável nos nove estados. É para a região que os estrategistas do PT e dos partidos de oposição liderados por Bolsonaro voltam suas baterias para ganhar espaço nas eleições municipais de 2024, mirando o pleito presidencial de 2026.

“Se a direita e a extrema direita pretendem desbancar Lula em 2026, terão de melhorar a performance no Nordeste, reduto em que Lula sempre teve muito voto”, diz o cientista político Cleyton Monte, da Universidade Federal do Ceará. “Lula sabe disso e não é por outro motivo que começou a pré-campanha para a eleição municipal de 2024 com uma ‘turnê’ pelos estados nordestinos, realizando inúmeros anúncios de investimentos para a área. Depois de um primeiro ano de seu terceiro mandato com muitas viagens internacionais para mostrar que o país estava de volta ao cenário mundial, agora é hora de reforçar a imagem de que o governo está atuante internamente.”

Entre os petistas, não há recado mais contundente de Lula quando ele decidiu priorizar os estados nordestinos neste momento. “O Nordeste deu a vitória a Lula e sinalizou que o país tinha de mudar. Acreditou-se no PT e temos de mostrar que a aposta foi certeira. O país mostra indicadores melhores em todas as áreas, sobretudo na economia, e temos de reforçar essa sensação. O Nordeste é um dos símbolos das mudanças que vieram com a vitória em 2022”, disse uma importante liderança petista que preferiu manter o anonimato.

Os nove estados nordestinos deram uma vantagem na região de 12,5 milhões de votos a Lula em 2022. Ele recebeu 69,34% dos votos válidos por lá – única em que ele superou Bolsonaro. A larga vantagem na região foi capaz de conduzi-lo à Presidência.

Resgate

O giro pelo Nordeste na semana passada foi embalado por uma palavra- chave: recuperação. E Lula não teve pudor em resgatar o tom de campanha eleitoral na visita à Refinaria de Abreu e Lima, em Ipojuca (PE), que está sendo ampliada, ao custo de mais R$ 8 bilhões.

“Eu peguei um país devastado por uma praga de gafanhoto, fruto do governo passado, que provocou um desmonte de políticas públicas. Fazia quase sete anos sem reajuste na merenda escolar, por exemplo. Estamos reconstruindo o País.”

• Em Salvador (BA), assinou um acordo para a implantação do Parque Tecnológico Aeroespacial na cidade, com a presença de importantes militares;
em Fortaleza (CE), anunciou a criação do ITA (Instituto Tecnológico Aeronáutico), com investimento de R$ 50 milhões.

Lula enfatizou em discursos na viagem ao Nordeste como uma democracia vigorosa viabiliza investimentos em infraestrutura (Crédito:Ricardo Stuckert / PR)

Começar pelo Nordeste as viagens pelo Brasil teve as digitais do ministro da Educação, Camilo Santana (PT), um dos mais próximos colaboradores do presidente. Ex-governador do Ceará por dois mandatos, é considerado um astuto estrategista político e foi um dos que convenceram o presidente a reforçar a presença do governo federal e do PT nos estados da região para frear eventuais avanços de aliados de Bolsonaro.

Nas três maiores capitais da região – Salvador, Recife e Fortaleza –, os aliados do partido estão em boa situação para a disputa municipal, mas em quase todos o PT está abrindo mão da cabeça de chapa para apoiar aliados da base no Congresso.

• Em Salvador, por exemplo, o candidato de Lula a prefeito deverá ser Geraldo Júnior (MDB). Em outras capitais da região, a aliança de Lula também não está tão bem.

• Em Fortaleza, tradicional reduto petista, já começa a preocupar o crescimento do nome do deputado federal Capitão Wagner (União Brasil), que está ganhando o apoio de parcela expressiva dos políticos conservadores.

O plano do Palácio do Planalto é estabelecer uma agenda positiva mostrando que o governo está atuante e trabalhando, com uma série de inaugurações de obras, que fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e de conjuntos habitacionais do programa Minha Casa, Minha Vida.

Passa também por reforçar as mensagens da propaganda de outro programa, o Bolsa Família, que atende a uma população numerosa no Nordeste, boa parte dela adepta de correntes evangélicas, que Lula deseja conquistar.

A Conferência Eleitoral PT 2024, realizada em dezembro passado, em Brasília, já havia indicado como o partido trataria as eleições municipais: como um imenso tabuleiro de xadrez, onde cada movimento seria realizado dentro de uma ação maior, visando a eleição presidencial de 2026.

O bolsonarismo é visto como o grande perigo a ser combatido, segundo o discurso de Lula no evento. E a guerra apenas está apenas recomeçando.