2024 será ano do reencontro
Por José Vicente
Da intentona do golpe contra a democracia à brava resistência da sociedade civil e à recondução do País aos trilhos da normalidade pelo vigor e correção de nossas instituições, o povo brasileiro demonstrou à exaustão seu compromisso inabalável com o propósito de construir um Brasil suportado pelo Estado Democrático de Direito e regido por uma Justiça que garanta e promova a igualdade de todos sem discriminação de qualquer natureza, sobretudo aquelas fundamentas na raça ou cor de pele.
O País fez isso resistindo e combatendo nas ruas, nas redes e mesmo dentro das casas, as forças maléficas da discórdia, da negação e do vilipêndio da dignidade humana. E fez isso também acolhendo estimulando e construindo medidas e ações de superação, fortalecimento e valorização da sua índole e da sua natureza histórica, ou seja, um Brasil de mistura de raças, um povo de todas as cores que se junta e nos transforma numa Nação da diversidade cujos componentes possuem trajetórias, histórias e contribuições sociais relevantes que precisam e devem, democraticamente, ser registradas, destacadas, imortalizadas e celebradas por todos.
Nada retratou de forma mais cabal esse acontecimento do que, primeiramente, o feriado estadual da Consciência Negra, sancionado pelo governo Tarcísio de Freitas, em celebração ao aniversário da morte do líder negro e herói nacional Zumbi dos Palmares, no Estado de São Paulo, e, depois, e, por consequência, o feriado nacional pelo mesmo motivo aprovado pelos deputados federais e senadores, a partir de reinvindicação da nova bancada negra no Congresso Nacional.
O ano que devolverá a todos nós o orgulho de sermos muitos e uma só Nação de plurais e diversos
Nem a fúria do silenciamento, a violência da demonização ou deturpação da história foram capazes de apagar e destruir a força da luta e a grandeza da honra e da glória de Zumbi. Ardilosamente transformando em rebelde sem causa e pária da história, Zumbi, pela historiografia oficial do colonizador de ontem e de hoje, foi ressuscitado pelos negros e pelo povo brasileiro como referência viva da trajetória imemorial de luta, resistência e defesa implacável da justiça, igualdade, liberdade e da dignidade humana.
Se for verdadeira a máxima de que um País não se constrói sem heróis e nem sem sua homenagem pública, no ano que virá, quando a Nação celebrar o primeiro feriado nacional em memória a vida e obra do maior ícone negro da luta da liberdade e igualdade de todos, terá transformado 2024 no ano que marcará o mais profundo reencontro do País consigo mesmo. O ano que devolverá a todos nós o orgulho de sermos muitos e uma só Nação de plurais e diversos. Valeu Zumbi, valeu povo brasileiro.