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Mulheres CEOs chegam ao topo

Se antes os altos cargos em grandes empresas eram considerados masculinos, hoje isso está mudando. A presença feminina nas presidências das organizações brasileiras subiu para 17% em 2022, um aumento de quatro pontos percentuais em relação a 2019

Crédito: Giovanna Aurélio

Representatividade: Fernanda Brandão é CEO da Agência Brands, onde 99% de seus funcionários são mulheres (Crédito: Giovanna Aurélio)

Por Mirela Luiz

Nos últimos anos, temas ligados à equidade, diversidade e inclusão começaram a ocupar cada vez mais a pauta de discussão. O estudo Panorama Mulheres 2023, realizado pelo Insper e o Talenses Group junto a 381 empresas de todo o País, apontou que mais mulheres têm ocupado cargos de vice-presidência (de 23% para 34%), em conselhos (de 16% para 21%) e na presidência (de 13% para 17%). “Uma das coisas que a gente observou na pesquisa foi um crescimento da participação das mulheres nesses cargos, o que é um crescimento consistente se a gente olhar desde a primeira edição do projeto até agora”, explica a professora Ana Paula Rodrigues Diniz, coordenadora do Núcleo de Estudos de Diversidade e Inclusão no Trabalho do Insper.

De acordo com o relatório do instituto, quando a presidência é feminina, a proporção de mulheres em postos de decisão pode até triplicar – nos conselhos de administração das empresas, a quantidade de executivas é 2,7 vezes maior do que nas empresas em que o posto máximo é ocupado por homens.

“Vejo o aumento da presença das mulheres em cargo de liderança no mundo corporativo como uma mudança fundamental. Na Bayer, em 2022, passamos a contar com 56% de mulheres na alta liderança do grupo. Há dez anos, esse número era 7%.”
Malu Nachreiner, CEO da Bayer no Brasil

Malu Nachreiner (acima), CEO da Bayer no Brasil, e Jéssica Gordon (abaixo), CEO e fundadora da startup Bebida na Porta, são exemplos de sucesso e persistência (Crédito:Marcelo Ribeiro)
(Crédito: Marco Ankosqui)

As vantagens de apostar na diversidade de gênero vão além da esfera social. A equidade nas organizações é capaz de ampliar receitas e permitir avanços substanciais em temas como governança e sustentabilidade.

Um exemplo é o da empresa Bebida na Porta, que começou em 2018 e hoje é um dos maiores nomes no setor de entrega ultrarrápida na indústria de bebidas. “Comecei em 2018 na direção da empresa e hoje somos o maior grupo nesse nicho do mercado”, declara a CEO e fundadora, Jéssica Gordon.

Falar em liderança feminina também remete à ocupação de posições estratégicas por elas, seja no mundo corporativo ou à frente de seus próprios empreendimentos.

De acordo com dados do Instituto Rede Mulher, o Brasil ocupa a sétima posição no ranking mundial de empreendedorismo feminino.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) constatou que, no quarto trimestre de 2021, a participação feminina na esfera dos negócios correspondia a 34%, com mulheres gerindo 10,1 milhões de empreendimentos no Brasil.

Com equidade em relação ao salário dos homens, o ganho social seria considerável. Mundialmente falando, esse tipo de benefício foi medido por entidades como a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que estima um aumento do PIB da ordem de US$ 6 trilhões se elas obtivessem equidade nos salários.

Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB global cresceria 35% com a igualdade de gênero nas relações de trabalho. Anna Bolkhmat, que está à frente da multinacional de entregas Flowwow já atuou em cargos de liderança pelo mundo e acredita que uma das razões que desmotivam ainda as mulheres é a disparidade salarial. “Isso pode ter um impacto negativo na falta de estímulo e no desejo de progredir na carreira”, declara.

O estudo do Insper mostrou também que mulheres presidentes alavancam a equidade racial nos cargos de liderança.
Nas empresas em que a presidência é masculina, 90% da liderança é composta por pessoas brancas. Nas empresas com o cargo ocupado por mulheres, esse percentual cai para 75%.

“Tenho uma equipe hoje composta 99% de mulheres. Acredito que os maiores desafios são aquelas questões de capacitismo quando nos apresentamos como uma empresa majoritariamente feminina. Mas, é algo que estou sentindo muito menos”, conta Fernanda Brandão, CEO da Agência Brands, do setor de comunicação.

Equidade de gênero

Em sua edição 2020, o estudo “Diversity Matters”, da consultoria McKinsey, comprovou que organizações que possuem equipes executivas com equidade de gênero têm 14% mais chances de superar a performance dos concorrentes. Aquelas em que os funcionários percebem maior equalização entre as oportunidades para mulheres e homens possuem 93% maior probabilidade de obter um desempenho financeiro superior ao da concorrência.

“Assumi recentemente a liderança na Campari Brasil, mas pelas demais empresas que passei como CEO, ou líder de negócio, desde 2016, na maioria dos casos como a primeira mulher na posição, o que pude perceber de avanços foi a humanização da gestão e a aceleração da diversidade das equipes”, conta Amanda Capucho, primeira mulher no cargo de liderança da Campari brasileira.

Apesar dos avanços, Ana Diniz, do Insper, reforça que ainda há muito a ser conquistado em termos de diversidade de gênero no alto escalão e mostra que a maioria das CEOs no Brasil está em empresas de pequeno porte, familiares, de capital fechado e no setor de serviços. “As empresas que essas mulheres lideram são principalmente de capital fechado, portanto, menores. Se por um lado estamos crescendo, ainda não progredimos no mesmo ritmo nas empresas de maior porte e nas organizações de setores industriais”, analisa a professora.