A mais nova “geração problema”
Por Eduardo Marini
A revista britânica The Economist, uma das mais respeitadas do mundo, publicou recentemente um artigo em sua edição impressa com um título agressivo (Envelhecer Vergonhosamente) e um alerta que merece atenção especial. A publicação identifica pessoas a partir dos 55 anos, baby boomers nascidos no pós-guerra (1946 a 1964) e uma fatia da Geração X (1965 a 1980), pioneiros de movimentos como contracultura, ativismo social, direitos civis, igualdade de gênero e preservação ambiental, como integrantes da mais nova “geração problemática” das sociedades contemporâneas.
Enquanto jovens da Geração Z se escondem atrás de celulares, computadores, da proteção de casa e das pulsões superprotetoras dos pais, cada vez mais distantes de imprudência e combustíveis psicoativos, parte considerável e preocupante de seus avôs sexo drogas e rock’n’roll, com altas milhagens de porres homéricos, resolveu, em todo o mundo, entrar e surfar na reta final da vida sem abrir mão de qualquer um desses hábitos — e ainda de muitos outros igualmente ousados.
“Entre aqueles para quem a carruagem alada do tempo se aproxima, o uso e abuso de drogas e álcool aumentaram. Como muitos eliminaram há muito tempo também a timidez dos estatutos, as doenças sexualmente transmissíveis se espalham novamente”, constata a revista, antes de enumerar exemplos que radiografam o fenômeno. Casos de gonorréia aumentaram mais de seis vezes entre os americanos de 55+ desde 2010. Encontros casuais de grupos e casais e sexo contratado sem uso de preservativo são cada vez mais comuns — e em muitos casos incentivados — nessa faixa etária.
Entre jovens adultos britânicos, a incidência de sífilis caiu 5% entre 2019 e 2023, mas aumentou 31% em pessoas a partir dos 65 anos. As principais doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) caíram 23% entre britânicos dos 15 aos 24 anos, mas aumentaram 23% na faixa 55+. De 2004 e 2023, o consumo de álcool entre os 55+ aumentou de 49% para 59%.
A partir de 2000, prisões por posse ou uso de drogas nos EUA duplicaram entre maiores de 65 anos. Entre 1992 e 2022, o percentual de homens de mais 50 anos presos nos EUA triplicou: foi de 5% para 15% e, no geral, diante da queda nas prisões em outras faixas, etárias, passou a representar 40% do total.
Existe nessa nova “geração problema” a ilusão de que, com a evolução tecnológica e as descobertas modernas (medicamento para aids, cura de doenças agressivas, evolução no combate ao câncer, evolução dos alimentos, atividade física e desenvolvimento da geriatria, entre outros ganhos) a vida vai demorar mais do que deve e adiar indefinidamente a entrega da conta. Engano brutal: é preciso combinar antes com a perfeição encantadora, mas também implacável, dos desígnios da natureza.