Volta ao passado

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Germano Oliveira: "Lula está estimulando a venda de carros movidos a combustível que polui o meio ambiente, quando deveria estar incentivando o transporte público, esse sim, usado pelo pobre" (Crédito: Divulgação)

 Por Germano Oliveira

Ao relançar o carro popular como um programa que supostamente pretende tornar o automóvel acessível aos pobres, Lula dá uma grande guinada de volta ao passado. Retorna aos tempos em que ele era líder sindical dos metalúrgicos do ABC e lutava para que as montadoras de veículos vendessem mais e garantissem os empregos de seus comandados. Naquele tempo, nos idos das décadas de 1970 e 1980, o carro brasileiro era uma verdadeira carroça, não tinha tecnologia embarcada, as fábricas não eram automatizadas e os trabalhadores viam-se bem remunerados pelas empresas, pressionadas pelas constantes greves — aliás, dirigidas pelo próprio Lula.

Como a indústria automobilística era composta por apenas quatro fábricas, com direito à proteção do mercado e com regras que proibiam a livre concorrência, produzia-se aqui veículos baratos como o Fusca, porque o consumidor não tinha renda para adquirir carros melhores. Diante dessa defasagem tecnológica, os metalúrgicos até conseguiam comprar o fusquinha por preços verdadeiramente populares. Mas, a partir do governo Collor, quando abriu-se o mercado aos produtores estrangeiros, a tecnologia foi elevando o padrão dos carros e, gradativamente, também seus preços, até atingirem os valores que temos hoje: um dos automóveis mais baratos do mercado custa R$ 120 mil.

Esse preço é exorbitante exatamente porque o Brasil cobra mais de 48% do seu valor em impostos, tornando o produto inacessível. Por isso, os pátios das montadoras estão abarrotados. Como nem financiamento para aquisição de um veículo é disponibilizado nos bancos, só quem está comprando automóveis é quem tem dinheiro para comprar à vista, como o próprio Lula reconheceu na Fiesp, ao lançar o seu confuso projeto. Para tornar o carro popular, o governo vai conceder descontos de impostos que vão de 1,5% a 10,96%. Lula e Alckmin acreditam que, assim, o carro brasileiro poderá passar a custar R$ 60 mil. Mas isso é popular, num País em que 80% ganham salário mínimo?

Assim, ao incentivar a venda de carros com redução de impostos, o governo vai ter que abrir mão de R$ 2 bilhões de arrecadação, num momento em que Fernando Haddad faz um esforço hercúleo para aumentar receitas e evitar o naufrágio do arcabouço fiscal. Por isso, o programa vai durar apenas três meses, como disse o ministro, prazo que não resolverá a crise do setor e ainda vai solapar o caixa do governo. Lula está voltando, dessa forma, aos tempos em que era líder sindical que só pensava no bem-estar dos trabalhadores das montadoras. Tanto assim que não imaginou nenhum programa para melhorar também as vendas de geladeiras, fogões ou eletroeletrônicos. Pior: está estimulando a venda de carros movidos a combustível que polui o meio ambiente, quando deveria estar incentivando o transporte público, esse sim, usado pelo pobre.