Mercado de luxo vai dobrar no Brasil
Em crescimento vertiginoso, o setor de luxo segue sem sofrer com as alterações econômicas. A demanda provocou uma mudança de comportamento das marcas, que passaram a ter um olhar mais atento ao consumidor brasileiro
Por Mirela Luiz
RESUMO
• Nos últimos cinco anos houve um crescimento de 18% nesse mercado de luxo, movimentando R$ 74 bilhões em 2022
• Crescimento recente está relacionado ao aumento da população de alto poder aquisitivo
• Projeções indicam expansão anual entre 6% e 8%, setor deve chegar a R$ 133 bilhões em 2030
O conceito de luxo evoluiu significativamente ao longo do tempo, passando de um foco no consumo ostensivo de produtos caros para uma ênfase maior na qualidade e outros valores. Hoje em dia, as pessoas estão buscando produtos e marcas que ofereçam:
• autenticidade,
• exclusividade,
• experiências significativas,
• sustentabilidade.
Essa mudança de valores sociais tem impulsionado a procura por produtos de luxo que reflitam a identidade e estilo de vida dos consumidores, em vez de simplesmente focar no preço elevado.
As marcas de luxo também estão investindo cada vez mais na criação de experiências excepcionais para os clientes. Isso inclui serviços personalizados, eventos exclusivos, atendimento de alta qualidade e um envolvimento emocional.
“Os consumidores de luxo buscam estabelecer relacionamentos com as marcas, criando vínculos de fidelidade ao longo do tempo. Dessa forma, as marcas se esforçam para proporcionar uma experiência única aos seus clientes, indo além da simples transação comercial”, explica Thiago Alonso de Oliveira, CEO do grupo JHSF, dono do shopping Cidade Jardim, rede hoteleira Fasano, entre outros empreendimentos de alto padrão.
Causas da expansão
O crescimento recente desse mercado está diretamente relacionado ao aumento da população de alto poder aquisitivo.
Em 2022, o Brasil contava com 114 mil pessoas com pelo menos US$ 1 milhão em ativos líquidos, quase o dobro em comparação a 2018, quando havia 64 mil pessoas nessa faixa de renda. Além disso, o número de indivíduos com mais de US$ 100 mil em ativos líquidos também quase dobrou, passando de 670 mil para 1,2 milhão.
O estudo intitulado “A nova era de crescimento do mercado de luxo”, realizado pela consultoria Bain & Company, estima que a população de alto patrimônio líquido chegará a 133 mil em 2030, e a de indivíduos com mais de US$ 100 mil em ativos líquidos será de 1,36 milhão, com uma riqueza acumulada de US$ 1,07 trilhão.
De acordo com o levantamento da Bain & Company realizado no Brasil, nos últimos cinco anos houve um crescimento de 18% nesse mercado de luxo, movimentando R$ 74 bilhões em 2022.
Esse levantamento analisa nove segmentos desse setor:
• moda e itens pessoais,
• imóveis,
• automóveis,
• saúde,
• aeronaves privadas,
• iates,
• obras de arte,
• hotéis,
• bebidas finas.
Todos esses segmentos são geradores de empregos diretos e indiretos no País. As projeções indicam uma expansão anual entre 6% e 8%, elevando o setor para a marca de R$ 133 bilhões em 2030.
Esse crescimento é impulsionado:
• pelo aumento da renda nas classes mais privilegiadas do País,
• pela expansão do e-commerce,
• pela influência das redes sociais.
• por conta da diversificação do setor com o surgimento de novas marcas e produtos luxuosos.
“A digitalização também tem permitido que o luxo se torne mais atingível em termos de acesso à informação”, aponta Samuel Pereira, CEO da SDA Holding, estrategista de posicionamento em mercado de luxo.
O estudo da consultoria também revela os fatores que impulsionam o crescimento de cada segmento do mercado de luxo, assim como os possíveis obstáculos.
O mercado brasileiro tem atraído investimentos de empresas nacionais e estrangeiras, que enfrentaram um declínio no consumo pós-pandemia em outros países. O segmento de moda e itens pessoais cresce no Brasil a uma taxa de 8% a 10% ao ano, enquanto no restante do mundo a expansão está entre 5% e 7%.
Nos últimos anos, o mercado de luxo no Brasil tem crescido significativamente. Isso se deve, em parte, à presença de marcas internacionais que antes não estavam disponíveis no País.
Com a chegada dessas marcas, os consumidores brasileiros passaram a ter mais opções e isso influenciou seus hábitos de consumo.
“Antes da década de 90 era impossível ter uma peça das grandes marcas sem viajar para fora do País. Hoje elas estão aqui”, declara CEO do grupo JHSF.
Apesar dos desafios econômicos, o setor de luxo tem mostrado resistência devido a vários fatores. Os produtos de luxo são vistos como símbolos de status e prestígio, então mesmo durante crises econômicas, consumidores que podem adquiri-los tendem a continuar a fazê-lo.
“A demanda por produtos de luxo pode ser inelástica, o que significa que a variação nos preços tem um impacto relativamente pequeno na quantidade demandada. Para consumidores que veem esses produtos como investimentos duradouros, a decisão de compra pode não ser tão sensível às flutuações econômicas”, avalia Mercia Dias, empresária e fundadora da Mercia Alta Joalheria, empresa que atua no mercado de luxo desde 2008.
É importante ressaltar que o mercado de luxo não se limita apenas a produtos, mas também a experiências. Os consumidores de luxo buscam estabelecer relacionamentos com as marcas, criando vínculos de fidelidade ao longo do tempo.
Dessa forma, as marcas se esforçam para proporcionar uma experiência única aos seus clientes, indo além da simples transação comercial.
“A lealdade à marca, a oferta de experiências exclusivas, a ausência de descontos massivos e a constante busca por inovação e design excepcional também contribuem para a resistência do setor”
Mercia Dias, da Mercia Alta Joalheria
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