O país do golpe

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Mentor Neto: "Foi-se o tempo dos golpes românticos da malandragem, vendendo terrenos na Lua" (Crédito: Divulgação)

Por Mentor Neto

A tecnologia não foi feita para o brasileiro.

De verdade.

Para usar as mais recentes inovações do mundo digital, nosso povo é como crianças que, para certas atividades, necessitam de constante supervisão de um adulto.

Sabe como é? Você dá uma tesoura para uma criança de 5 anos e tem que ficar perto para que ela não se corte?

Pois acontece o mesmo com brasileiros de todas as idades.

Toda santa vez que surge algo novo, em poucos dias aparecem os primeiros casos de gente usando essa tecnologia para o mal.

É o golpe da maquininha de cartão, golpe do site de vendas, golpe do PIX, golpe do WhatsApp, golpe daquele banco online e por aí vai.

Imagine a energia gasta para criar e implementar todos esses golpes.

Gente que, obviamente possui alguma inteligência gente que, muitas vezes, domina eletrônica ou ferramentas de programação.
Que maravilha seria se todo esse esforço fosse utilizado para o bem.

Pior.

O desperdício de tempo e esforços não está só do lado da criminalidade, quem dera.

Porque o lado honesto da sociedade também precisa direcionar esforços para combater todos esses golpes.

Inovação, de verdade, é roubar seu dinheiro digital

Recentemente o governo lançou o aplicativo Celular Seguro.

Claro que é uma iniciativa digna de méritos.

Mas pense no absurdo dessa situação: os roubos de celular chegaram a um volume tão grande que o governo, com tanta coisa para fazer, teve que redirecionar gente, dinheiro, inteligência, recursos enfim, para criar alguma maneira onde a própria vítima possa tentar recuperar seu bem roubado.

E os bancos? Imagine o investimento que precisam fazer para evitar fraudes e roubos de todos os tipos, de hackers
a cartões clonados.

Não que esse gasto faça falta quando contabilizam os lucros no final de ano, mas vocês entenderam do que estou falando.

É a questão filosófica que conta. Esforços desperdiçados.

Redes e mais redes de crimes digitais nos cercam e obrigam a estar sempre atentos.

Essa semana por pouco não caí num desses golpes.

Recebi uma ligação de um banco onde tenho conta mas quase nunca utilizo.

A ligação alertava sobre uma compra de R$ 1.782,00 num varejo conhecido.

E, veja, a ligação era perfeita. Uma voz feminina gravada, com aquele ritmo típico e pausas exageradas para cada algarismo do valor, pedia que eu aguardasse para falar com um atendente.

O sujeito entrou na linha com um script perfeito. Mas num momento, pediu que eu aumentasse o limite dos gastos, na tela do aplicativo, para que ele pudesse concluir o cancelamento da compra.

Nessa hora me dei conta que se tratava de um golpe e interrompi o sujeito.

Aí arrisquei perguntar para o fulano sobre como funcionava o tal golpe.

E não é que o canalha topou conversar?

Me contou tudo. Como compram bancos de dados de bancos, como selecionam as vítimas, tudo.

Desconfiei e o desafiei a falar o que sabia de mim.

E o danado sabia. Sabia meu endereço, CPF, e-mail, quantos filhos eu tenho, até a placa do meu carro conferia.

Perguntei quanto ganham por dia.

Nessa hora, confesso, fiquei inclinado a pedir um emprego, mas resisti.

A verdade é que ao desligar a ligação, senti um desânimo profundo.

Porque isso não tem mais volta.

Vai ser cada vez pior.

Quanto mais nossa vida depender de ferramentas digitais, mais golpes vão surgir nos amaldiçoando com uma vida onde não teremos descanso nos defendendo de ataques ao nosso patrimônio.

Foi-se o tempo dos golpes românticos da malandragem, vendendo terrenos na Lua.

Agora são tempos de Inteligência Artificial.

Então fique atento, porque enquanto você está lendo essas linhas tem gente criando o golpe do chatGPT.