A Semana

O País tem recorde de denúncias de trabalho escravo

Crédito: Polícia Federal/Divulgação

Polícia Federal resgata pessoas em situação análoga à escravidão: rotina (Crédito: Polícia Federal/Divulgação)

Por Antonio Carlos Prado

Estamos caminhando há mais de dois milênios, mas alguns atos humanos seguem a negar o menor signo civilizatório. Fala-se de trabalho em situação análoga à escravidão. Na semana passada divulgaram-se alguns dados referentes a essa ignomínia no ano recém-acabado. Foi o período de recorde em denúncias. Segundo o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, contabilizaram-se 3.422 casos em doze meses. O crime faz sua escalada: 1.915 relatos em 2021; 2.119 em 2022; 3.422 em 2023. Felizmente, a atuação da Polícia Federal também está se dando de forma mais eficaz, constante e rigorosa. Ao longo do ano passado, foram resgatadas dessa situação sofrida e degradante 3.151 pessoas. Um fato surpreendente envolve o Sudeste. Trata-se de uma das regiões mais desenvolvidas do Brasil e concentra o maior número de trabalhadores escravizados: 1.129 indivíduos, seguida pelo Centro-Oeste com 773 casos. Em áreas rurais predomina essa exploração nas lavouras de café e cana-de-açúcar e em atividades gerais de sustentação à agricultura.

HISTÓRIA
A “mal-assombrada” mansão de Samuel Taylor e Jane Austen

PRESENTE: o terreno hoje é de uma offshore das Ilhas Virgens Britânicas (Crédito:Divulgação)

Um grupo de diversas organizações preservacionistas inglesas anunciou que tentará restaurar uma mansão de aproximadamente cento e trinta hectares localizada no Condado de Monmouthshire, no Reino Unido. Motivo: projetada no século 18, ela serviu de inspiração a poetas e escritores que realizaram obras até hoje consideradas clássicas. Dentre os grandes autores que se inspiraram nesse casarão de estilo neoclássico constam, por exemplo, William Wordsworth, Samuel Taylor e Jane Austen. Foi justamente nele, hoje completamente abandonado, deteriorado e tido como “mal-assombrado”, que Jane Austen, dotada de refinada ironia, baseou-se para escrever o famoso romance Mansfield Park. Mais significativo ainda, pela perspectiva histórica, é o fato de essa mansão ter sido o berço, com Taylor e Wordsworth, do romantismo na Inglaterra — são autores da imortal obra Lyrical Ballads, de 1798, em que se faz realçar o famoso poema “The rime of the ancient mariner”. O terreno da mansão, a qual funcionou como um templo literário, atualmente pertence a uma empresa offshore, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas.

CRIME
Hamlet e o caso Marielle

Quando o conselheiro Polonius pergunta ao príncipe Hamlet sobre o que ele está lendo, a resposta é “palavras, palavras, palavras”. O personagem de William Shakespeare é universal. A execução de Marielle Franco foi em 2018. Se palavras fossem mais que “palavras”, os galalaus políticos do assassinato estariam presos. Ela foi morta e a policia civil do Rio de Janeiro garantiu que “em breve tempo” tudo “estará esclarecido”. O tempo passou e ridiculamente a polícia veio dizer que a questão era difícil por “envolver políticos” (gente, que descoberta!). O tempo seguiu, e Flávio Dino, quando assumiu o Ministério da Justiça e Segurança Pública, nas primeiras palavras de seu pronunciamento prometeu resolver o assunto. Lá se vai ele para o STF, e o mistério fica empacado. No final de 2023, ele retomou as palavras: “reitero que o caso em breve será elucidado”. Na semana passada, o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, foi além de Hamlet (nas “palavras”): cravou que dará uma “resposta final” no primeiro trimestre desse ano. O brasileiro é crédulo. No segundo trimestre estará mais uma vez diante apenas de “palavras, palavras, palavras”.

Marielle: cadê os galalaus? (Crédito:Mario Vasconcellos)
Hamlet: no Brasil, distorcido (Crédito:Divulgação)

INTERNACIONAL
França tem o seu mais jovem premiê

Desde a semana passada, a União Europeia tem um poderosíssimo político com somente 34 anos de idade. Trata-se de Gabriel Attal, novo e mais jovem primeiro-ministro da história da Quinta República francesa, iniciada em 1958. Assumidamente gay, ele substituirá no cargo Elisabeth Borne – Attal estava na pasta da Educação, mas Emannuel Macron (também o mais jovem presidente, eleito em 2017 com 39 anos) o alçou a premiê. Ele é o primeiro chefe de Estado a dar na Europa a máxima proeminência política aos LGBTQIA+. A sua ascensão vem sendo meteórica e é apontado como sucessor do próprio Macron.

Gabriel Attal: sucessor de Macron? (Crédito:Ludovic Marin)