Cultura

Biografia de Thomas Mann por Colm Tóibín é pura magia

Após publicar uma premiada biografia romanceada do britânico Henry James, o escritor Colm Tóibín retrata a vida de Thomas Mann na tensa Alemanha pré-Segunda Guerra

Crédito:  Dr. Ruth Gross Abraham Pisarek

Thomas Mann: autor de "Morte em Veneza" partiu para o autoexílio nos EUA (Crédito: Dr. Ruth Gross Abraham Pisarek )

Por Felipe Machado

O problema da maioria das biografias romanceadas é que nunca se sabe ao certo o que é fato e o que é versão, nem quanto o autor se rendeu à vontade pessoal de se expressar utilizando seu homenageado como plataforma para suas próprias ideias. Há casos, porém, em que o leitor confia tanto no talento e caráter do biógrafo que se deixa levar pela história como se estivesse diante de algo totalmente real. É o caso de O Mágico, obra em que o premiado escritor irlandês Colm Tóibín retrata a vida de outro autor, o alemão Thomas Mann, Nobel de 1929.

O que torna o texto de Tóibín tão crível? Além de seu rigor estilístico, salta aos olhos a influência narrativa que ele traz de uma longa carreira no jornalismo. Crítico literário e autor de antologias sobre literatura irlandesa, foi editor da lendária revista Magill, publicação política que se tornou referência na Europa dos anos 1980.

Abandonou a carreira para se dedicar à literatura, tendo lançado uma série de obras até seu primeiro romance de reconhecimento internacional: O Mestre, de 2004, é a biografia romanceada de outro escritor, o britânico Henry James.

Colm Tóibín: rigor estilístico e experiência como jornalista (Crédito:Ulf Andersen)

O autoexílio nos EUA

Tóibín retoma o gênero em O Mágico, livro em que traça com maestria a vida do autor de ao menos dois cânones da literatura ocidental, A Montanha Mágica e Morte em Veneza.

Filho de uma família de posses, Thomas Mann decepcionou o pai ao desistir dos negócios para escrever. Publicou Os Boodenbrook aos 26 anos, idade em que se casou com Katia Pringsheim, uma rica herdeira de Munique.

O casal teve seis filhos, mas vivia sob as regras de um acordo tácito em que a mulher aceitava o homossexualismo de Mann.

Tóibín, que também é homossexual, trata o tema com sensibilidade e inclui personagens históricos que chamam a atenção do leitor: enquanto o físico Albert Einstein flerta com Katia, Alma Mahler, esposa do compositor Gustav Mahler, se insinua para Mann, sem sucesso.

Quando Adolf Hitler chegou ao poder, em 1933, exiliaram-se na Suíça — Katia era judia. Quando a Segunda Guerra explodiu, Mann levou a família para os EUA, país onde, segundo ele, havia um respeito maior à liberdade.