Brasileiros do Ano/Comunicação: Mion e a arte da adaptação
Marcos Mion realiza façanha de substituir protagonismo de programa consagrado na maior emissora do País e firma-se como um dos grandes comunicadores brasileiros
NA COMUNICAÇÃO – Marcos Mion, apresentador, ator e ativista social
Por Luiz Cesar Pimentel
O teatro salvou a vida de Marcos Mion. Ou pelo menos sua saúde física e mental. Quando tinha 14 anos, ele perdeu o irmão mais velho, Marcelo, que faleceu ao cair do vão livre do MASP durante comemoração de ingresso em faculdade de medicina. A perda o levou à depressão e a aumentar seu peso, que superou 100kg. Ele atribui à descoberta das artes cênicas, junto aos tratamentos medicamentoso e psicológico, a cura.
Mion estreou na TV em 1999, como participante do seriado Sandy & Junior, na Rede Globo. De lá foi para a MTV, onde fez história com o programa Piores Clipes do Mundo e comandou a primeira versão de Supernova. Recebeu convite da Band, apresentou Descontrole, caracterizado por improvisos ao vivo, e retornou à MTV na condição de estrela do canal. Nessa segunda fase na emissora musical, lançou Covernation, The Nadas, Descarga MTV e Quinta Categoria.
Em meio à trajetória de programas televisivos, combinou atuações no teatro – Mãos ao Alto, SP!, Camila Baker – A Saga Continua e Kopenhagen –, cinema – De Cara Limpa – e novela – Bicho do Mato. Também atuou em videoclipes.
No final de 2009 foi para a TV Record e lançou criação sua, o Legendários, simultâneo na TV e internet, em versões distintas. Lá, comandou o reality musical Ídolos e A Fazenda, até sua saída no começo de 2021.Antes de estrear o Caldeirão na Rede Globo, trabalhou na Netflix Brasil. No Multishow, apresenta os festivais Rock in Rio e Lollapalooza. Para 2024, estrelará longa no cinema.
No começo de outubro, o apresentador Marcos Mion chorou durante exibição do programa que conduz na Rede Globo, o Caldeirão com Mion. Ele comemorava dois anos da atração na emissora, após mais de década na TV Record e outros seis na MTV, com passagem pela Band.
Aos 44 de idade e 24 de carreira, disse para os telespectadores que não aceitassem “atalhos para alcançarem objetivos” e se orgulhou de “não ter precisado passar a perna em ninguém” para a conquista.
“2023 foi um ano abençoado profissionalmente, de muitas conquistas e reconhecimento. Como dizem por aí: chegar, muitos chegam, mas se manter é o grande desafio. 2023 foi isso: um ano de me estabelecer, de manutenção para sedimentar o que foi plantado e começar a jogar novas sementes”, diz em entrevista à ISTOÉ.
Foi o ano que ele cravou o nome no programa que tivera Luciano Huck como dono por 21 anos, sendo que tinha missão inversa ao assumir a atração – foi chamado no segundo semestre de 2021 para dar encerramento digno ao Caldeirão.
Sua liderança no auditório deu tão certo que ele assumiu a tarde de sábado da Globo enquanto Huck pegou o bastão da tarde de domingo de Fausto Silva. Motivo para desabar ao vivo, Mion tinha desde sua chegada à emissora.
Em 2020, ele pagou promessa junto à mulher, Suzana Gullo, pela cura de câncer de mama desta. Os dois entraram ajoelhados na Basílica de Aparecida, local sagrado da santa de devoção de Mion. Repetiu a dose em 2021, quando foi contratado pela Globo, ao caminhar 110km a pé por estradas de terra de Minas Gerais até a basílica para agradecer.
Naquele momento, estabilidade profissional era tudo o que Mion não possuía. Começou o ano apresentando o reality A Fazenda, na TV Record. A publicação de notícia de que estaria negociando com a emissora carioca fez com que seu contrato fosse rompido e ele abandonasse a atração da noite para o dia.
Em março, foi realmente convidado pela rival para comandar o reality No Limite, mas carregava um impedimento temporário de se associar a qualquer programa do tipo. Até o chamado que o levou ao auditório do Caldeirão, à peregrinação, ao choro no palco e ao reconhecimento como comunicador.
“Eu sou um estudioso, um amante da arte de se comunicar. Isso fica evidente desde cunhar uma forma pessoal e característica de expressão até prezar pelo que hoje pode ser considerado contracultura: o ‘textão’. Com a boa comunicação a vida é mais bonita, funciona melhor, casamentos e relações se salvam, crianças aprendem, autistas evoluem, a paz pode ser selada, a dor é amenizada, a mente fica saudável, e nós conseguimos atingir objetivos grandiosos. Ou seja, receber o prêmio de comunicação é, pra mim, uma evolução. Me sinto respeitando e fazendo parte da nossa evolução. Um reconhecimento não só do artista, mas do ser humano”, diz sobre a premiação.
“Comunicação é um dos maiores poderes que um ser humano pode ter. O que nos destaca como espécie sobrevivente na história é a capacidade de organizar uma ideia, uma vontade, um pensamento para ser executado em grupo”
Ironicamente, uma das críticas mais recorrentes que recebe é a de exagero emocional na tarefa. Porém, foi justamente a exposição de emoção o que garantiu a assinatura de Mion em todas as atrações que lidera. Foi assim em A Fazenda, durante três temporadas, em Ídolos e nos Legendários. Passagens que o tornaram fluente na linguagem digital e que o converteram em um dos principais comunicadores multiplataforma do País.
Transparência que ele carrega para a vida privada. Uma de suas batalhas de vida é pela inclusão de portadores de transtorno do espectro autista, como seu filho Romeu, de 18 anos. A luta particular da família ganha as telas ano que vem, aliás.
Ele será o protagonista de filme que retrata lutador de MMA ao descobrir ser pai de criança dentro do espectro.“Eu nunca estou satisfeito. Sempre tenho planos que sei que tenho que jogar nas mãos de Deus, pois não há nada que possa fazer, além do que já faço, para que aconteçam. Isso me dá uma boa relação com o futuro: trabalho intensamente para viver todos meus sonhos e vontades e sei trabalhar a ansiedade. Meu futuro como comunicador vai ser repleto e intenso para honrar minha massa branca (a região da comunicação) cerebral”, conclui.