A Semana

A população leiga opina sobre saúde com a mesma certeza que escala time de futebol

Crédito: Istockphoto

Cigarro eletrônico: os diretores que abriram a consulta popular mantiveram, acertadamente, a proibição do produto (Crédito: Istockphoto)

Por Antonio Carlos Prado

Na semana passada, o Brasil exibiu duas de suas históricas características: ausência de racionalidade e gosto pelo contorcionismo social para resolver questões óbvias. A Anvisa é o órgão competente no País para dizer, pelo caminho científico, quais produtos podem ser importados, fabricados e comercializados e quais devem ser bloqueados por serem nocivos à saúde. A Anvisa vem desempenhando suas funções com desvelo e responsabilidade. Por que, então, ir buscar em consulta pública junto à população – que palpita sobre saúde com a mesma certeza que escala times de futebol – a resposta se os cigarros eletrônicos e vapes devem ser liberados? Por que fazer a consulta se os seus diretores, na própria reunião que a instauraram, mantiveram a proibição baseados em dados da ciência? A Anvisa é quem dita as regras nesse setor e não a população leiga. O seu diretor, Antonio Barra Torres, destaca que não há comprovação científica de que os cigarros eletrônicos são menos danosos que os tradicionais. Ele está certo. Equivocado é plebiscito.

2,2 milhões de brasileiros fumam vape regularmente

HOMENAGEM
Por que a “Manifestação Cultural Nacional” abriu o gás

Com meio século de atraso, na semana passada o Congresso reconheceu a importância intelectual para o País do poeta piauiense Torquato Neto — pelo conjunto de sua obra na década de 1960, ao seu trabalho foi concedido postumamente o título de “Mérito de Manifestação Cultural Nacional”. Torquato foi um dos principais formuladores do movimento Tropicália, ainda quando preservava o nome por ele dado de Anjo Torto. Denunciou a ditadura militar, com fina e inigualável ironia, como em Geleia Geral, música em parceria com Gilberto Gil. Foi também cineasta, roteirista, ator e crítico literário (jornal A Última Hora, no Rio de Janeiro). Nos últimos anos de sua vida, apesar da pouca idade submeteu-se a internações em instituições de repouso – sua depressão veio do fato de ver os amigos artistas partirem exilados ou asilados devido à ditadura militar. A solidão e a brutalidade do regime corroeram-lhe a sensibilidade. A 10 de novembro de 1972, um dia após seu aniversário, abriu o gás e respirou fundo. Tinha 28 anos de idade e uma obra intelectual que viverá para sempre. Ele é o melhor de todos. Para Torquato, Caetano compôs “Cajuína”.

Torquato Neto no filme Nosferatu no Brasil: imagens e palavras (Crédito:Divulgação)

“Eu sou como eu sou/ pronome pessoal intransferível/ do homem que iniciei/ na medida do impossível.”
Trecho de poema de Torquato Neto, escrito minutos antes da morte

HERANÇA
Justiça decidirá em janeiro sobre lucros de Aretha Franklin

Janeiro de 2024 será um mês importante e decisivo aos familiares da cantora norte-americana Aretha Franklin, falecida em 2018: a Justiça finalmente decidirá como serão repartidos os lucros, que estão sendo ainda calculados, da monumental produção artística por ela legada. Na semana passada, assim que foi anunciado pelos tribunais que o caso seria decidido, voltou-se à história mirabolante da localização do testamento da artista: manuscrito, ele foi encontrado escondido dentro de um sofá na sala de uma de suas mansões. Dá conta de uma herança de US$ 80 milhões (aproximadamente R$ 390 milhões), dos quais serão descontados US$ 6,3 milhões correspondentes à dívida em impostos com o Fisco dos EUA. Os herdeiros, além do que ganharão no mês que vem com as decisões das Cortes, já têm garantidos, até com a posse, imóveis e parte da fortuna em dinheiro. Eles são os filhos Kecalf Franklin, Ted White II e Edward Franklin, e cada um recebeu imóveis e parte da fortuna em dinheiro. Os três ficaram com a responsabilidade de sustentar o irmão mais velho, Clarence, que tem necessidades especiais e carece de auxílio em tempo integral.

Aretha Franklin: testamento manuscrito escondido dentro de um sofá (Crédito:Divulgação)

PERU
Tribunal liberta o ex-ditador Fujimori

Condenado a 25 anos de prisão por crime contra a humanidade e preso em Lima desde 2009, o ex-presidente peruano Alberto Fujimori ganhou ordem de soltura do Tribunal Constitucional de seu país. Ele foi o responsável direto, segundo a Justiça, pelo assassinato de vinte e cinco pessoas, alám de formar um “esquadrão da morte” no exército em 1991. Aos 85 anos, Fujimori está com câncer lingual e fibrilação auricular. Ele presidiu o Peru entre os anos de 1990 e 2000. A Corte ordenou a sua libertação porque ele já cumpriu cerca de dois terços da sentença.

quarta-feira 6 Fujimori deixa a cadeia: saúde comprometida (Crédito:Renato Pajuelo)